Informações dos serviços secretos avançam que a Rússia está a planear "a maior guerra na Europa desde 1945" e que todos os sinais indicam "que o plano já começou em alguns sentidos", afirma o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson. Depois de semanas de especulação, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, garante estar "convencido" de que a Rússia prepara-se para invadir a Ucrânia e vai mais longe: avança que há um plano em marcha que inclui ataques híbridos, que podem oscilar entre a força física e ciberataques.

Governo aconselha portugueses a saírem da Ucrânia "enquanto o podem fazer pelas vias normais"
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Os Estados Unidos já informaram as Nações Unidas de que têm informações fidedignas ​​que mostram que Moscovo está a compilar "listas de ucranianos para serem assassinados ou enviados para campos depois de uma ocupação militar", de acordo com uma carta endereçada a Michelle Bachelet, alta comissária da Organização das Nações Unidas (ONU) para os direitos humanos, obtida pelo "The Washington Post", na noite de domingo, 20 de fevereiro.

Na mesma carta, Bathsheba Crocker, embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, alega que o plano para uma pós-invasão da Rússia inclui torturas, desaparecimentos forçados e "sofrimento humano generalizado".

No entanto, durante uma conferência de imprensa nesta segunda-feira, 21 de fevereiro, o porta-voz do Kremlin (complexo fortificado no centro da capital russa, que serve de residência oficial do presidente da Federação Russa), Dmitry Peskov, negou as alegações da carta enviada pelos EUA à ONU, avança o jornal "Público". "Entendem que isto é uma mentira? É ficção absoluta. Não existe nenhuma lista. É uma farsa", disse Peskov.

Ao contrário do que os Estados Unidos e o Reino Unido alegam, o presidente russo, Vladimir Putin, negou já ter tomado uma decisão final face à invasão da Ucrânia, mas um contingente com cerca de 150 mil soldados russos já marca presença junto à fronteira.

Soldado ucraniano morto em combate no leste do país. Notícia foi avançada pelo exército
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Putin já alegou que não quer guerra e que está disposto a negociar. Mas já encerrou os acordos de paz com a Ucrânia e reconheceu as áreas separatistas (a República Popular de Donetsk e a República Popular de Luhansk) como independentes, o que inviabiliza quaisquer negociações. À hora de publicação deste artigo, na Ucrânia, já há civis que pedem treinos de guerra, criança com planos de fuga decorados, pessoas com malas feitas e embaixadas vazias, mas ainda não foi confirmada qualquer invasão.

Os meios de comunicação internacionais já confirmaram cinco mortes de soldados russos na sequência de um alegado ataque por parte da Ucrânia, mas a informação foi desmentida pelos serviços militares da Rússia. "Não há vítimas", garantem. Ainda assim, "na sequência de um bombardeamento, um soldado ucraniano foi mortalmente ferido", afirmou o comando militar para o leste da Ucrânia, elevando os rumores de uma invasão russa. O soldado foi morto este sábado, 19 de fevereiro.

O interesse russo na Ucrânia

Há várias motivos, mas olhando para o mapa identificamos rapidamente um deles. Não existe uma fronteira natural entre a Rússia e o resto da Europa, já que não há qualquer rio, mar ou região montanhosa a dividir fisicamente o território. O que há é apenas uma grande planície, onde ficam países como a Ucrânia e a Bielorrússia – o que, do ponto de vista militar, é um ponto fraco da Rússia, que deixa o país vulnerável a possíveis ataques externos. E é precisamente por isso que Moscovo quer manter os seus "vizinhos" longe da influência de qualquer adversário.

A Ucrânia e a Rússia sempre tiveram laços muito próximos. Ambas fizeram parte da União Soviética, que terminou em 1991, mas, desde então, a Ucrânia foi-se aproximando gradualmente da Europa Ocidental e mostrou até interesse em juntar-se à NATO, a aliança militar que reúne os Estados Unidos e países europeus (como Portugal).

E apesar de a Guerra Fria já ter terminado, a Rússia continua a ver-se como uma grande potência adversária dos Estados Unidos e não aceitou bem o alargamento da NATO a países como a Letónia, Estónia, Polónia ou Lituânia. Afinal, quanto mais forte a presença desta aliança militar a leste, mais vulnerável a Rússia tende a ficar. No limite, há motivações estratégicas. Mas não só.

E é aqui que entra a Crimeia. Para muitos russos, a península da Crimeia nunca foi realmente vista como parte da Ucrânia. No entanto, em 2014, a Rússia decidiu invadir e anexar oficialmente essa mesma região e apoiar militarmente Donbass, que é outra região da Ucrânia onde se fala russo e que fica mesmo junto à fronteira.

Depois da anexação do território ucraniano, os países vizinhos ficaram em alerta e a NATO fez questão de reforçar a sua presença. Decisão que a Rússia interpretou como uma ameaça e intensificou a tensão não só entre a Rússia e a Ucrânia, como entre a Rússia e a NATO.

Porque é que a Rússia quer invadir outra vez a Ucrânia?

Apesar de ainda não ser certo que a invasão aconteça, a Rússia quer que os Estados Unidos garantam, por escrito, que a Ucrânia nunca fará parte da NATO.

Até agora, os Estados Unidos e os aliados europeus não cederam e já confirmaram que Moscovo poderá pagar um preço elevado se partir mesmo para uma invasão militar à Ucrânia.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, está a considerar um pedido do ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros de cortar relações diplomáticas com a Rússia. Numa conferência de imprensa, que aconteceu durante a manhã desta terça-feira, 22, Zelensky apelou aos aliados ocidentais que não percam tempo em aplicar sanções económicas contra Moscovo, apesar de acreditar que um conflito de larga escala não está em cima da mesa. No entanto, o presidente ucraniano diz estar pronto para impor lei marcial caso um conflito com a Rússia acabe por ter lugar.

Ainda assim, os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia vão analisar, esta terça-feira, em Paris, a imposição de sanções à Rússia, já confirmou o alto responsável para a Política Externa e Segurança, Josep Borrell, como avança o "Jornal de Negócios".

"Já estamos a trabalhar na preparação dos textos e, esta tarde o Conselho vai decidir as sanções", afirmou Borrell, salvaguardando que "tal não significa que hoje se venham a tomar todas as decisões"."Vamos tomar as decisões de urgência, para uma resposta imediata", declarou, não especificando que tipo de sanções podem vir a ser aplicadas.

E os Estados Unidos seguem o mesmo caminho. "Amanhã, os Estados Unidos vão impor sanções contra a Rússia face à clara violação da lei internacional e da soberania e integridade dos territórios da Ucrânia", confirmou a embaixadora dos EUA na ONU, depois de uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, realizada na noite desta segunda-feira, 21.

Ainda sem qualquer horário oficial para a divulgação das sanções dos Estados Unidos e da Europa à Rússia, tudo indica que os próximos passos serão conhecidos durante a tarde desta terça-feira, 22.