Aos 14 anos, há meninas que ainda não conseguiram tirar todas as bonecas do quarto. Quando ninguém está a ver, ainda são capazes de se sentar no chão e brincar um bocadinho com elas, nem que seja para matar saudades dos tempos da infância.
Aos 14 anos, ver televisão é um dos desportos favoritos, assim como falar ao telefone com as amigas ou trocar os primeiros beijos atrás do pavilhão. Ainda não são adolescentes por inteiro, mas também sabem que já não são crianças. É uma dicotomia um bocadinho estranha às vezes, mas lá acaba por se resolver.
Aos 14 anos, a vida ainda está mesmo no início. No caso de Rachel Smyth, porém, foi aos 14 anos que lhe puseram Kyle pela primeira vez nos braços. A jovem natural de Glenburm, na Escócia, foi mãe cedo, muito cedo, mas garante que nunca se arrependeu da decisão. Apesar de ter lutado para acabar os estudos, passado fome e debatido-se com o desemprego, tudo valeu a pena. A associação Prince's Trust considerou o seu esforço louvável e ofereceu-lhe o prémio Rising Star Award.
"Foi uma das decisões mais difíceis que tomei na vida", contou Rachel Smyth, 23 anos, ao "Mirror". "Mas sempre soube que nunca me iria perdoar se abortasse". Smyth só se apercebeu de que estava grávida no terceiro mês de gestação. Tinha usado sempre proteção, exceto "naquela única vez". Foi o suficiente para engravidar.
Dois meses antes do esperado, nas férias da escola, Rachel entrou em trabalho de parto. "Fiz uma cesariana de emergência e de repente já não estava grávida", continua. Ver o filho cheio de tubos foi dramático, relembra, acrescentando que o dia em que o trouxe para casa "foi o mais feliz da sua vida".
A relação com o namorado terminou quando Kyle nasceu. Ainda assim, ele fazia um esforço por ser um pai presente, assim como os seus pais. Quando era necessário, eles cuidavam do neto para que Rachel continuasse a ir à escola.
Toda a gente achava que Rachel Smyth ia chumbar. Com esforço e determinação, porém, ela passou em todos os exames. Os pais eram uma ajuda durante o dia, mas à noite era ela quem se levantava. Sempre. Quando acabou os estudos, Rachel decidiu tirar o curso de cabeleireira.
Foi nessa altura que decidiu também sair de casa. Com a bolsa da escola, era capaz de ter finalmente um espaço para si e para o filho. Mas nem sempre era fácil — enquanto os colegas se divertiam na noite, ela tinha de ficar a cuidar de Kyle.
Quando terminou o curso, Rachel Smyth debateu-se com a dificuldade de encontrar emprego. "Comecei a ficar sem dinheiro e muitas vezes deixava de comer para que não faltasse nada ao Kyle", contou. "Às vezes estava tão apertada de dinheiro que não conseguia gastar eletricidade para aquecer a casa e só comia uma refeição por dia para que o Kyle pudesse comer três."
Foi o JobCentre, uma espécie de IEFP no Reino Unido, que a aconselhou a aderir ao programa Get into Healthcare, da Prince's Trust. Apesar de nunca ter pensado em trabalhar na área da saúde, aceitou. Hoje, Rachel é assistente de cuidados de saúde no hospital infantil em Glasgow.
"Pode ser mesmo muito complicado conciliar o trabalho com a maternidade, mas eu gosto tanto de levantar-me para fazer os meus turnos como de passar tempo com o meu menino."
Kyle tem hoje 9 anos e, segundo a mãe, é extremamente criativo e adora escrever coisas em papéis. Há meses em que ainda é complicado fazer o dinheiro esticar, mas Rachel está numa situação muito mais confortável do que há dois anos. "A vida hoje em dia é fantástica".