77 anos após a morte da menina que contou os horrores do Holocausto num diário, uma nova investigação aponta um homem judeu de Amesterdão como o traidor da família Frank — que foi descoberta, presa pela polícia e enviada para campos de concentração em 1944, quando se escondia dos nazis.

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Durante seis anos, uma equipa formada por historiadores, um ex-agente do FBI e outros especialistas usou técnicas de investigação modernas, como a utilização de algoritmos informáticos para procurar ligações entre diversas pessoas, com o principal objetivo de desvendar o alegado caso arquivado.

E esta segunda-feira, 17 de janeiro, chega a primeira teoria pública da nova investigação, que aponta Arnold van den Bergh, um homem judeu de renome em Amesterdão, como principal suspeito. 

Segundo dados recentes, Arnold van den Bergh terá denunciado a família Frank para salvar a sua própria família. Mas as revelações não ficam por aqui e há dados mais fortes que sustentam a acusação.

Van den Bergh foi membro do Conselho Judaico de Amsterdão, um órgão forçado a implementar a política nazi em áreas judaicas, que foi dissolvido em 1943 e cujos membros foram enviados para campos de concentração. No entanto, a equipa descobriu que Arnold não foi enviado para nenhum campo e continuou a sua vida normal em Amesterdão, até à sua morte em 1950.

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"Quando Van den Bergh perdeu toda as proteções que o isentavam de ir para os campos, teve que fornecer algo valioso aos nazis com quem teve contacto para que tanto ele como a sua esposa, naquele momento, ficassem em segurança", disse o ex-agente do FBI, Vince Pankoke, em declarações ao programa CBS 60 Minutes.

A equipa de investigadores revelou também ter encontrado evidências que sugeriam que Otto Frank, o pai de Anne, sabia quem era o traidor, mas tinha mantido esta informação em segredo. Nos arquivos de um investigador anterior, a atual equipa de investigação encontrou uma cópia de uma nota anónima, enviada a Otto Frank, que identificava Arnold van den Bergh como o seu traidor.

"Mas temos de ter em mente que o facto de [Van den Bergh] ser judeu só mostra que foi colocado numa posição insustentável pelos nazis para fazer algo para salvar a sua vida", defende Vince Pankoke, que considera que o antissemitismo pode ter sido o motivo pelo qual Otto Frank escolheu guardar segredo.

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Num comunicado, o museu da Casa de Anne Frank, em Amesterdão, diz estar "impressionado" com as descobertas da equipa de investigação. O diretor executivo, Ronald Leopold, acrescenta que a nova pesquisa "gerou novas informações importantes e uma hipótese fascinante que merece mais pesquisas".

O museu diz não estar envolvido de forma direta na investigação, mas garante que partilhou todos os seus arquivos com a equipa de especialistas.

A nova investigação deu origem ao livro "The Betrayal of Anne Frank : A Cold Case Investigation" de Rosemary Sullivan, que será oficialmente lançado em Portugal esta terça-feira, 18 de janeiro. Até à data, o livro está apenas disponível em versão digital na Fnac, em formato e-book em inglês, por 14, 94€ (P.V.P).

Recorde-se de que Anne Frank foi detida em 4 de agosto de 1944 com as sete pessoas com quem estava escondida no Anexo Secreto, em Amesterdão. Viria a morrer no ano seguinte, em 1945, no campo de Bergen Belsen. O seu diário, publicado após a sua morte, é um dos mais importantes relatos na primeira pessoa da vida judaica durante a II Guerra Mundial.