Free Hess, uma mãe e pediatra da Florida, Estados Unidos, declarou guerra aos vídeos destinados a crianças com conteúdos impróprios no YouTube. Tudo começou em julho do ano passado, quando Hess, alertada por outra mãe, viu na plataforma YouTube Kids um vídeo de desenhos animados que, a meio do episódio, durante alguns segundos, mostrava um homem a incentivar ao suicídio infantil, explicando como é que as crianças se podiam matar.

O YouTube Kids é uma aplicação desenvolvida especialmente para crianças. Disponível em Portugal desde setembro de 2018, a aplicação tem um sistema de controlo parental que permite controlar o tempo de visualização, a ferramenta de pesquisa e os tipos de conteúdos que são acedidos através da plataforma.

Após ter pedido ajuda em alguns grupos online para reportar o vídeo, este foi removido da plataforma. Mas seis meses depois o vídeo estava novamente online, desta vez no YouTube. "Isto deixa-me irritada e frustrada. Eu sou pediatra e vejo cada vez mais crianças que se automutilam e se tentam suicidar", disse Hess em entrevista ao canal norte-americano CNN. "Eu não duvido que sejam as redes sociais e [vídeos] como este que estejam a contribuir para isto." O vídeo foi entretanto retirado da plataforma, mas é possível ver um trecho no blogue de Free Hess, "Pedi Mom".

Após ter voltado a encontrar este vídeo, Hess voltou a pesquisar por vídeos na plataforma YouTube Kids e ficou chocada com o que encontrou. A médica descobriu conteúdos que glorificavam o suicídio, abusos sexuais, tráfico humano, violência doméstica e o uso de armas. Pode ver tudo num outro artigo do seu blogue.

Para travar a disseminação deste tipo de conteúdos, a mulher começou a exigir por parte do YouTube Kids um maior cuidado e controlo nos vídeos disponibilizados nesta plataforma. "[Eu compreendo que a Goolgle] possa não ter os mesmos objetivos que eu, mas exijo que melhorem a forma como respondem quando alguém reporta um vídeo ofensivo", disse ainda Hess na mesma entrevista, pedindo ainda que os vídeos ofensivos sejam retirados logo após terem sido reportados.

No entanto, Hess reconhece também a importância dos pais nesta batalha contra os conteúdos impróprios. Para a pediatra, os pais devem ter uma maior noção dos conteúdos que as crianças veem online bem como devem ter o cuidado acompanharem a evolução tecnológica. "Há uma discrepância entre o que as crianças sabem sobre tecnologia e o que os pais sabem", disse Hess.

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Em comunicado publicado também na CNN, o YouTube agradeceu a atenção dada a este problema e garantiu que os vídeos reportados são analisados diariamente e são imediatamente removidos caso não estejam de acordo com as regras da plataforma.

"Temos também investido em novas formas de controlo parental, incluindo a funcionalidade de serem os próprios pais a escolherem os vídeos e os canais disponíveis [no YouTube Kids]. Estamos continuamente a melhorar os nossos sistemas e reconhecemos que ainda há muito a fazer", disse ainda o YouTube, no mesmo comunicado.

Mas este não é o único problema que o YouTube (e a Google) têm enfrentado por causa dos conteúdos impróprios. Recentemente, marcas como a Nestlé, McDonalds, Disney, Epic Games ("Fortnite") ou Dr. Oetker retiraram os anúncios da plataforma após o blogger Matt Watson ter alertado para o facto de haver pedófilos a trocarem informações e a utilizarem vídeos de ioga e ginástica como parte de uma rede de pedofilia. O vídeo tem cerca de 20 minutos e conta já com mais de três milhões de visualizações.

De acordo com a CNN, o YouTube também já emitiu um comunicado sobre este assunto, assegurando que removeu todas as contas e canais associados a este problema e desativou os comentários em milhões de vídeos onde aparecem crianças. O YouTube também já apresentou queixa desta atividade ilegal às autoridades competentes.