Alexandra Ocasio-Cortez, membro da Casa dos Representantes e congressista democrata pelo estado de Nova Iorque, falou na segunda-feira, 1 de fevereiro, através de um direto no seu Instagram, sobre o facto de ter sido uma das presentes na invasão do Capitólio, a 6 de fevereiro, e sobre como esta experiência a relembrou da sua história como sobrevivente de um ataque sexual.
Na transmissão, que durou cerca de 1h30 e está agora disponível na sua conta de Instagram, Ocasio-Cortez começa por relatar os acontecimentos de 6 de janeiro: escondeu-se numa casa de banho do seu escritório quando os manifestantes invadiram o capitólio. Enquanto homens batiam nas paredes, ouviu um dos invasores a dizer: “Onde é que ela está? Onde é que ela está?”.
Temeu pela sua vida, admitiu à audiência com mais de 150 mil pessoas que assistiam ao seu direto. “Pensei que ia morrer”, disse. “Tive muitos pensamentos. Se este for o meu plano, as pessoas vão conseguir assumir a partir daqui.”
Depois deste acontecimento, aconselharam-na a “seguir em frente”. E é aí que Cortez faz a ponte para outro episódio: esse conselho, admite, deixa-a frustrada, sendo a mesma sugestão que tendencialmente se faz a sobreviventes de agressões sexuais.
“Estas pessoas dizem-nos para seguir em frente, que não é nada de especial, que devemos esquecer o que aconteceu, e até nos dizem que nos devemos perdoar — essas são as mesmas táticas dos abusadores”, disse. “Eu sou uma sobrevivente de um ataque sexual”, admite. “E eu não contei a muitas pessoas na minha vida. Mas quando passamos por um traumas, os traumas acumulam-se.”
O incidente de 6 de fevereiro aconteceu depois da recém-eleita congressista do distrito de Nova Iorque ter regressado ao escritório, após ter recebido a vacina contra a COVID-19. “Eu percebi logo que não devia ter ido para a casa de banho. Eu devia ter entrado no armário”, disse. “Depois ouvi que alguém a abrir a porta do meu escritório, e a gritar outra vez: 'Onde é que ela está?'", conta. “Foi nesse momento que achei que tudo tinha acabado. Pensei que ia morrer.”
De lágrimas nos olhos, a congressista continuou a relatar: “Comecei a olhar para a dobradiça da porta e consegui ver alguma coisa. Vejo este homem branco com um gorro preto que gritou novamente”, lembra. “Nunca estive tão quieta em toda a minha vida.”
Entretanto, um funcionário veio dizer que já era seguro sair da casa de banho. Ao sair da casa de banho, também viu um polícia. "Ele estava a olhar para mim com imenso zanga e hostilidade", conta.
"Primeiro, no meu cérebro e mente, pensei que como tinha vindo de uma experiência intensa, se calhar estava a projetar alguma coisa", acrescenta. Só que, ao falar com o colega, viu que o sentimento eram comum: "Ele também não sabia se ele estava lá para ajudar." "A situação parecia tão volátil com este policia, que eu agarrei na minha mala e começámos a correr", relembra.
Sem escolta policial, foi procurar abrigo nos escritórios da representante da Califórnia, Katie Porter.
O facto de ser latina e de os invasores serem supremacistas brancos e extremistas fez com que temesse ainda mais pela sua vida. Além disso, Ocasio-Cortez, que cumpre agora o seu segundo mandato no distrito de Nova Iorque, que engloba também parte do Queens e Bronx, está entre as pessoas eleitas com maior destaque do Partido Democrata.
Após os ataques, foi uma das que condenou fortemente Donald Trump por ter incitado os distúrbios, assim como a sua administração, que não evocou a 25.ª emenda para destituí-lo e removê-lo do seu posto. Esta medida constitucional é o último recurso para retirar os direitos e poderes a um presidente.