Noah é um gato lindo, que cresceu com uma família. Infelizmente houve um dia em que os donos decidiram que não o queriam mais, e atiraram-no para a rua. Acabou atropelado, o que o deixou a mancar. Para piorar tudo, é FIV e FeLV positivo. Neste momento está numa família de acolhimento que não pode mesmo ficar com ele, mas que tudo tem feito para arranjar-lhe uma casa.

Na página de Facebook Adopção de gatos Fiv/FeLV Portugal, pode encontrar a publicação sobre a história do Noah

A Valentina é uma gata preta de olhos verdes. Tem 3 anos e 2 meses, está esterilizada e procura uma casa onde ficar. É extremamente meiga, adora mimos e atenção, mas está há dois meses em cativeiro no Albergue de São Domingos de Benfica, que pertence à União Zoófila. Ah, mais uma coisa: dá-se bem com outros gatos, apesar de preferir as festinhas todas para ela.

A Valentina está há dois meses em cativeiro no Albergue de São Domingos de Benfica, em Lisboa

Talvez a Valentina tenha mais sorte do que o pobre Noah. Ou talvez não. A verdade é que as pessoas tendem sempre a procurar gatos bebés. Nas páginas de adoção do Facebook, ou até mesmo em anúncios no Olx ou Custo Justo, a simples foto de uma ninhada gera o caos. Toda a gente quer adotar uma cria — de tal forma que, em poucos minutos, estão todos os animais dados.

O FIV é o vírus da imunodeficiência felina. Só se transmite entre gatos (é completamente inofensiva para os humanos), e apenas quando o vírus na saliva do gato infetado é diretamente introduzido no sangue do gato saudável. À medida que a doença evolui, o sistema imunitário do animal pode ficar debilitado. O FIV não tem cura, nem vacina.

Mas porque é que isto acontece? O senso comum dá-nos algumas razões (supostamente) óbvias. É mais fácil educar um gato bebé, que vem sem truques nem manhas. Com um gato ou um cão mais velho também vamos gastar menos dinheiro, uma vez que vivem mais e têm menos problemas de saúde nos primeiros anos de adoção. E toda a gente sabe que os animais adultos praticamente não brincam. Se é para trazer um novo membro para a família, é bom que nos proporcione momentos divertidos.

O FIV é o vírus da imunodeficiência felina. Só se transmite entre gatos (é completamente inofensiva para os humanos), e apenas quando o vírus na saliva do gato infetado é diretamente introduzido no sangue do gato saudável. À medida que a doença evolui, o sistema imunitário do animal pode ficar debilitado. O FIV não tem cura, nem vacina.

É nisto que as pessoas acreditam. Mas será que faz sentido? A veterinária-cirurgiã Luisa Fechner, do Centro de Recolha Oficial de Animais de Companhia (CROAC), e criadora da startup Clã do Cão, analisa os mitos e factos sobre a adoção de um animal mais velho.

Vamos gastar mais dinheiro com um animal mais velho

Mito. "A ideia de que um animal idoso nos vai causar mais despesa é, no mínimo, um pensamento a curto prazo. Todo o animal adotado ou adquirido em bebé também vai ficar idoso em alguma altura. Além disso, os gastos com a saúde são uma variável muito imprevisível: tanto pode calhar um rafeiro que é saudável até aos 16 anos e depois morre tranquilamente na sua caminha, como pode calhar um bebé de uma raça predisposta a mil e uma patologias — como é o caso dos cães braquicéfalos, como Bulldogues e Pugs, que estão tão na moda. Obviamente também nos pode calhar um Bulldogue saudável, e um rafeiro com problemas dispendiosos. Acaba por ser uma lotaria da saúde que não se pode prender num único critério como a idade."

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Os animais mais velhos não brincam tanto

Mito. "Há cães e gatos que brincam toda a vida, e há outros que de facto só brincam na sua fase mais juvenil. Aqui cabe-nos a nós decidir o que queremos para a nossa vida. Se de facto fazemos questão de ter um cão que brinque com bolinhas toda a vida, mais vale adotar um adulto que já sabemos que brinca, do que ir buscar um bebé cruzado de cão de guarda de rebanhos (raças que brincam muito pouco em adultos) e que deixa de brincar ao fim de 10 ou 11 meses."

Um animal adulto é mais tranquilo

Verdade. "A fase de bebé tem tanto de adorável como de cansativo, e nem toda a gente tem vida para levar um cachorro à rua de três em três horas; ou simplesmente gostava de uma vida tranquila com um passeio mais longo ao fim da tarde, e não infindáveis sessões de morder mãos e pôr as patas em cima das crianças, e mil e um estragos em casa."

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É mais fácil ensinar um animal bebé

Mito. "A educação é um critério muito sobrevalorizado, especialmente por aquelas pessoas que não fazem a mais pálida ideia de como educar ou treinar um animal. É um mito persistente e que leva a muitas recusas de adoção, o que é lamentável, uma vez que tanto cães como gatos aprendem toda a vida.

É preciso é saber ensinar-lhes o que pretendemos deles, com métodos adequados e de forma coerente. Geralmente quem não sabe ensinar um adulto também não sabe ensinar um bebé, e são esses bebés que depois nos chegam aos canis e gatis sem regras nenhumas passado um ano e meio – quando já ninguém os vai querer adotar porque são adultos."

É mais difícil juntar um animal mais velho a outros animais ou crianças

Mito. "Depende muito do animal escolhido. Há inúmeros animais adultos para adoção que são excelentes com outros animais e com crianças, vítimas de divórcios, mudanças de casa e de país, etc.. Obviamente também há animais adultos que não se irão adaptar com crianças e outros animais, e é aqui que entra um bom aconselhamento de adoção e uma escolha informada do animal a adotar.

Além disso, são inúmeras as histórias de animais adotados ou comprados em bebés, que numa fase posterior da vida se começam a dar mal com outros animais ou a ter comportamentos agressivos com crianças. Mais uma vez, não depende da idade, depende de um conjunto de fatores, entre eles a sociabilização, a educação, o meio, as características da raça, entre outros.

Já para não dizer que um cachorro e uma criança muitas vezes são uma péssima parelha — a criança ainda não conhece os limites e regras de uma boa interação, o cachorro mordisca, é bruto, ou simplesmente é cilindrado pela criança como se se tratasse de um peluche. É muito melhor um cão adulto e tranquilo que goste de crianças."

Um animal adulto não é um "ovo surpresa"

Verdade. "Na minha opinião, para além da satisfação de termos dado uma chance a um animal que de outra forma não a teria, um animal adulto não é um 'ovo surpresa' - numa fase inicial teremos a certeza do aspeto e tamanho finais, se gastarmos um pouco de tempo a conhecê-lo (ir passear várias vezes, interagir em várias situações, fazer de família de acolhimento) teremos uma ideia bastante clara do que levamos para casa também a nível de carácter.