As companhias de teatro espanholas Los 90 Producen e La Mandanga Producciones utilizaram as redes sociais na terça-feira, 19 de dezembro, para denunciarem um caso de abuso por parte da autarquia sobre a sua peça de teatro. Os grupos iam apresentar a peça no município espanhol de Quintanar da Ordem, na província de Toledo em Castela-Mancha, no dia 27 de janeiro, mas foram impedidos depois de receberem um email a dizer que o facto de estarem em roupa interior podia “escandalizar o público”. 

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As companhias acusaram a câmara municipal de Quintanar da Ordem, que é liderada por uma coligação entre os partidos PP (de direita) e Vox (extrema-direita), de censurar uma peça de teatro apenas e só por os protagonistas aparecem seminus. O espetáculo, intitulado "Qué difícil es", passa-se num camarim, enquanto as personagens mudam de roupa, e o enredo da peça aborda questões importantes como o bullying e a diversidade sexual. 

O cancelamento da peça na povoação espanhola foi comunicado por escrito através da vereadora da Cultura, María del Carmen Vallejo, segundo o jornal espanhol  “Ser”, com o argumento de que a aparição dos atores em roupa interior poderia, porventura, “escandalizar o público”, e por isso seria retirada da agenda de espetáculos de Quintanar da Ordem. Para mostrar o seu desagrado, as duas companhias responderam através de uma publicação no Instagram, escrevendo que “é preciso ser-se muito estúpido para censurar algo que nunca se viu”.

“O nosso espetáculo foi apresentado para mais de 3.000 espectadores, com públicos de todos os tipos, incluindo grupos escolares, porque aborda temas atuais e profundos como o bullying, o suicídio ou a diversidade sexual. Nunca recebemos uma queixa e não temos registo de que alguém tenha ficado indignado. Este veto é um atentado à cultura, um mecanismo para uma governante impedir que outros vejam o que ela considera incómodo ou simplesmente não gosta”, pode ler-se na publicação.

“Ninguém hoje em dia se escandaliza ao ver alguém em roupa interior ou em calções de banho. É apenas um pretexto para impedir a liberdade de expressão que orienta a obra. Este cancelamento é também um insulto aos habitantes de Quintanar da Ordem, uma vez que o dinheiro que iam pagar o nosso espetáculo provinha de um subsídio da Junta de Comunidades de Castilla-La Mancha”, acrescentaram. 

No final da tarde de terça-feira, a vereadora da Cultura da autarquia respondeu através de um comunicado às alegações das duas companhias, segundo o diário espanhol “El Diario”. María del Carmen Vallejo, que faz parte do partido espanhol PP, garantiu que “as razões do cancelamento da peça” não têm que ver com as suas preferências pessoais, e sim com o facto de o espetáculo não ser, alegadamente, “do gosto do público de Quintanar da Ordem”, para o qual, disse a vereadora, o executivo trabalha “incansavelmente”.

"É totalmente incompreensível a forma como está a ser tratada esta mera formalidade, que certamente acontece noutras cidades, com outras peças e noutras circunstâncias. É comum contratar um espetáculo e cancelá-lo porque ou se é convencido por outro espetáculo, ou não se é convencido pelo selecionado”, escreveu María del Carmen Vallejo. A vereadora da Cultura lamentou ainda “o tom nas redes sociais que está a ser usado pelas companhias de teatro envolvidas no assunto", negando que haja qualquer envolvimento "nem partidário, nem sexista, nem nada que se assemelhe a isso” para o cancelamento da peça. Nenhuma das companhias respondeu ao comunicado da vereadora.