A ponta norte da Antártica foi atingida por uma onda de calor de nove dias no início de fevereiro. De acordo com imagens da NASA, perto de um quarto da neve da ilha Eagle, na península nordeste deste continente, derreteu, com grande parte da terra exposta e piscinas de água derretida na superfície (como se pode ver na imagem de destaque).

Foi no início de fevereiro que a Antártida, o continente mais frio do planeta, viveu o dia mais quente de sempre: chegou aos 18 graus Celsius, assinalando, assim, uma temperatura idêntica à de Lisboa ou Los Angeles no mesmo dia.

Em pouco mais de quatro semanas, quatro polegadas de neve derreteram — valor que representa cerca de 20% da acumulação total de neve sazonal nesta ilha, avançou o Observatório da Terra da NASA.

"Nunca vi lagoas de água derretida a desenvolverem-se tão rapidamente na Antártica", disse Mauri Pelto, geólogo da Nichols College, em Massachusetts, ao Observatório da Terra. "Este tipo de eventos de derretimento veem-se no Alasca ou na Gronelândia, mas na Antártica não."

Antártida regista a mesma temperatura do que Lisboa
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Faz sentido. É que este é o local mais frio da Terra. O que é que contribui para isto? Primeiro, e como já referimos, as temperaturas — não nos podemos esquecer que a Antártica acaba de registar a temperatura mais quente de todos os tempos. Essa onda de calor foi resultado de altas temperaturas sustentadas, um fenómeno muito raro nesta zona da Terra e que, até ao século XXI, quase nunca tinha ocorrido. Mas, há medida que a temperatura global aumenta, este tipo de evento climático também.

Também este mês, uma alta pressão sobre o Cabo Horn, no Chile, permitiu que temperaturas quentes se acumulassem e viajassem. À partida, nunca chegariam à península mais a norte da Antártica, porque esta zona costuma estar protegida destas temperaturas devido ao ventos fortes que atravessam o Hemisfério Sul. Só que desta vez eram estranhamente fracos e, assim, não foram capazes de impedir as altas temperaturas de penetrar nesta parte do continente gelado.

Além disso, para este derretimento rápido e invulgar, contribuem também os elevados níveis de gases tóxicos na atmosfera, que retém o calor produzido pelos humanos.

Segundo a Organização de Meteorológica Mundial, derretendo, as camadas de gelo da Antártica contêm água suficiente para elevar o nível global do mar em quase 60 metros, representando um perigo para milhões de pessoas.