"Fake news". O termo tem ganho terreno no mundo da comunicação, sendo as redes sociais um dos meios onde mais se propagam, em muito devido à facilidade de partilha. As notícias falsas têm por base a desinformação, geralmente com a intenção de enganar e desinformar a sociedade.

Já há uma maior preocupação em detetar e combater este tipo de notícias. Recentemente, o Facebook eliminou mais de 2.600 páginas de informações falsas; o Observador tem uma ferramenta que nos informa da veracidade de certas notícias, enquanto o Polígrafo, o primeiro jornal português de fact-checking, chega esta segunda-feira, 1 de abril, à programação da SIC, estreando-se como o primeiro programa televisivo em Portugal deste género.

Acreditar numa notícia falsa não é sinal de estupidez. Bem pelo contrário: segundo David Robson, autor do livro "The Intelligence Trap: Why Smart People Do Stupid Things and How to Make Wiser Decisions", cita o "The Guardian", as pessoas inteligentes são mais propícias a acreditar em "fake news". Ninguém está imune, e as pessoas inteligentes podem ser mais vulneráveis a certas ideias, uma vez que o seu maior poder intelectual lhes permite racionalizar as suas crenças (incorretas). Vários estudos demonstraram que raramente prestamos a nossa máxima atenção quando nos deparamos com novas informações, o que ajuda a explicar isto.

Quando uma declaração nos parece "fluente", ou seja, fácil de processar, e familiar, temos tendência a não prestar atenção aos detalhes. Prova disso foi o teste que Norbert Schwarz, da Universidade do Sul da Califórnia, decidiu fazer. Considerando a pergunta: "Quantos animais levou Moisés para a Arca?", apenas cerca de 12% dos alunos respondeu corretamente (nenhum). Era, claro, a Arca de Noé, não a de Moisés.

Existem muitas maneiras simples para que os divulgadores de desinformação consigam transmitir notícias falsas, da forma o mais realista possível. Um exemplo é o uso de imagens, pois as fotografias ajudam-nos a visualizar declarações, o que significa que podem ser processadas fluentemente, e, portanto, parecem mais verdadeiras. Mas a maneira mais utilizada para espalhar a desinformação talvez seja mesmo a sua simples repetição. Quanto mais ouvimos uma ideia, maior é a probabilidade de acreditarmos que seja verdade.

A inteligência e a educação protegem-nos contra falsas informações?

A pesquisa mais recente mostra que tudo depende do nosso estilo de pensamento. Algumas pessoas são "avarentos cognitivos", por exemplo, o que significa que têm poder cerebral que lhes permite um bom desempenho nos exames. Só que nem sempre o aplicam, usando muitas vezes a intuição e o instinto em vez do pensamento reflexivo e analítico.

Este estilo de pensamento é normalmente medido com uma ferramenta conhecida como "teste de reflexão cognitiva", onde se fazem perguntas como: "Se são necessárias cinco máquinas e cinco minutos para fazer cinco widgets, quanto tempo levariam 100 máquinas para fazer 100 widgets?" A resposta é cinco, mas muitas pessoas inteligentes dizem 100, pois esta é a resposta mais intuitiva.

Estudos dos EUA revelaram que as pessoas que têm uma má pontuação neste tipo de perguntas tendem a ser mais suscetíveis a notícias falsas, teorias da conspiração e pensamento paranormal. Aqueles que conseguem um melhor resultado, em contraste, tendem a ser menos ingénuos, porque usam a inteligência para analisar as alegações, em vez de confiar nos seus sentimentos e instintos.

Mas nem todas as notícias falsas são criadas de igual forma. Algumas histórias podem ser visivelmente ridículas, como a família que deu à filha o nome de Brexit. No entanto, outras histórias podem encaixar-se com as convicções políticas de muitas pessoas, com muito mais facilidade. E para essas alegações emotivas particulares, a inteligência e a educação podem tornar-nos mais suscetíveis a notícias falsas, por meio de um processo chamado "raciocínio motivado".

Tome-se por exemplo a teoria de que Barack Obama não nasceu nos EUA. Esta informação foi desmentida várias vezes, mas tornou-se altamente enraizada na ideologia política de muitas pessoas. E o seu maior poder intelectual não os impediu de acreditar na história — na verdade, aumentou a sua credibilidade. Um estudo de Ashley Jardina, da Duke University, na Carolina do Norte, por exemplo, analisou as opiniões dos republicanos brancos mais conservadores em relação à naturalidade do ex-presidente.

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Descobriu-se que as crenças na teoria eram mais fortes entre os participantes com maior conhecimento político. Os participantes mais instruídos também pareciam menos propensos a atualizar as suas crenças, depois de terem sido desmentidas. Em vez disso, ficaram mais convictos de que estavam certos. De alguma forma, o maior conhecimento simplesmente permitia que descartassem as novas informações e endurecessem as suas atitudes.

Como desmentir as "fake news"?

John Cook, da George Mason University, e Stephan Lewandowsky, da Universidade de Bristol, tinham o objetivo de encontrar uma maneira de proteger as pessoas da desinformação comum sobre a mudança climática — incluindo as falsas petições que mostram divergências generalizadas entre os cientistas sobre as verdadeiras causas do aquecimento global.

Em vez de abordar as reivindicações de frente, Cook e Lewandowsky mostraram primeiro aos participantes as tentativas anteriores da indústria do tabaco em espalhar informações erradas, que também incluíam o uso de especialistas falsos para lançar dúvidas sobre a pesquisa científica que vinculava o fumo ao cancro do pulmão. A estratégia funcionou bem. Depois de lerem sobre as táticas da indústria do tabaco, os participantes ficaram mais céticos em relação às petições sobre as mudanças climáticas.

Segundo David Robson, dada a grande prevalência de desinformação à nossa volta, as "formas de identificar desinformação, combinadas com o pensamento crítico, devem agora ser ensinadas em todas as escolas. Afinal, não são apenas as notícias políticas falsas que precisamos de evitar, mas também os golpes de saúde e fraudes financeiras".

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