A paz na Ucrânia ainda parece estar longe de ser alcançada, mesmo com os seus aliados a fazer chegar material para ajudar Kiev na defesa do país. A Rússia não esconde os seus próximos planos que passam por tomar o sul da Ucrânia, de modo a chegar a uma região da Moldávia, que já está a acelerar a sua adesão à União Europeia.

Entretanto, António Guterres vai a Moscovo na terça-feira, 26 de abril, tentar a paz. De seguida na quinta-feira, 28, o secretário-geral das Nações Unidas vai a Kiev, informou o porta-voz do líder da ONU este sábado, 23.

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Para além de Donbass, o general russo Rustam Minnekayev revelou esta sexta-feira, 22, que a intenção é controlar o sul da Ucrânia, de modo a chegar à Transnístria, região separatista da Moldávia, país, que esta sexta-feira, 24,  entregou o primeiro questionário para aderir à União Europeia, em alerta. Volodymyr Zelensky já reagiu à ofensiva planeada pela Rússia afirmando que a decisão é uma prova de que Vladimir Putin não vai ficar por aqui e quer chegar a outros países: A Ucrânia "foi só o início".

Também nesta sexta-feira os russos atacaram 20 povoações de Donetsk e destruíram 34 edifícios, segundo o governador da região Pavlo Kyrylenko. Os bombardeamentos fizeram três mortos e sete feridos na região.

Apesar das constantes ofensivas, o presidente ucraniano mantém-se firme e a acreditar na resistência. Já disse aos civis que estão em zonas com russos para "criarem problemas para os ocupantes", adiantou a CNN Portugal. Já aos ucranianos que estão fora do país, o presidente apelou por ajuda económica.

O Ministério da Defesa Britânico já informou no Twitter que as forças russas não conseguiram avançar no terreno nas últimas 24 horas devido aos contra-ataques ucranianos.

"Apesar do aumento da atividade, as forças russas não obtiveram grandes ganhos nas últimas 24 horas, pois os contra-ataques ucranianos continuam a dificultar os seus esforços. As forças aéreas e marítimas russas não estabeleceram controlo em nenhum dos domínios devido à eficácia da defesa aérea e marítima da Ucrânia, reduzindo a sua capacidade de fazer progressos notáveis. Apesar da conquista declarada de Mariupol, combates pesados ​​continuam a ocorrer frustrando as tentativas russas de capturar a cidade, retardando ainda mais o progresso desejado no Donbass."

Em Mariupol, a saída de civis mantém-se lenta, mas está prevista uma retirada para este sábado ao meio-dia, anunciou a vice-primeira-ministra ucraniana Iryna Vereshchuk. A evacuação vai partir do centro comercial do porto de Mariupol e apenas mulheres, crianças e idosos vão poder ser evacuados.

As imagens de mais de 200 valas comuns abertas perto da zona de Mariupol em Manhush, reveladas pela Maxar Technologies, chocaram o mundo. Zelensky acusou a Rússia de de ter enterrado cerca de nove mil civis para esconder um massacre.

Entretanto, imagens mais recentes da empresa de satélites demonstram que os russos continuam a escavar, desta vez, para alargar outro terreno no cemitério de Vynohradne, a 12 quilómetros de Mariupol. A região ucraniana já resistiu durante dois meses e os ataques russos terão já provocado mais de 10 mil mortos na zona.

Ucrânia
Ucrânia créditos: Maxar Technologies

A Ucrânia considerou Mariupol "a maior catástrofe humanitária do século". O primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmyhal, disse em Washington que "iremos ver as terríveis atrocidades quando a cidade for libertada dos russos", acrescentando que a destruição tem chegado a todo o lado, até mesmo os abrigos dos civis não escapam.

A Rússia também já revelou que do seu navio Moska, naufragado no mar negro afundado na quinta-feira, 14, ainda há 27 desaparecidos, mas já foi confirmada a morte de um tripulante. A destruição da embarcação foi alvo de uma batalha de narrativas entre Moscovo e Kiev.

É neste contexto de instabilidade que o  o secretário-geral da NATO, António Guterres, vai encontrar-se com Vladimir Putin na terça-feira, 26, e com Volodymyr Zelenskyy, na quinta-feira, 28. O objetivo é encontrar uma aproximação para a paz.

ONU recolheu provas de crimes de guerra

A ONU já documentou provas de crime de guerra — de violência sexual e detenção, maus-tratos, tortura e assassínio — em ambos os lados do conflito. A BBC avançou a morte ilegal de cerca de 50 pessoas. Perante este cenário, a alta comissária para os Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, já apelou a todos os envolvidos nos combates que respeitem a lei internacional, pois todas as denúncias serão investigadas.

Citada pela Reuters, disse: "Sabemos que os números atuais serão muito mais altos, à medida que os horrores infligidos em áreas de intensos combates, como Mariupol, venham à luz do dia", acrescentando: "A escala das execuções sumárias de civis em áreas antes ocupadas pelas forças russas está também a emergir. A preservação de provas e o tratamento decente dos restos mortais tem de ser assegurado, bem como ajuda psicológica e de outros tipos para as vítimas e os seus familiares", noticiou a CNN Portugal.

Lembre-se que esta semana Zelenskyy falou no parlamento português via videochamada esta quinta-feira, 21, sem a presença do PCP. E o Papa Francisco decidiu não ir a Kiev.