As polémicas em torno de Jair Bolsonaro não param. Numa altura em que o Brasil enfrenta uma das suas piores crises de saúde de sempre, com mais de 20 mil mortes causadas pela COVID-19, sabe-se agora que o presidente brasileiro tentou alterar a bula da cloroquina, um medicamente usado no tratamento da malária, para incluir a recomendação do uso do fármaco contra o novo coronavírus.

A revelação veio de Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde, que contou em entrevista que a tentativa de alterar a bula chegou a ser equacionada através de decreto presidencial, assinado por Bolsonaro.

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"O presidente se assessorava ou se cercava de outros profissionais médicos. Eu me lembro de quando, no final de um dia de reunião de conselho ministerial, me pediram para entrar numa sala e estavam lá um médico anestesista e uma médica imunologista, que estavam com a redação de um provável ou futuro, ou alguma coisa do género, decreto presidencial. E a ideia que eles tinham era de alterar a bula do medicamento na Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], colocando na bula indicação para COVID-19", afirmou Luiz Henrique Mandetta à GloboNews.

O antigo ministro também relatou que existiam mais ministros no encontro, bem como o presidente da Anvisa, António Barra Torres. "O próprio presidente da Anvisa se assustou com aquele caminho, disse que não poderia concordar. Eu simplesmente disse que aquilo não era uma coisa séria e que eu não iria continuar naquilo dali, que o palco daquela discussão tem que ser no Conselho Federal de Medicina. Então, é lá que esse debate tem que se dar. Não adianta fazer um debate de uma pessoa que seja especialista na área que for, com um presidente da República que não é médico. A disparidade de armas, já que a frase está tão em voga, é muito difícil."

Na quarta-feira, 20 de maio, o governo federal brasileiro publicou um protocolo que indica o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina (medicamento antiartrítico que também pode ser usado na prevenção da malária) em casos de infeção pelo novo coronavírus, incluindo pacientes nas fases iniciais da doença. No entanto, não existem provas da eficácia dos dois medicamentos no tratamento da COVID-19. Mais: estes fármacos podem ter efeitos secundários graves, como arritmias cardíacas.

Atualmente, já morreram mais de 20 mil pessoas no Brasil devido ao surto do novo coronavírus, e há 310 mil casos confirmados.