26 anos se passaram desde que Diana Spencer, princesa de Gales, sofreu um acidente de carro que culminou na sua morte. Numa tentativa de escapar à perseguição dos paparazzi, o fatídico acontecimento teve lugar no túnel da Ponte de l'Alma, em Paris, França, vitimando também o namorado, Dodi Al-Fayed, e o motorista. Apenas o guarda-costas sobreviveu para contar a história, no dia 31 de agosto de 1997.

Diana morreu aos 36 anos, e deixou para trás dois filhos, a família que deles adveio e "um incontornável legado", segundo Alberto Miranda, especialista em famílias reais, jornalista e autor do livro "As Dez Monarquias da Europa".

Alberto Miranda
Alberto Miranda, jornalista e especialista em temas relacionados créditos: Nuno de Albuquerque Gaspar

O que é certo é que, 26 anos depois, continuamos a falar de Diana como se ainda estivesse presente – mas porque é que esta figura continua a conquistar o coração das pessoas, geração após geração? Alberto Miranda, à conversa com a MAGG, respondeu a estas questões.

Da introdução na família real a cumprir a sua missão

Ainda que a família Spencer não fosse uma forasteira no mundo aristocrata, Diana chegou ao seio da realeza com apenas 19 anos e consigo trazia ventos de mudança. Não que, por essa altura, já tivesse feito alguma coisa que assim o antecipasse, mas porque contrastava, desde logo, com as mulheres da família real, que "eram consideradas um bocadinho old fashioned [à moda antiga]", segundo Alberto Miranda.

Por isso, com uma aparência dissonante (loira, de olhos azuis) e com roupas de cores vibrantes e cortes atípicos (muitas vezes, inconcebíveis até para a família real), Diana foi ganhando projeção. Essa beleza "magnética" fez com que se tornasse a mulher mais fotografada do século XX, uma vez que, "desde que foi apresentada como noiva do príncipe Carlos até à sua morte, não parou de ser fotografada diariamente", frisa o especialista.

E, a par e passo, foi caindo nas graças do povo. O casamento com o príncipe Carlos, em 1981, foi um momento-chave para imortalizar a princesa. Isto porque "o poder atrativo da monarquia é o facto de os súbditos olharem para a família real como se fosse a sua própria família", esclarece o jornalista. Assim, este "poder de identificação" faz com que as pessoas chorem com as derrotas e se alegrem com as conquistas da família real – e sem dúvida de que o casamento "foi um momento de júbilo para o Reino Unido e para a Commonwealth", acrescenta Alberto Miranda.

Esse mesmo júbilo voltou a fazer-se sentir com o nascimento dos filhos, William e Harry, "um legado muito importante que Diana deixou para o país", enfatiza o especialista. Então, ao dar herdeiros ao trono, "cumpriu a sua missão de princesa, assegurando a continuidade dos Windsor", acrescenta.

Mais do que princesa de Gales, era a "princesa do povo"

Diana tornou-se tão adorada pelo seu carisma, vida e trabalho que passou a ser observada em todos os momentos da sua vida pública (e mesmo naqueles que desejava terem sido pautados por uma maior privacidade). Tornou-se uma influenciadora daquela época, que inspirava gerações por "ter usado a sua imagem a favor das causas sociais, humanitárias", afirma o especialista. Este é um aspeto que se mantém vivo no imaginário coletivo e que alicerça, quase três décadas depois, a forma tão positiva como as pessoas olham para esta figura.

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Por isso, se detém o título de "princesa do povo", é porque por ele fez alguma coisa. Quem não se lembra das imagens de Diana a usar capacete de proteção, enquanto se aventurava por um campo de minas terrestres em Angola? De seguida, ainda quis conhecer crianças que perderam partes do corpo em acidentes com minas – e essa visita resultou na abolição dos explosivos, um ano depois.

"Pioneira em desconstruir mitos e preconceitos", lembra Alberto Miranda, em 1991 fez aquilo que, à época, era impensável: apertou a mão, sem recorrer a luvas, a um doente com SIDA, um momento que rodou o mundo. Ainda na área da saúde, Diana sempre se mostrou pronta a visitar hospitais, tendo também tido várias interações com vítimas de cancro ou lepra – e essas atitudes fizeram com que todos caíssem aos pés deste membro da família real, já que os outros não o faziam com tanta espontaneidade.

Revolucionária em vida e na morte

Diana morreu em Paris, enquanto a família real passava férias na Escócia, no histórico castelo de Balmoral. "Para a rainha, a morte de Diana já não era um assunto da monarquia britânica, era um assunto da família Spencer – porque, com o divórcio, ela deixou de pertencer à família real", frisa o especialista.

Assim que a notícia veio a público, uma onda de consternação inundou o Reino Unido, levando toda a gente a depositar flores à porta do palácio de Kensington, onde a princesa vivia. Passo a passo, os ramos de flores que eram deixados no chão multiplicavam-se, até a calçada se perder de vista. O mesmo começou a acontecer nas imediações do palácio de Buckingham.

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No meio destas homenagens, Isabel II nunca se pronunciou, uma atitude que foi encarada com uma certa incompreensão por partes dos súbditos e que acabou por fazer a monarquia tremer. "Foi um duro golpe na popularidade da rainha", realça Alberto Miranda.

Só nas cerimónias fúnebres é que Isabel II discursou para a nação "de uma forma bem pensada". Fê-lo dentro do palácio, virada para a rua e para a estátua da rainha Vitória, enquanto observava, em tempo real, as pessoas a passar. No discurso, a rainha referiu-se a Diana como "um ser adorável" – e só assim a monarca percebeu que, se não estivesse próxima do povo, que tanto adorava a princesa, ele iria desencantar-se com a monarquia.

Por isso, esta é mais uma das razões pelas quais Diana se popularizou: porque "até na morte foi revolucionária", clarifica o jornalista.

Das séries aos filmes, passando pelos documentários e páginas de Instagram

Se há algo que também tem um grande peso na manutenção da popularidade de Diana é o conteúdo que se produz, até aos dias de hoje, do qual a princesa é a protagonista. "25 anos depois, a sua popularidade é tal que a indústria cinematográfica e outras produções ainda lhe dão destaque. Diana continua a estar na agenda mediática", aponta Alberto Miranda.

Apesar de terem por base acontecimentos reais, nem tudo nestas produções é factual, certamente. No entanto, "a tentativa de reconstruir o que aconteceu e de aproximação ao real significa que Diana não foi esquecida e que a sua personagem pública está muito presente", acrescenta o especialista.

Assim, embora não tenha sido "figura de consensos", devido aos ideais progressistas que tentou infiltrar na corte, Alberto Miranda considera "que o grande público continua a ter de Diana uma imagem muito positiva" e que "a força contrária não teve expressão a nível público". Isto porque Lady Di conseguiu tornar-se numa das figuras da monarquia de quem as pessoas se "sentiam muito próximas".

O especialista ainda aponta que "o facto de haver contas no Instagram a fazer montagens de Diana com os filhos, com as noras e com os netos" adensa essa perceção do quão querida era à escala planetária, fazendo com que todos tivessem o desejo de a ver perto dos membros da família que não teve oportunidade de conhecer.

E, ainda que seja especulação, Alberto Miranda refere que, se estivesse viva, "o legado de Diana ia ser continuado – é, aliás, continuado pelos filhos e não só". Acrescenta ainda que "o trabalho ia continuar a ser feito, usando a sua imagem para dar visibilidade às causas de difícil resolução, mas que urgem uma atuação de dirigentes políticos. E, perante esse perplexidade e essa inação dos dirigentes, ela estava lá".

Assim, em jeito de conclusão, o especialista afirma com toda a convicção: "Diana é uma mulher lendária na história da monarquia britânica".

(artigo publicado originalmente em agosto de 2022 e atualizado a 31 de agosto de 2023)