Os franceses voltaram às urnas este domingo, 7 de julho, para a segunda volta das eleições legislativas, e surpreenderam o mundo com a sua votação. Depois de os resultados da primeira volta no passado dia 30 de junho confirmarem a ascensão da extrema-direita, onde o partido União Nacional, de Marine Le Pen, agora liderado por Jordan Bardella, conquistou 33,2% dos votos, ficando assim em primeiro nas eleições, a segunda volta revelou que os franceses, afinal, não querem ser governados pela extrema-direita. 

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Apesar de os resultados oficiais ainda não terem sido divulgados, já se sabe que foi a Nova Frente Popular, uma coligação de vários partidos de esquerda, que ganhou a segunda volta das legislativas, mostrando uma reviravolta surpreendente nas eleições.

Com uma das maiores afluências às urnas francesas nos últimos 40 anos, a participação foi de mais de 65%, segundo o jornal “Público”, a mais alta na segunda volta das eleições nas últimas quatro décadas e maior do que a afluência na primeira volta.

Assim, ao contrário do que todas as sondagens apontavam, o Rassemblement National, partido de extrema-direita, ficou em terceiro lugar nas eleições, tendo sido ultrapassado pelo partido Ensemble, coligação do atual presidente francês Emmanuel Macron, cujo partido o atual primeiro-ministro, Gabriel Attal, também faz parte.

O resultado da segunda volta foi surpreendente pois, desde o anúncio das eleições graças à vitória da extrema-direita na votação para o Parlamento Europeu, havia a expectativa de que o RN conseguisse não só ganhar as eleições, como fazê-lo com maioria absoluta, de acordo com “O Globo”, o que acabou por não acontecer. 

Agora, espera-se que a coligação dos partidos de esquerda suba ao poder. Jean-Luc Mélenchon, rosto da Nova Frente Popular, deu o seu discurso vitorioso logo na noite de domingo, dizendo que “a vontade do povo” deve ser respeitada, e que o primeiro ministro se devia despedir.

“A vontade do povo deve ser estritamente respeitada. A derrota do presidente da República e da sua coligação está claramente confirmada. O presidente deve curvar-se e aceitar a sua derrota”, disse. “O primeiro-ministro deve retirar-se. O presidente deve chamar a Nova Frente Popular para governar”, acrescentou, citado pelo “EuroNews”. Mas perceba melhor o que vai acontecer agora através destes três pontos.

Esquerda ganhou, mas não tem maioria para governar

De acordo com os resultados finais, citados pela RTP, a Nova Frente Popular (que junta os socialistas, ecologistas, comunistas e a França Insubmissa, partido de Jean-Luc Mélenchon) obteve 182 lugares no parlamento de 577 lugares, a aliança de centro do presidente Emmanuel Macron obteve 158 lugares, e o Rassemblement National e os seus aliados obtiveram apenas 143 lugares. Já os republicanos e outros partidos de direita confirmaram outros 67 lugares. 

No entanto, com este resultado, nenhum dos partidos vai assegurar os 289 lugares necessários para uma maioria absoluta no Parlamento francês, o que deixa o país num impasse e a formação de um governo terá de ser negociada. Ainda assim, Jean-Luc Mélenchon disse estar pronto para governar, mas afastou um cenário de coligação com as forças que apoiam Emmanuel Macron, como disse no seu discurso, avançou o “Público”. 

A falta de uma maioria deixa França num impasse também porque, no país, vigora um sistema semipresidencial, em que o presidente é também chefe do Governo, dividindo essa função com o primeiro-ministro. Ou seja, quando são partidos diferentes no poder, os dois têm de chegar a vários consensos, o que não parece possível nem para Jean-Luc Mélenchon, que já desafiou o presidente a “deixar a Nova Frente Popular governar”, nem para várias figuras do partido de Macron, que se recusam a trabalhar com um partido “tão extremista” como o RN.

Atual primeiro-ministro vai entregar a carta de demissão

Perante os resultados obtidos, o primeiro-ministro Gabriel Attal, que ocupa o cargo desde o início do ano, declarou, na noite de domingo, que iria “apresentar a sua demissão” esta segunda-feira, 8 de julho. Gabriel Attal reconheceu no seu discurso que o seu partido, o Juntos, “não obteve a maioria”, e que, por isso, iria renunciar ao cargo, avançou a CNN Brasil

O político francês, aliado do presidente Emmanuel Macron, explicou também que iria continuar a desempenhar as suas funções “pelo tempo que for preciso”, e que França enfrentará muitas incertezas daqui para a frente. "Sei que, neste momento, se apresentam muitas incertezas, uma vez que não há maioria absoluta. O nosso país está numa situação sem precedentes e vai ter muitas responsabilidades em breve", disse, citado pela SIC Notícias. No entanto, Gabriel Attal confessa que é preciso “continuar a lutar”, porque o país enfrenta agora “uma nova era”.

Além disso, o chefe do Executivo garantiu que a coligação presidencial manteve-se firme e que “vai continuar firme”, e, em jeito de despedida, assumiu que ter sido primeiro-ministro francês, mesmo que por pouco mais de seis meses, "foi uma honra" e que ao longo do seu percurso "teve o prazer de escutar" o povo francês.

Emmanuel Macron ainda não se pronunciou 

Num comunicado feito logo na noite de domingo, o Palácio do Eliseu adiantou que o presidente Emmanuel Macron iria “esperar pela estruturação” da nova Assembleia Nacional francesa para “tomar as decisões necessárias”, citou o jornal “Expresso”, pelo que não se pronunciou na altura.

Esta ausência de decisão tem que ver com a preferência de uma postura de “prudência” face aos resultados, mas o "Observador" avançou que o presidente, esta manhã, pediu a Attal para se manter no cargo de primeiro-ministro “de momento”, a fim de garantir a estabilidade do país.

No entanto, Stéphane Séjourné, secretário-geral do partido do presidente francês, Ensemble, já afirmou, em oposição ao desafio de Jean-Luc Mélenchon para deixarem a Nova Frente Popular governar, sendo óbvio que esta coligação “não pode governar a França”, uma vez que nenhuma obteve a maioria.