Nos últimos tempos, já deve ter ouvido a palavra "Worldcoin". Também pode ter-se apercebido de que há pessoas a "venderem a íris". Afinal, que implicações tem isto? De onde surgiu esta nova "moda"? É mesmo possível ganhar dinheiro com a prática? É sequer segura?

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Se tem visto aglomerados de pessoas a formarem filas em centros comerciais ou se tem sido abordado por jovens que o tentam aliciar a ganhar dinheiro fácil e rápido, é possível que já se tenha cruzado com a Worldcoin, que, a cada dia, cresce cada vez mais.

A MAGG resume-lhe, em 10 pontos, do que se trata este esquema que já chegou a Portugal (e de que maneira). Perceba o que está em causa e o risco que corre se aceitar vender os seus dados biométricos. Entenda, ainda, quem sai a ganhar com toda esta história.

1. O que está na origem?

Por várias zonas do Mundo estão a ser recolhidos dados biométricos dos cidadãos através da leitura da íris, a troco de pagamento. O processo é levado a cabo pela plataforma Worldcoin, criada em 2019 por Sam Altman, fundador da OpenAI, a empresa que desenvolveu o ChatGPT.

2. Porquê a íris?

Afinal, qual é a importância da íris? Que valor tem esta zona mais visível do olho de cada um de nós? Assim como a nossa impressão digital, também a íris é única — e ainda mais valiosa, já que contém mais dados. Permite distinguir os seres humanos e provar que o são, na era digital.

3. É possível ganhar dinheiro?

Sim. O pagamento é feito numa criptomoeda, que foi lançada no verão de 2023 e que, no último mês, já valorizou mais de 200%. A Worldcoin tem estado a oferecer 10 tokens WLD, que equivalem a cerca de 70 euros, pela leitura da íris, segundo a "RFM". A partir da leitura, há quem esteja a ganhar mais.

Este processo aparentemente descomplicado começa quando descarrega a aplicação WorldApp, que lhe permitirá fazer pagamentos, compras e transferências com criptomoedas. É aqui que vai receber o pagamento da Worldcoin, depois de fazer a leitura da íris.

Estas moedas digitais podem ser armazenadas, trocadas por outras criptomoedas ou convertidas em euros. No dia seguinte, já pode transferi-las para a conta bancária. Se convidar outras pessoas a aderir, pode receber até 25 moedas. Caso mantenha a app ativa, de duas em duas semanas, receberá outras três, explica o "Expresso".

4. Onde estão a decorrer as leituras?

A recolha destes dados pessoais tem sido feita em stands colocados em locais de afluência de pessoas, como paragens de transportes públicos ou centros comerciais. Atualmente, a Worldcoin está espalhada por 17 pontos em Portugal, tendo o primeiro sido o UBBO, centro comercial na Amadora.

Outro dos sítios onde encontra jovens a venderem os seus dados é a Gare do Oriente, no Parque das Nações, também em Lisboa. Estão em Matosinhos, na Maia, em Braga, em Lisboa, no Montijo, em Loures, no Seixal, em Setúbal, em Vila Nova de Gaia, no Porto, em Aveiro, em Rio Tinto e em Almada, de acordo com o "Expresso".

5. O que preciso de fazer?

Estas leituras acontecem de forma quase imediata, recorrendo a uma tecnologia chamada Orb, que transforma a imagem num código. A partir daqui, será criado um "passaporte digital". Depois de ser atentido, o indivíduo olhará para uma esfera grande, que captará a imagem.

worldcoin
worldcoin Este é o mecanismo que vai ler a sua íris. créditos: Facebook

De acordo com os funcionários, a imagem é, depois, apagada, menciona o "ZAP". "Não foi preciso registar-me em nada, não tive de dar dados pessoais, só tive de pôr o número de telefone na aplicação", disse um cliente ao mesmo site, garantindo a facilidade do processo.

6. É seguro?

Os dados biométricos são as características físicas, biológicas ou comportamentais únicas de um indivíduo, cada vez mais utilizadas para identificação, por exemplo em sistemas de segurança e autenticação de identidade. Por este motivo, são considerados informação sensível.

O processo não é considerado seguro, já que pode pôr em causa a segurança e a privacidade dos seus dados (inclusive de saúde). Já foram feitas várias denúncias acerca deste esquema, que, à partida, é aliciante, uma vez que se trata, numa primeira análise, de dinheiro fácil e rápido.

Deste modo, e uma vez que não há qualquer auditoria independente ou entidade externa que comprove as promessas da Worldcoin, assim como relembra a DECO Proteste, ao aceitar que lhe leiam a íris, corre o risco de sofrer roubo de identidade.

Ao submeter-se a este processo, não está livre de que os seus dados caiam em mãos erradas, sejam negociados ou vítima de fugas de informação.

7. Para que servem os meus dados?

Com estas leituras, a Worldcoin pretende distribuir esta nova criptomoeda de modo a criar uma "rede financeira mundial" que consiga garantir a distribuição por cada pessoa de um futuro rendimento básico universal e também para constituir um sistema de identificação mundial robusto, que consiga certificar, de forma digital, a identidade de uma pessoa.

Assim, será possível comprovar não só que não é uma máquina, como que nenhum ser humano se está a fazer passar por si. São estas as explicações da empresa, assim como conta o "Expresso". Mas serão estas as verdadeiras motivações? Essa resposta ainda está por apurar.

8. Os menores de idade podem estar envolvidos?

Mesmo que a Worldcoin tenha definido que apenas maiores de 18 podem fazer a leitura da íris, não é exigida aos utilizadores a apresentação de qualquer documento de identificação, confirma o "Expresso". Por esse motivo, nos registos da plataforma, já se encontram vários menores.

9. Qual é a dimensão deste projeto?

Já foram recolhidos pela Worldcoin dados em mais de 20 países e de mais de 3,7 milhões de pessoas, conforme aponta o "Expresso". Segundo a empresa, a mesma opera em dez: Portugal, Espanha, Alemanha, Argentina, Chile, Estados Unidos, Japão, México, Coreia do Sul e Singapura.

10. É legal?

Só em Portugal, esta empresa já recolheu dados biométricos de 300 mil pessoas, avança o "Expresso". Esta semana, a Agência Espanhola de Proteção de Dados (AEPD) ordenou a suspensão da atividade da Worldcoin, tornando-se ilegal qualquer atividade da empresa que tenha como fim recolher dados pessoais em Espanha, afirma a "RTP".

É possível que o mesmo aconteça em Portugal, já que a Comissão Nacional de Proteção de Dados está a investigar a Worldcoin desde o ano passado. Esta sexta-feira, 8 de março, a CNPD garantiu que a investigação está "em fase decisória" e que existe uma "grande preocupação" com a recolha de dados de cidadãos menores, cita o "Eco".