Eles têm os olhos mais doces do mundo, estão sempre prontos para brincar e são, sem sombra de dúvida, os melhores amigos do homem (desculpem, gatos). Só que às vezes também são protagonistas de grandes dores de cabeça — quem nunca exasperou com mais um chichi em casa? Ou um passeio em que é o dono a ser levado pelo cão e não o contrário? E nem vamos falar de quando chegamos à sala e está tudo destruído.
“Cão Educado, Dono Feliz” é o novo livro que promete acabar com todos os comportamentos indesejados dos cães. Alexandra Santos é especializada em comportamento canino e treino de obediência, tendo publicado vários artigos científicos e dois livros: “Cachorros” e “O Meu Cão e Eu”. No seu mais recente trabalho, propõe-se dar técnicas, dicas e treinos para resolver os problemas mais comuns dos cães.
O que fazer quando ele não responde à chamada, quando os passeios na rua são um inferno ou comer uma refeição em paz é uma utopia? E quando os braços estão sempre cheios de nódoas negras e arranhões ou conviver com outros animais é impossível? Alexandra Santos tem as respostas. Se o problema são os chichis fora do sítio ou a destruição constante (e massiva) do lar, a MAGG mostra-lhe as sugestões da autora.
O que fazer quando os cães destroem tudo em casa
"Comportamentos destrutivos levam donos ao desespero e cães a serem alvo de punições fora de tempo, o que pode piorar a situação. Antes de pensarmos em soluções, é útil identificarmos a causa. Devido a algumas situações necessitarem da intervenção de um treinador profissional, aconselho-o a procurar ajuda quando tiver dúvidas. As causas mais comuns dos comportamentos destrutivos são:
- Energia acumulada
- Tédio
- Angústia por separação do dono
- Fobia de isolamento social
- Chamada de atenção
Canse o cão em casa
Se os comportamentos destrutivos do seu cão forem causados por energia acumulada, a solução passa por lhe dar oportunidades para a gastar. Não havendo tempo para dar mais passeios ou fazer passeios mais longos, arranje 5 minutos para o cansar em casa.
- Atire bolas para o fazer correr. Sei que há muitos cães que não trazem a bola, mas o objetivo é ele correr e não fazer um jogo de busca.
- Se tiver jardim ou outro espaço amplo, pode segurar em 2 ou 3 bolas e atirar a primeira. Assim que o cão chegar à bola, atire a segunda na direção oposta; enquanto ele corre, atire a terceira bola ou vá buscar a primeira e volte a atirá‐la na direção oposta à da segunda bola.
- Faça isto durante 5 minutos. Ao fazer o jogo desta forma, o seu cão acabará por percorrer uma distância maior do que se tivesse somente de se deslocar até à bola e trazê‐la.
Jogos de tração
Se o seu cão não for fã de bolas, preferindo jogos de tração, faça-os. É um mito o que se diz sobre jogos de tração contribuírem para comportamentos agressivos. São, realmente, desaconselhados em casos de uma já existente agressividade por posse ou guarda de recursos. De resto, são ótimos para gastar energias e treinar o autocontrolo do cão.
- Numa loja de animais compre um churro, uma corda, ou um brinquedo próprio para o cão puxar uma ponta e o dono outra.
- Pegue numa ponta do brinquedo e incentive o seu cão a abocanhar a outra, o mais longe possível das suas mãos, para evitar que se entusiasme de mais e as abocanhe!
- Comece a puxar. Isto vai fazer com que o seu cão também puxe, na direção oposta.
- Às vezes deixe‐o ganhar o jogo, para evitar que fique frustrado, e outras vezes diga‐lhe para largar o brinquedo — uma ótima maneira de ensinar autocontrolo — e recomece a brincadeira.
- Repita o jogo as vezes que desejar, desde que continue a ser divertido para ambos, dono e cão.
Exercício mental
O exercício mental também é uma forma de gastar energia acumulada. Existe uma técnica de treino chamada moldagem livre (free shaping) em que ensinamos o cão a executar tarefas sem lhe dar instruções nem ajudas nenhumas. Simplesmente vamos marcando com um clicker e reforçando comportamentos progressivamente mais próximos do objetivo final.
Pelo facto de não darmos nenhuma pista ao cão, treiná-lo com esta técnica é um desafio mental que o cansa. É mais difícil executar do que compreender a moldagem livre, por isso aconselho-o a pedir ajuda a um treinador. Mas deixo-lhe um exercício para experimentar e se divertir.
- Tenha como objetivo final o seu cão ir para a cama dele.
- Comece por marcar com o clicker e reforçar todos os comportamentos dele — andar para um lado e para o outro, olhar para si, olhar para a cama, vir cheirar o seu sapato... para já, queremos que ele se mexa. Dê‐lhe a recompensa à boca. Não lhe diga nada, nem aponte para a cama, nem se posicione ao lado dela.
- Quando o seu cão já se estiver a mexer, na expetativa de ouvir o clicker e ser recompensado, torne‐se mais seletivo nos comportamentos que vai marcar e reforçar.
- Opte por marcar e reforçar tudo o que ele fizer, que esteja relacionado com a cama: olhar na direção da cama, olhar diretamente para ela, aproximar‐se mesmo que acidentalmente, passar por ela.
- Quando se tornar evidente que o seu cão já percebeu que a tarefa tem alguma coisa a ver com a cama, torne‐se um pouco mais exigente. A única ajuda que lhe pode dar, nesta fase, é atirar a recompensa para bem perto da cama em vez de continuar a dar‐lha à boca. Marque e recompense o seu cão por andar de um lado para o outro num raio de 1 metro da cama, olhar para ela, ficar a fixá‐la, cheirá‐la.
- É provável, agora que ele entendeu que a tarefa tem algo a ver com a cama e as recompensas estão a ser dadas lá perto, que ele não se afaste e até vá para a cama. Assim que isso acontecer, marque com o clicker e atire um jackpot para dentro da cama.
- A partir de agora marque e reforce somente o cheirar a cama ou ir lá para dentro e ignore tudo o resto que o seu cão fizer.
- Quando ele estiver, por sistema, a sair da cama assim que come a recompensa e a voltar para lá, introduza a pista “cama” assim que ele lá entrar.
- A cada repetição de sair e entrar na cama, vá dizendo a pista um pouco mais cedo: quando ele já lá tem uma pata dentro, quando ele já está lá ao lado, quando está a um passo de lá chegar, depois a dois passos e por aí adiante até dizer “cama” quando ele está longe.
Enquanto estiver a treinar não fale com ninguém, não atenda o telemóvel e não se distraia. Esta técnica requer 100% da nossa atenção!
O seu cão pode ser treinado para fazer quase tudo utilizando a moldagem livre. Por exemplo, se quiser ensiná-lo a ir para a cama e permanecer lá, terá de começar a trabalhar a permanência na cama. Mas o objetivo de exemplificar a técnica com este exercício é somente para o ensinar a aplicá-la como estímulo mental.
Estimule o seu cão mental e sensorialmente
Comportamentos destrutivos causados por tédio resolvem-se através de proporcionar mais estímulo mental e sensorial ao cão.
- Opte por passeá‐lo em jardins ou outros sítios com mais variedade de estímulos olfativos. Pode ir deixando cair pedaços de biscoito no chão durante o passeio para ele os localizar através do olfato.
- Em casa pode dar‐lhe as refeições em brinquedos dispensadores de comida (hoje em dia existem várias marcas e brinquedos).
- Contrate um treinador para o ensinar a distinguir objetos pelo nome e executar tarefas mentalmente estimulantes.
- Ensine‐lhe exercícios de obediência utilizando a técnica moldagem livre (com a ajuda do treinador) sempre que possível. Alguns exemplos de exercícios de obediência são: andar ao seu lado sem puxar a trela, ir para um sítio e permanecer lá, largar um objeto, vir à chamada, sentar, deitar, ficar.
Mantenha o cão entretido mesmo quando está sozinho
É um erro pensarmos que um cão entediado só precisa de estímulo mental quando está sozinho; daí ter-lhe dado estas sugestões. Mas também é um facto que precisa de ter com que se entreter enquanto está sozinho. Eis algumas sugestões:
- Se a refeição da manhã for próxima da sua hora de saída, dê-lha dentro de um brinquedo dispensador de comida imediatamente antes de sair de casa. Até a pode distribuir por 3 brinquedos dispensadores de comida, o que o manterá ocupado e entretido durante mais tempo.
- Invista em brinquedos que imitam madeira (há-os em forma de tronco, em forma de pinhas e outros). Os cães precisam de roer e muitos deles gostam de roer madeira.
- Pondere inscrevê-lo numa creche para cães, ou contratar um passeador de cães.
Chamada de atenção
Cães que destroem como forma de chamar a atenção geralmente assumem duas posturas distintas:
- Desaparecem de vista e vão destruir qualquer coisa às escondidas;
- Permanecem por perto e parecem uns radares à procura de objetos para destruir.
Há cães que chegam a olhar para nós imediatamente antes ou enquanto começam a roer um objeto.
A solução mais comum para resolver o problema da destruição como chamada de atenção, é ignorar o cão. Em teoria, esta solução está correta, porque os comportamentos que são ignorados tendem a extinguir-se. O pior é aplicá-la na prática, pois não vamos ignorar o cão que está a roer os nossos óculos, ou a rasgar um papel importante, ou a comer os nossos comprimidos. Se optarmos por ignorar o cão algumas vezes e outras não (as tais situações que não podem ser ignoradas), estamos a ensinar-lhe a persistir porque, às vezes, os comportamentos destrutivos como chamada de atenção resultam. Então, o que devemos fazer?
- Aposte na prevenção, dentro do possível e sempre que possível: dificultar o acesso do cão a papéis, óculos, comandos de televisão, etc.
- Quando o cão está consigo na sala, feche as portas dos quartos, cozinha, casas de banho, dispensa, etc., para limitar a sua “criatividade”. Ou seja, diminua o seu raio de atuação. Assim, torna‐se mais simples ignorá‐lo. A nossa tendência é focarmo‐nos em ensinar o nosso cão a fazer isto e a não fazer aquilo, ignorando o facto que existem situações em que a prevenção ou gestão desempenham um papel muito importante na resolução de um problema. A destruição como forma de chamada de atenção é uma dessas situações. Outro motivo pelo qual a prevenção e gestão são essenciais é o facto de acabarmos por dar ao cão a atenção que ele exige, nem que essa atenção seja na forma de ralhar quando o apanhamos a roer os nossos óculos ou o canto do sofá. Se formos atrás dele para tentar tirar‐lhe o comando da televisão, é um jogo — mais uma vez, estamos a dar‐lhe atenção e a recompensá‐lo pelo disparate.
- Para além da prevenção e gestão, ensine o seu cão a permanecer perto de si ou a ficar na cama dele durante uns 15 minutos. Assim, não andará de um lado para o outro à procura de coisas para desarrumar ou destruir. Um “deita” de 15 minutos frequentemente acaba com o cão a dormir, o que também é incompatível com entrar em modo de destruição. Uma ajuda neste exercício é dar ao cão um osso ou brinquedo de roer, pois isso vai ajudá‐lo a permanecer deitado mais tempo. Esse brinquedo ou osso deve ser algo que o seu cão “ama de paixão” e que só é utilizado para este fim.
- Tente, também, antecipar os comportamentos destrutivos, dando ao seu cão atenção. Desta forma estará a dar‐lhe o que ele quer antes que ele faça disparates para conseguir a sua atenção. Alguns exemplos:
- fazer‐lhe festas enquanto fala ao telemóvel;
- fazer um curto jogo de tração (há quem utilize o termo puxa‐puxa) enquanto conversa com uma visita.
O objetivo não é estar a dar atenção ao seu cão todo o tempo que está ao telemóvel ou a conversar com uma visita. Faça-o durante um minuto e depois pare. Esta estratégia não funciona com todos os cães, pois há aqueles que, assim que deixamos de interagir com eles, começam a solicitar atenção.
Existe outra estratégia, muito eficaz mas que requer muita atenção, que é informar o cão quando vai receber atenção e informá-lo quando deixa de receber atenção.
- O ideal é escolher duas palavras e utilizá-las sempre. Por exemplo, “festinhas!” imediatamente antes de começar a interagir com ele, e “feito” imediatamente antes de acabar a interação.
- A escolha das palavras fica ao critério de cada um. O importante é não escolher palavras que nos pareçam mais lógicas e que utilizamos em contextos diferentes como “acabou!” em vez de “feito”. Porquê? Para que o seu cão consiga associar uma palavra ao início da interação e outra ao seu fim, essas palavras não devem ser utilizadas noutros contextos. Por exemplo, será confuso se dissermos “acabou!” para informar que a interação vai terminar e “acabou!” quando lhe damos o último biscoito.
Quando mencionei acima que esta estratégia requer muita atenção, é porque temos de nos lembrar de informar o cão sempre que lhe vamos dar atenção e sempre que vamos parar de lha dar. Como somos criaturas de hábitos, este pode ser difícil de implementar, pois é-nos mais natural começarmos e terminarmos de brincar com o nosso cão ou fazer-lhe festas sem avisar primeiro.
O que fazer quando os cães fazem chichi no sítio errado
Logística
Exceto uma minoria e, tipicamente cães que vivem confinados a espaços pequenos, os cães evitam urinar e defecar perto do sítio onde dormem, comem, bebem, e brincam. Atendendo ao facto de uma grande maioria das pessoas ter as coisas do cão na cozinha, incluindo o resguardo onde é suposto fazer as suas necessidades, aconselho-o a ter atenção à disposição desses objetos. O resguardo deve estar o mais longe possível de tudo o resto — cama, comedouro, bebedouro, brinquedos.
Gerir o horário dos passeios e refeições
Se as refeições forem dadas a horas certas, o metabolismo do cachorro ou cão adulto torna-se mais regular e previsível, o que facilita a vida aos donos em termos de identificarem as alturas em que é provável ele precisar de urinar ou defecar. Também é preferível dar-lhe de comer primeiro e levá-lo à rua passados uns 10 ou 15 minutos. Isto porque o ato de comer acelera os movimentos peristálticos que, por sua vez, levam o cão a defecar. Caminhar também ajuda no processo. Pode acontecer, se o cachorro voltar do passeio com sede, beber água quando chegar a casa e não se aguentar até ao próximo passeio. Mas se for à rua e comer depois, aumenta a probabilidade de fazer chichi e cocó antes do próximo passeio.
É um facto que, se queremos ensinar um cachorrinho a fazer as suas necessidades só na rua, devemos levá-lo em alturas em que é provável precisar de as fazer — assim que acorda de manhã, sempre que desperta de uma sesta, durante uma sessão mais vigorosa de brincadeira, uns minutos depois de comer e de beber. Logo aqui surge o primeiro obstáculo: se o cachorrinho deve comer antes de ir à rua, como é que o levamos assim que acorda? Levamo-lo assim que acordar e outra vez depois de comer?
A questão é que, levar o cachorro à rua sempre que precisa de fazer chichi ou cocó, o que seria umas 10 vezes por dia, é impraticável para a maioria das pessoas! Embora um cão adulto tenha um controlo muito melhor do que um cachorro, se esse cão estiver habituado a fazer as suas necessidades onde calha, deveria ir à rua tantas vezes como o cachorro. Por ser impraticável para a maioria das pessoas, é preferível começar por ensinar o seu cão a fazer as necessidades na rua e em casa no resguardo, e depois só na rua.
Produtos de limpeza
Evite qualquer detergente que tenha lixívia ou amoníaco, pois têm componentes atrativos para o cão, em termos de odor. Depois de lavar a zona onde o seu cão urinou ou defecou, neutralize-a. Há cães que arranjam sítios preferenciais para fazerem as suas necessidades, sítios esses muitas vezes escolhidos pelo odor, daí a importância de neutralizar depois de lavar.
Existem soluções caseiras, como bicarbonato de sódio e vinagre diluído em água (2 copos de vinagre, 2 copos de água, 4 colheres de sopa rasas de bicarbonato de sódio), ou bicarbonato de sódio com limão e água (2 copos de água, meio copo de sumo de limão, meio copo de bicarbonato de sódio), e produtos comerciais. Prefiro as opções caseiras porque, na minha experiência, os produtos comerciais nem sempre são eficazes. Guarde a mistura num borrifador e, depois de lavar o chão, borrife umas 5 vezes e seque logo de seguida com papel de cozinha. Não use a mesma esfregona que usa para lavar o chão, senão os odores misturam-se e a solução perde eficácia.
Interromper silenciosamente
Quando apanhar o seu cachorro a fazer chichi ou cocó no sítio errado, aproxime-se rapidamente e encaminhe-o para o resguardo mais próximo, sem lhe dizer nada. A nossa tendência é logo gritar “NÃO!!!”, o que pode assustar o cachorro e inibi-lo de voltar a fazer à nossa frente mesmo que estejamos na rua ou perto do resguardo. Há muitos cães que se inibem de acabar o que começaram quando são interrompidos, por isso não vale a pena perder tempo com a célebre frase “é aqui que se faz chichi. Chichi no resguardo” se o cão não estiver a fazer.
Introduza uma palavra
Depois de ter sido interrompido e encaminhado para o resguardo, se o seu cachorro recomeçar a fazer chichi diga “chichi” umas 3 vezes enquanto ele estiver a fazer. Só assim irá associar a palavra ao ato de fazer. Se o seu cão se inibir e não fizer mais nada quando o encaminha para o resguardo, diga “chichi” enquanto ele estiver a fazer na rua ou no jardim ou noutro sítio onde possa. A palavra deve ser dita normalmente, como dizemos “senta” ou “deita” e nunca em tom de elogio. Faça isto só durante uma semana, pois o objetivo é o cão aprender que, se estiver no sítio certo e com vontade de fazer chichi e ouvir a palavra “chichi”, pode fazer.
O que fazer se não o apanhar em flagrante a urinar no sítio errado
Os castigos dados fora de tempo causam ansiedade, que pode manifestar-se na forma de mais poças de urina em casa. Bater no cachorro quando chega a casa e vê chichi por todo o lado; gritar quando entra no quarto e vê chichi no tapete; andar descalço e pisar uma poça de chichi que não faz ideia quando foi feita e ralhar com o cachorro são tudo punições fora de tempo. Nestas situações sugiro não dizer nada ao cachorro e nem sequer olhar para ele, lavar a área suja e neutralizá-la. Para além de ficar ansioso, quando um cão é punido fora de tempo pode arranjar mecanismos para ”esconder” a urina e evitar o castigo. Há cães que começam a urinar em superfícies absorventes como camas, almofadas e tapetes, ou em locais escondidos como atrás de sofás e cadeirões, ou que começam a ingerir a urina.
Apanhado em flagrante a fazer no resguardo ou jardim
Enquanto o seu cachorro estiver a fazer chichi não o elogie, mas lembre-se de dizer a palavra “chichi” se ainda não tiver passado uma semana desde que a introduziu. Como a nossa tendência é elogiar antes de recompensar, o cachorro terá aprendido que a seguir ao “que lindo!” vem a recompensa. Portanto, se o elogio sair de forma muito efusiva (que é o caso quando o cachorro, finalmente, acerta), ele pode parar de fazer e ir ter consigo para receber a recompensa. Se nada disso acontecer, pode distrair-se e não fazer tudo, acabando por esvaziar a bexiga noutro sítio. Também não vá a correr buscar a recompensa, porque isso é outra distração! Assim que o cachorro acabar de fazer chichi, comece a elogiá-lo e mantenha o elogio enquanto vai buscar a recompensa e lha dá. Desta forma, o elogio vai servir de ponte entre o comportamento — fazer chichi — e a entrega da recompensa, que é um processo mais eficaz do que dar a recompensa meio minuto depois de ele ter feito chichi.
Fez no sítio certo mas ninguém viu
Conforme acontece o seu cachorro urinar no sítio errado sem ninguém ver, também acontece urinar no sítio certo sem ninguém ver. Recompense-o à mesma, pois, mesmo não entendendo que está a ser recompensado por urinar no sítio certo, vai associar haver urina no resguardo a receber comida. Para que este processo seja eficaz, primeiro vá buscar a recompensa; depois encaminhe-o para o resguardo e aponte para o chichi; de seguida faça uma grande festa e dê-lhe a recompensa.
O que fazer se houver urina no sítio certo e no sítio errado
Este é o cenário mais comum e provável durante o processo de aprendizagem. Recompense o cachorro, primeiro, por ter feito chichi no sítio certo. Depois lave e neutralize o resto na presença dele, mas sem olhar para ele nem lhe dizer nada!
Até agora falei no que deve fazer se apanhar o seu cachorro ou cão adulto a urinar no sítio certo e no sítio errado e o que fazer se não o apanhar em flagrante. Mas o que deve fazer para o ajudar a perceber que o resguardo é o sítio certo?
Tamanho do resguardo
Lembre-se de que o seu cachorro pode ter a intenção de urinar no resguardo, mas, se este for pequeno de mais, a parte traseira do corpo pode ficar de fora enquanto cheira o resguardo e a urina cair no chão. Nestes casos, é comum haver uma poça de urina no chão ao lado do resguardo, ou meia no chão e meia num canto do resguardo. Para evitar esta situação, certifique-se de que os resguardos são suficientemente compridos. Outra situação que pode resultar no cachorro urinar fora do resguardo é a aplicação exagerada de produtos atraentes. O olfato dos cães é muitíssimo mais apurado do que o nosso, portanto se um produto atraente for aplicado em excesso, pode atuar como repelente.
Outro fator importante a tomar em consideração, que não tem nada a ver com o tamanho do resguardo, é evitar deixar que os resguardos se encham de urina, pois correrá o risco de o cachorro fazer fora por achar que ”a casa de banho” está suja de mais. É razoável, se tiver adquirido resguardos grandes e o seu cachorro for pequeno, permitir que ele faça 3 ou 4 chichis no mesmo resguardo antes de o substituir. Mas se o cachorro for grande, ou se já estiver a fazer poças grandes de urina, substitua o resguardo ao fim de 1 ou 2 chichis, no máximo.
Onde colocar os resguardos
Para além do sítio onde quer colocar o resguardo permanente, identifique outros 5 onde o seu cachorro tem tendência para fazer chichi. Ponha um resguardo em cada sítio. Não é uma opção estética, mas ao colocar resguardos em sítios preferenciais estará a aumentar as probabilidades de o cachorro urinar neles. Para além disso, será uma situação temporária. Outra vantagem de haverem vários resguardos disponíveis para o cachorro é o facto de ele nem sempre conseguir chegar ao resguardo permanente, especialmente se estiver muito longe dele, ou se a porta estiver fechada, ou se estiver muito excitado e não tiver tempo de lá chegar.
Formas de eliminar os resguardos
Depois de espalhados por sítios preferenciais, há que começar a eliminá-los até ficar só o resguardo permanente. Quais são as tendências do seu cachorro? Usar todos os resguardos que tem à sua disposição? Usar só alguns? Se os usar todos, comece a juntá-los de forma muito gradual, quase que impercetível para o cachorro, e depois a aproximá-los do resguardo permanente.
- Neste momento há o resguardo permanente na cozinha, um resguardo na entrada, dois na sala, um no corredor e mais um na sala de jantar.
- Aproxime, todos os dias, os dois resguardos na sala um do outro, 5 centímetros por dia, até se sobreporem e ficar só um. Lembre‐se de o fazer de forma tão gradual, que o cachorro nem reparará que estão a ser mudados de sítio. Se 5 centímetros já fizer diferença, aproxime‐os de 3 em 3 centímetros. Se, por outro lado, intuir que pode aproximar os resguardos um do outro 10 centímetros por dia, faça‐o.
- De seguida, veja qual é o resguardo que fica mais longe do resguardo permanente na cozinha. É o da sala de jantar? Se sim, aproxime‐o um pouco, todos os dias, do que está na sala. Mais uma vez, de forma tão gradual que a mudança será impercetível. Nesta fase a disposição é: resguardo permanente na cozinha + 1 resguardo na entrada + 1 resguardo na sala + 1 resguardo no corredor.
- Dos que permanecem, qual deles está mais longe do da cozinha? É o do corredor? Se for, aproxime‐o, todos os dias e muito gradualmente, do que ficou na sala até se sobreporem e ficar só o da sala. Agora a disposição passa a ser: resguardo permanente na cozinha + 1 resguardo na entrada + 1 resguardo na sala
- Dos três resguardos que ainda restam, qual deles está mais próximo da cozinha? É o que está na entrada? Se sim, comece a aproximar o resguardo que ficou na sala do da entrada. Mais uma vez, de forma impercetível até se sobreporem e ficar só o da entrada. Finalmente, aproxime gradualmente o resguardo da entrada do da cozinha até ficar só esse.
Use uma estratégia diferente se o seu cão ou cachorro usar só alguns dos resguardos que tem disponíveis.
- Pegando no mesmo exemplo de ter o resguardo permanente na cozinha, mais dois na sala, mais um na entrada, mais um no corredor, mais um na sala de jantar, qual é o que ele não utiliza? Um dos da sala? Está há 15 dias consecutivos sem o utilizar? Remova esse.
- Dos cinco que ficam, qual deles não é utilizado há 15 dias? O do corredor? Remova‐o.
- Desta forma gradual, vá eliminando os resguardos que o seu cachorro não utiliza até ficar só o resguardo permanente na cozinha.
Recompensar o cachorro pelos chichis feitos perto dos resguardos
Há cachorros que demoram muito tempo a começar a urinar nos resguardos. Se o seu for um deles, dê-lhe uma ajudinha, mas primeiro certifique-se de que os resguardos são suficientemente grandes para ele.
- Escolha uma área, à volta de cada resguardo, que possa ser considerada como sítio certo. Sugiro 30 centímetros.
- Comece por recompensar o cachorro por chichis feitos dentro dessa área. A tendência, ao aprender que chichis perto do resguardo resultam na entrega da recompensa, é começar a fazer no resguardo também, mesmo que acidentalmente.
- Conforme for reparando que ele faz mais chichis nessas áreas e no resguardo do que fora, comece a recompensar com menos frequência por fazer nas áreas circundantes e sempre por fazer no resguardo.
- Elimine as recompensas ao longo de duas semanas, substituindo‐as por elogios ou festas.
- Passadas as duas semanas, passe a recompensar o seu cachorro por urinar só no resguardo.
Treino na rua
O seu cachorro vai começar a ir à rua antes de se conseguir controlar de forma a urinar e defecar só na rua. Mas como são mais as vezes que vai estar em casa nas alturas em que precisa de fazer as suas necessidades do que na rua, existe uma grande probabilidade de ele aprender que a rua é para passear e as necessidades são para ser feitas em casa. Se o levar à rua numa altura em que é provável ele precisar de urinar, lembre-se de dizer “chichi”, que é a pista para ele urinar se tiver vontade. Assim que ele acabar, faça uma grande festa e recompense-o. Sugiro dar uma recompensa mais forte na rua do que em casa.
Quando reparar na tendência para o seu cachorro urinar e defecar mais vezes na rua do que em casa, seja devido ao treino ou por começar a controlar melhor os esfíncteres uretral e anal, deixe ficar o resguardo à mesma, não vá ele precisar de o usar por não estar ninguém em casa para o levar à rua, mas comece a recompensar menos vezes. Vá reduzindo as recompensas ao longo de 3 semanas, continuando a recompensar sempre que fizer as necessidades na rua. Só quando ele raramente urinar ou defecar no resguardo é que deve pensar em deixar de o recompensar na rua também.
À semelhança do que fez em relação a deixar de recompensar em casa, vá retirando as recompensas na rua ao longo de 3 semanas. Admito que sou cautelosa com esta questão de retirar as recompensas, porque já vi muitos casos de retrocesso pelas recompensas terem sido retiradas cedo ou depressa de mais!
Há cachorros que aprendem mais facilmente do que outros, por isso não vos posso dar um limite temporal para esta aprendizagem. A forma como a aprendizagem se manifesta também varia de cachorro para cachorro. Há os que parece que já nascem ensinados, há os que parece que nunca mais aprendem e, de repente, fazem tudo certo, e há os que vão fazendo bem e mal até fazerem sempre bem. Aliado a isto há a nossa impaciência, que nos leva a mudar de estratégia se não virmos melhorias ao fim de 2 ou 3 dias. Estas mudanças só servem para confundir o cachorro e atrasar o processo de aprendizagem. Portanto, a minha sugestão é usarem a mesma estratégia durante 2 semanas seguidas antes de tentarem outra."