Na eleição de 2016, que colocou Donald Trump na Casa Branca, Katherine Soares, 40 anos, lusodescendente de New Jersey, votou num candidato independente. “Não me identificava com a Hillary Clinton, mas também nunca pensei que ela fosse perder”, conta à MAGG. “Fiquei estupefacta quando Trump ganhou. Mas nem fiquei muito pessimista, porque achei que ele se fosse rodear de pessoas experientes. Mas isso não aconteceu.”
Delegada de informações públicas, a trabalhar no gabinete de comunicação do Condado de Union, apesar de ter nascido nos Estados Unidos, tem bem presente a costela insular portuguesa: os pais e avós são de São Miguel, nos Açores, e ela faz parte da direcção da Palcus, uma associação que prentende ser a "voz nacional que defende e promove o desenvolvimento da comunidade luso-americana económica, profissional, cultural e politicamente."
No início foi difícil conciliar as duas nacionalidades. "Andei na escola portuguesa, em casa falava português, comia comida portuguesa, ia para o café português com os meus amigos portugueses."
Já votou nas eleições de 2020, cujo aguardado resultado será conhecido já na próxima terça-feira, 3 de novembro. Neste dia, ficará decidido o futuro dos Estados Unidos para os quatro próximos anos: ou a administração muda e passa a ser liderada pelo democrata Joe Biden, vice-presidente de Barack Obama, com décadas de experiência na política, ou segue com a mesma figura no poder.
“No que diz respeito à qualidade dos candidatos, o Joe Biden está muito acima. Votei há semanas e espero que ele ganhe”, diz. “Trump, nem sei descrever, é como se fosse uma caricatura.”
Mas rapidamente identifica um dos problemas do presidente, na corrida para a reeleição: ele divide a nação. “Ele é uma personalidade, não é um politico", diz. E divide a nação: "Temos a maior parte do eleitorado dividido para os extremos e uma percentagem muito pequena no centro”, diz.
Manuel Bettencourt, outro açoriano, emigrado nos Estados Unidos há mais de 50 anos, a residir no condado de Santa Clara, em São José, Califórnia, também não vê no atual presidente o perfil de um líder: Trump é um “business man". Mas não é por isso que deixa de gostar e de votar nele. Natural da Graciosa, tem cerca de 70 anos (não quis especificar), e chegou a este país com pouco mais de 20 anos. Os pais já lá estavam e as motivações eram as mesmas de muitos outros: a esperança de uma vida melhor.
Lê todos os jornais, incluindo o “The New York Times” ou “Washington Post”, os da “esquerda radical”, como lhes chama. “Mais de 90% da imprensa aqui é contra Trump", diz. Pelo correio, chegam-lhe ainda 12 publicações portuguesas em casa, desde o “Público” ao “Diário de Notícias”, sem esquecer três jornais açorianos. “No outro dia li um artigo de uma revista portuguesa que era sobre as ‘milhares de mentiras’ que o Trump já disse. Que disparate tão grande, é tudo tirado das fake news.”
“Trump não considera todos os americanos nos seus planos, propostas ou acções. Não é isso que quero ver num presidente”, Callie Wentling
Assumindo que o problema é transversal aos dois polos, o dentista reformado — que uma vez por semana faz voluntariado numa clínica para pessoas sem-abrigo e toxicodependentes — fala na disseminação de notícias falsas contra este presidente: “Até os correspondentes portugueses que andam por cá são esquerdistas que alimentam Portugal com mentiras.”
Não rasga elogios à maneira de ser de Trump, mas também não é isso que lhe interessa. “Não concordo com coisas que ele diz, ou como as afirma, mas é a personalidade dele", diz. “Mas tenho visto o que tem feito por este país. Quanto ao outro [Joe Biden], durante os últimos 40 anos, tem feito relativamente pouco.”
“Já não tenho esperança no meu país há imenso tempo”
Callie Wentling, 31 anos, natural do estado da Pensilvânia (mas registada no Colorado), e Ruth Williams, 29, de North Carolina, são americanas, vivem em Portugal e também não são apoiantes fervorosas de Joe Biden. Porém, não foi necessária nenhuma reflexão para lhe darem o seu voto. “É o melhor dos dois", diz Ruth.
Callie, estudante de mestrado de Sistemas de Informação Geográfica, apaixonou-se por Portugal quando cá chegou em setembro de 2018 e já está a tratar de tudo para poder ficar com nacionalidade portuguesa. Tinha o boletim de voto eletrónico à frente, enquanto falava connosco por telefone. “Online consigo aceder a um boletim e posso votar”, conta, acrescentando que também é possível fazê-lo pelo correio tradicional mas que, com os atrasos provocados pela COVID-19, nem sequer pôs essa hipótese.
“Não sinto que nenhum candidato me represente ou às minhas crenças, apesar de me identificar mais com as ideias de Joe Biden”. Tudo será melhor do que Trump: “Estou muito descontente com a maneira como ele se expressa. Acho que ele não considera todos os americanos nos seus planos, propostas ou acções. Não é isso que quero ver num presidente: quero ver um presidente a representar as necessidades de todos os cidadãos.”
"Não me revejo no Biden, mas é como se costuma dizer: é o mal menor”, Ruth Williams
Ruth trabalha como produtora e está cá há seis anos. É incrível: o seu português é perfeito. O Erasmus no Rio de Janeiro, os estudos em espanhol e em português foram determinantes para a tamanha mestria, mas suspeitamos estar perante um daqueles casos em que a apetência para dominar os idiomas é inerente à própria pessoa.
Quando veio viver para Portugal era Barack Obama quem estava na Casa Branca. Nunca pensou que o país que deixava para trás fosse mudar tanto e em tão pouco tempo. “O mais importante neste momento é tirar o Trump do poder." O raciocínio é o mesmo: "Não me revejo no Biden, mas é como se costuma dizer: é o mal menor.”
As duas americanas temem pelo pior, mesmo que as sondagens apontem para o contrário. “Estou mentalmente a preparar-me para que ele [Trump] ganhe”, diz Callie. “Eu quero ter esperança, mas eu já não tenho esperança no meu país há imenso tempo. Já prefiro esperar o pior”, diz Ruth.
Um dos fatores que faz a jovem da Carolina do Norte acreditar que se caminha para uma reeleição tem que ver com uma espécie de idolatria à figura de Trump, que, para quem o segue, é mais importante do que as suas acções.“Parece que não interessa o que diz ou faz o Trump porque os apoiantes dele estão sempre do seu lado. É um ídolo."
O país está cada vez mais polarizado e isso é preocupante, consideram as três mulheres. E, de facto, consideram, os meios de comunicação social podem estar a fomentar ainda mais a divisão: “Estamos presos em câmaras de eco. É o problema da polarização: ficamos colados às nossas crenças, recusamo-nos a ouvir outras opiniões”, diz Callie. “Há muitas pessoas no meu grupo de amigos com uma experiência muito diferente da minha, no que se refere ao que leem, veem ou falam. São interpretações irreconciliáveis e precisamos de partir estas paredes para chegar a um consenso.”
Ruth vai ao encontro da mesma ideia. E está tão consciente do fenómeno que chega a duvidar das suas próprias crenças. “Custa-me falar sobre isto. É muito difícil, porque neste momento não sabemos onde é que está a verdade.”
Ruth e Callie falam numa lealdade cega ao partido, que já vem de trás: republicanos são republicanos e democratas são democratas. "É como nascer a torcer pelo Benfica — dificilmente se fica sportinguista. Ou seja, é uma coisa que vai além da equipa ser boa, mesmo que o treinador esteja constantemente a mentir. Não interessa porque vermelho é que é", diz Ruth.
Mas tanto Katherine Soares como Manuel Bettencourt já trocaram de equipa. A delegada de informações contraria totalmente o clubismo partidário e explica que, mais do que relacionado com a pessoa, o seu “historial como eleitora depende dos assuntos que estão a ser considerados”. Mas concorda com o que Ruth diz: “Há uma grande percentagem dos eleitores que são assim. Quando não se identificam com o candidato, preferem não votar. Preferem abdicar do seu direito de voto, até porque aqui não há a opção para votarmos em branco.”
"I was one of them". Manuel já votou democrata mas agora é republicano
Manuel também já trocou. Hoje é independente, mas já foi republicano e até democrata. “Durante 30 anos. I was one of them”, alerta-nos por email, quando ainda se acertavam detalhes da entrevista. Na chamada de Zoom, desvenda o que o fez abandonar os azuis.
“Éramos 11 irmãos. Viemos nove de Portugal e nasceram dois aqui. Assim que chegámos à Califórnia, uns tios que tínhamos cá há muitos anos diziam que os democratas é que eram do povo e que os republicanos eram o partido dos ricos. Depois de passar anos e anos, vi que não era assim. Que era ao contrário. Mas quando se é novo, é nisso que se acredita.”
Os seus primeiros tempos nos Estados Unidos foram duros. Depois de completar alguns anos de liceu na sua ilha, ao mesmo tempo que trabalhava uma mercearia, chegou aos Estados Unidos em 1969, com 20 e poucos anos, — 11 anos depois de o congresso, sob influência de John F. Kennedy (nos tempos em que era ainda senador do estado do Massachussets), ter aprovado o Azorean Refugee Act, que veio a facilitar a emigração dos açorianos, na sequência da erupção do vulcão dos Capelinhos, e que fez chegar 175 mil açorianos a este país.
Foi trabalhar para o serviço de limpeza de um hotel e assim ajudava a família. Mas a vontade de tirar um curso superior permanecia: Manuel Bettencourt estudava nos seus tempos vagos e à noite frequentava as aulas para terminar o ensino secundário. Não teve de começar de novo: recebeu créditos e concluiu esta etapa em dois anos.
Licenciou-se em Educação Geral no São José City College e depois em Biologia na São José State University. Mas nesta área era difícil conseguir trabalho. O seu orientador fez-lhe duas sugestões: ou um mestrado na mesma área ou seguir para Medicina, onde, explicou-lhe, ganhava-se muito mais dinheiro. Foi essa a sua decisão, mas teve de sair do país. É que tinha sido aprovado a Affirmative Action que, através de um conjunto de leis e práticas administrativas, pretendia discriminar positivamente algumas minorias, em que não se incluíam os portugueses. Assim, Manuel teve de ir para o México formar-se em Estomatologia. “Mesmo tendo melhor nota."
“A razão primordial para eu votar nele teve que ver com aborto”
Manuel é a favor das políticas de emigração defendidas por Donald Trump. “Construiu parte da parede nas fronteiras. O muro vai prevenir a entrada de drogas, de criminosos e de ilegais.” Sobre aqueles que tentam atravessar a fronteira do México em busca de melhores condições de vida, recorda a sua própria experiência e a de outros que seguem os tramites legais e oficiais. “Há pessoas a esperarem 12 anos por um visto. Porque é que eles também não esperam?”, questiona.
“O desemprego foi o mais baixo dos últimos cerca de 50 anos, antes da pandemia. No Silicon Valley o desemprego era praticamente 0%. Só não trabalhava quem não queria”, Manuel Bettencourt
Este é um dos pontos incluídos nos papéis que tem junto de si, onde estão apontados outros motivos que o levam a preferir a reeleição do atual presidente: fala nas criação das taxas alfandegárias sobre os produtos vindos da China, país asiático que estava a “explorar os Estados Unidos”. Fala também na subida da bolsa e nos históricos baixos níveis de desemprego, antes de a pandemia explodir. “O desemprego foi o mais baixo dos últimos cerca de 50 anos, antes da pandemia. No Sillicon Valley, o desemprego era praticamente 0%. Só não trabalhava quem não queria.”
Neste assunto, Katherine Soares reconhece o bom trabalho de Trump, mas também lembra que o caminho havia sido trilhado pela administração anterior. “A única coisa que ele tinha a seu favor era o desemprego, apesar de os números terem começado a baixar com o Obama”. Em relação à bolsa, refere que para a esmagadora maioria dos americanos isto não significa nada: “A bolsa não lhes diz nada, porque não têm uma acção comprada. A bolsa, estando em alta, não ajuda as pessoas.”
Manuel continua a destacar o bom trabalho do candidato: “Apoiou as forças armadas e os veteranos. Combateu o terrorismo global eficazmente. Fez com que os países da Europa na NATO pagassem os 2% que lhes deviam e que os Estados Unidos é que andavam a suportar.”
Mas houve um motivo determinante: “Mas o melhor que ele fez, e que foi a razão primordial para eu votar nele, teve que ver com aborto”, diz. “Na primeira semana depois de ter sido eleito, ele cancelou os milhões de dólares que o Obama estava a enviar para a América Latina para financiar o aborto com o dinheiro dos impostos de milhões de americanos que trabalham. Mesmo que ele não tivesse feito mais nada bom, este para mim seria sempre o motivo mais importante.”
"Até o Papa, em 2016, falava mal do Trump, mesmo que a Hillary Clinton aprovasse o aborto. Julgo que precisamos de outro Papa”, Manuel Bettencourt
Manuel Bettencourt tem consigo números relativos à interrupção voluntária da gravidez nos Estados Unidos, contra a qual é absolutamente contra. Os dados foi recolhendo de “vídeos, artigos, de informações” que recebe: “Todos os anos, aqui nos Estados Unidos, um milhão e meio de bebés são abortados. E só nestas clínicas Planned Parenthood foram abortados, no ano passado, 345 mil 672 nascimentos.” Continua: “Nos Estados Unidos, há cerca de 950 por dia.”
Manda uma farpa ao Papa Francisco: "Até o Papa, em 2016, falava mal do Trump, mesmo que a Hillary Clinton aprovasse o aborto. Julgo que precisamos de outro Papa”, diz. Não tem papas na língua: “Vivi quase 20 anos no fascismo e aqui posso-me expressar-me", acrescenta, lembrando o período do Estado Novo, em Portugal.
Katherine Soares chama “hipócrita” ao presidente pelas suas políticas de emigração. “É hipócrita, porque duas das três mulheres dele são emigrantes e uma teve um visto de turista e trabalhava ilegalmente”, lembra. Refere ainda o facto de que muitos emigrantes, mesmo que ilegais e sem quaisquer apoios, pagam impostos e contribuírem para a riqueza do país.
“Se uma pessoa paga impostos, não comete crimes e está a tentar contribuir para si e para pais, não vejo com é que podemos argumentar sobre ele ficar cá ou não”, continua. “Um americano nunca poder ser expulso, apesar de poder abusar dos sistemas sociais e dos subsídios.”
E Biden? “O que me deixa mais apreensiva é a idade dele”
A ideia de tirar Trump da Casa Branca é mais entusiasmaste do que propriamente o seu substituto. Uma das grandes bandeiras do candidato democrata tem que ver com as políticas ambientais, através do plano Clean Energy Revolution, que lança a meta de “que os Estados Unidos alcancem uma economia de energia 100% limpa e que alcancem emissões líquidas zero até 2050”, lê-se no na proposta de Joe Biden.
Já incentivou empresas a construírem uma rede de 500 mil carros elétricos, falando na instalação de postos de carregamento espalhados por em todo o país. Callie interessa-se muito por esta conversa ecológica, mas fica de pé atrás com este tipo de proposta.
“Há estudos que sugerem que, mesmo que se troque para um carro com fraca pegada ecológica, a quantidade de energia utilizada para criar um novo carro é muito maior do que manter um que utilize combustível, mesmo que não seja muito eficiente.”
“Ele assume as suas falhas, tendo admitido que a lei de 94 na luta contra crime foi um erro, porque afetou desproporcionalmente a população afro-americana”, Katherine Soares
Para a geógrafa, algumas das suas propostas têm “muita beleza”, mas questiona a sua exequibilidade. "Gostava de ver mais ideias destas, mas pensadas de forma realista.”
Elogia o plano de dar continuidade às Qualifed Oportunity Zones — comunidades “em dificuldades econômicas, onde novos investimentos, sob certas condições, podem ser elegíveis para tratamento fiscal preferencial” —, considerando que o trabalho realizado por Trump neste âmbito ficou muito aquém.
“Beneficiou os investidores e não a comunidade em si", diz. "Joe Biden quer continuar Oportunity Zones, mas com o propósito ideal, que é ajudar a comunidade, que é o que me interessa ver."
Elogia ainda o plano para a reforma no sistema de justiça criminal. “Hoje, muitas pessoas estão encarceradas nos Estados Unidos — e muitas delas são pretas e castanhas. Para construir comunidades seguras e saudáveis, precisamos de repensar quem estamos a enviar para a prisão, como tratamos os presos e como é que os ajudamos a obter os cuidados de saúde, a educação, o emprego e a habitação de que precisam para se reintegrarem na sociedade depois de cumprirem o seu tempo”, lê-se no site do candidato.
Katherine Soares lembra, no entanto, a controversa lei de 1994 assinada pelo democrata, no tempo em que os Estados Unidos declararam a famosa “guerra ao crime” e que contribuiu para o encarceramento em massa. Ainda assim, defende o candidato: “Ele assume as suas falhas, tendo admitido que a lei de 94 na luta contra crime foi um erro, porque afetou desproporcionalmente a população afro-americana.”
“Ele é muito velho. E a idade pesa a todos. No outro dia chamou George ao presidente, várias vezes. O momento ideal dele tinha sido há quatro anos”, Katherine Soares
A lusodescendente de New Jersey vê em Biden um “bom centrista”, posição que, considera, é a melhor para beneficiar a população do país. “Tentou sempre trabalhar com os dois lados, apesar de ter ser democrata”, diz. Caso seja eleito, prevê, é esse o esforço que vai continuar a fazer: “Acredito que ele se vá rodear de pessoas competentes e acredito que tente negociar com os dois lados. Infelizmente o partido republicano e democrata estão tão polarizados, que não sei se vai dar resultado. Mas acho que, no mínimo, vai tentar e só isso merece atenção e uma oportunidade. Pior do que temos agora seria difícil.”
No entanto, está muito reticente em relação à sua idade. “Ele é muito velho. E a idade pesa a todos. No outro dia chamou George ao presidente, várias vezes. O momento ideal dele tinha sido há quatro anos.”
Mas Ruth lembra que há sempre Kamala Harris, candidata a vice-presidente. “Ele tem 78 anos. Convém ter uma pessoa competente ao seu lado. Ela sabe falar, é mais jovem. Traz frescura."
A COVID-19 e o potencial resultado das eleições
Sobre a pandemia, Manuel Bettencourt lembra de imediato: “A primeira pessoa infetada nos Estados Unidos foi regista a 21 de janeiro e a 31 Trump cancelou todos os voos da China para os Estados Unidos”, lembra. “Nesta altura, os democratas chamaram-no racista, por ter cancelado aqueles voos. A mim também já me chamaram racista e foi por ter apoiado Trump. Mas faço voluntariado numa clínica para toxicodependentes, como dentista, e ajudo brancos, pretos, vietnamitas, e ainda faço isso tudo grátis.”
“Ninguém sabia como é que o vírus ia afetar a vida das pessoas nos Estados Unidos, mas o negacionismo já era de prever com o Trump no poder”, Ruth Williams
Ruth estava nos Estados Unidos quando foi declarado Estado de Emergência em Portugal e não perdeu muito tempo: “Voltei logo para Lisboa. Estava com medo que fechassem as fronteiras e tenho a minha vida toda cá”, diz. Além disso, havia um misto de incerteza com imprevisibilidade: “Ninguém sabia como é que o vírus ia afetar a vida das pessoas nos Estados Unidos, mas o negacionismo já era de prever com o Trump no poder.”
A posição de Biden em relação à pandemia agrada Ruth. Está profundamente descontente com o facto de no seu estado a população não ser amiga de máscaras: “A minha mãe foi buscar medicação a uma farmácia e as pessoas não respeitavam o distanciamento, nem usavam a proteção. Quando chegou a casa, indignada, fez um post no Facebook e ainda recebeu uma mensagem de uma amiga a dizer qualquer coisa como: ‘Pensei que fosses pela liberdade e pelo amor’”, conta.
Dá mais um exemplo: “Uma empresa de comida saudável tinha um sinal à porta a dizer que ninguém nos pode obrigar a usar máscara e que as pessoas ali dentro não têm de usar. Um sitio que supostamente é para as pessoas irem buscar spirulina.”
Callie nunca pensou em sair de Portugal. “Sentia-me mais segura aqui”, conta. “Não invejo a situação com que os meus amigos e família tiveram de lidar.” “Bastava uma coisa tão simples como dizer: ‘Toda a gente tem de usar máscara’”, lamenta Katherine.
No final da conversa, falamos em potenciais cenários para o dia das eleições. E, em relação ao resultado de 2 de novembro, Ruth duvida que vá ser uma coisa simples. Recorda a eleição de Bush contra Al Gore — quando os 25 votos do Colégio Eleitoral da Flórida passaram por um processo de recontagem.
"Vai haver acusações independentemente do resultado. Acho que não vamos acordar a dizer, ‘OK, o Trump ganhou” ou “OK, o Biden ganhou.’ Sinto que vai haver discussão, independentemente do resultado.”