24 de fevereiro: primeiro dia de guerra entre a Ucrânia e a Rússia e tomada de uma central nuclear em Chernobyl por parte das tropas russas.
4 de março: ataque dos russos à central nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa.
5 de março: o mundo está atento ao avançar das tropas russas em direção à central nuclear de Yuzhnoukrainsk, no sul do país.
Desde que começou o conflito, têm sido vários os avanços dos militares russos em direção às centrais nucleares ucranianas. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, chegou a acusar Vladimir Putin de "terrorismo nuclear", cita o "Jornal de Notícias", após as forças russas terem bombardeado a central de Zaporíjia, provocando dois incêndios.
O primeiro ataque, e único na história, no que diz respeito ao bombardeamento a uma central nuclear, deixou o país em alerta e o presidente ucraniano não poupou palavras no aviso que fez ao mundo sobre o que pode acontecer se a Ucrânia não for protegida.
"Dirijo-me a todos os ucranianos, a todos os europeus e a todas as pessoas que conhecem a palavra Chernobyl e que sabem quanto sofrimento e vítimas foram causados pela explosão da central nuclear. Foi um desastre global. Centenas de milhares de pessoas lutaram contra as consequências. Dezenas de milhares de pessoas foram retiradas. A Rússia quer repetir isso, mas seis vezes pior", disse a 4 de março sobre o trágico acidente nuclear em 1986, na cidade de Chernobyl, que ainda hoje é considerada uma zona de exclusão nuclear devido à presença de radiação prejudicial à saúde humana.
Mas por que é que Vladimir Putin tem tanto interesse em assumir o controlo das centrais nucleares da Ucrânia? A resposta pode ser simples: poder económico.
De acordo com a Agência Internacional de Energia Atómica, a Ucrânia tem 15 reatores nucleares operacionais, distribuídos por quatro centrais nucleares. Fora estes, há ainda quatro reatores nucleares da central de Chernobyl, permanentemente desativada, e ainda dois reatores nucleares em construção na central nuclear de Khmelnytskyi. Esta contagem mostra o poderio da Ucrânia, também o potencial do desastre se as centrais forem atacadas, mas principalmente a capacidade para produzir energia.
A Ucrânia não deixa, no fundo, de ser uma bomba relógio que o presidente Volodymyr Zelensky tenta proteger o mais que pode e que os ataques russos não facilitam.
Atacar uma central e o psicológico
O ataque a uma central nuclear é também o ataque a quem lá trabalha. E é isso que está a acontecer com a invasão à central de Chernobyl cujos trabalhares não têm descanso. A Agência Internacional de Energia Atómica referiu, aliás, na sexta-feira, 4 de março, que os trabalhadores estão “sob pressão psicológica” e em “exaustão moral”, cita o "Observador".
O diretor-geral da organização, Mariano Grossi, fez um apelos às tropas russas para que permitam o descanso dos trabalhadores da central e que os deixem organizar-se por turnos — algo de que estão impedidos, segundo relatos.
A situação não coloca apenas em causa o estado psicológico de quem trabalha na central nuclear de Chernobyl, mas também a “segurança das instalações nucleares”, avisou a agência internacional.
Porque é que a central nuclear de Zaporíjia é tão relevante?
A central nuclear que ardeu na madrugada de 4 de março é a maior da Europa e deixou o país, e a Europa, em alerta. "O exército russo está a disparar de todos os lados sobre a central nuclear de Zaporíjia, a maior central nuclear da Europa. O fogo já começou. Se houver uma explosão, será dez vezes maior do que Chernobyl. Os russos têm de cessar fogo imediatamente, permitir a passagem aos bombeiros e estabelecer uma zona de segurança", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, na altura do ataque.
A relevância, e ao mesmo tempo problema, é precisamente que esta central nuclear tem "seis reatores de energia" que, se forem atacados, corresponde a uma tragédia "seis vezes pior" do que Chernobyl, uma vez que em 1986 apenas explodiu um reator.
Há ainda um outro fator de peso que justifica a intenção de Putin sobre o ataque à central de Zaporíjia. Sendo a maior e sendo a Ucrânia o terceiro país do mundo mais dependente da energia nuclear, de acordo com o "Observador", atacar a maior central da Europa é também atacar o acesso à eletricidade no país e os cofres do mesmo.
Só em 2020, as centrais nucleares na Ucrânia foram responsáveis por 52,34% da eletricidade produzida no país, segundo dados do Our World in Data, e a Bloomberg avança que um total de 20% da eletricidade consumida na Ucrânia é produzida só pela central de Zaporíjia.
A intenção de Putin é atingir toda a Europa?
Tudo aponta para que não. A intenção da Rússia não será provocar um desastre nuclear, mas sim assumir o controlo das maiores centrais nucleares da Ucrânia e, consequentemente, tirar proveito da exploração da eletricidade, aponta o "Observador".
A teoria é confirmada por um especialista em segurança nuclear da Universidade de Harvard, Graham Allison, para quem a intenção dos russos no caso especifico da central de Zaporíjia era "fechar o fornecimento de eletricidade à área envolvente" e não a de causar um desastre nuclear, disse à BBC.
A destruição provada na central de Zaporíjia terá sido um "dano colateral" da invasão russa e não uma ação intencionada, segundo o investigador britânico James Acton, diretor do programa de política nuclear do think-tank Carnegie Endowment for Internacional Peace. "Especularia que a central não foi deliberadamente visada como alvo e que foi, essencialmente, um dano colateral”, escreveu no Twitter.