O segundo confinamento devido à pandemia de COVID-19 está a ter especial impacto nas crianças e jovens. Novos dados de hospitais nacionais revelam que têm chegado às urgências cada vez mais casos de ansiedade. Só no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, o número de crianças e jovens que chegou à urgência e que teve contacto com a especialidade de pedopsiquiatria, com problemas de ansiedade e humor, aumentou quase 50% no início deste ano, em relação a igual período do ano passado, avança o jornal "Público".
Já no Porto, o Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ) registou um aumento de diagnósticos de perturbações de ansiedade na pediatria, passando de 70% para os 76% com o surgimento da pandemia.
“Sem dúvida que a pandemia e o confinamento têm impacto negativo na saúde mental de crianças e jovens e vai piorar mais tarde", alerta Carla Pinho, diretora do serviço de pedopsiquiatria do CHUC, ao mesmo jornal. "Estarem fechados desorganiza as crianças e jovens e os efeitos não são imediatos, vão aparecendo”, continua.
Carla Pinho destaca que na CHUSJ os casos de ansiedade diminuíram no período pandémico, ao passo que tentativas de suicídio e de perturbações de comportamento alimentar que chegaram à urgência, durante a pandemia, foram “mais graves”.
Este quadro não é apenas encontrado nas crianças, uma vez que também esta terça-feira, 2 de março, foi conhecido que doentes com patologia psiquiátrica têm chegado ao Hospital Júlio de Matos, em Lisboa, com um agravamento de sintomas de ansiedade, depressão, insónia devido ao isolamento.
Sobre o Hospital Dona Estefânia, Rita Rapazote, coordenadora do serviço de urgência de pedopsiquiatria, revela que o aumento de casos de ansiedade "é preocupante", mas era previsível, principalmente quando crianças e jovens são submetidos as um segundo confinamento. "É natural que haja menor tolerância e maior cansaço e sobrecarga nas famílias, com impacto na disponibilidade familiar e na capacidade de conter angústias dos mais novos", refere. Neste hospital, em menos de dois meses desde o início do ano, houve mais 81 crianças e jovens que chegaram à urgência com problemas de ansiedade e humor.
A Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) traça um panorama global do impacto da pandemia nas crianças e os últimos dados que compram o período de março-dezembro 2019 e março-dezembro 2020 indicam que as consultas de psiquiatria da infância e adolescência registaram um aumento nacional de 5,3%. A ACSS adianta ainda que houve uma diminuição de internamentos de crianças e jovens por motivos psiquiátricos — embora tal possa estar a acontecer por receio de idas ao hospitais, aponta Rita Rapazote ao "Público".
Pediatras apelam à urgência da reabertura de escolas
Cientes do problema, os pediatras pediram ao Governo esta quarta-feira, 3, a reabertura das escolas e a integração das crianças em atividades adequadas às suas reais necessidades, principalmente das crianças do ensino pré-escolar e nos primeiro e segundo ciclos do ensino básico.
"A aproximação ao normal poderá ter de ser faseada, com avaliação contínua e adequada, mas tem de ser rápida e programada de forma consistente", apelo feito em conjunto pela Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP), a direção do Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos e a Comissão Nacional da Saúde Materna, da Criança e do Adolescente, citado pelo "Diário de Notícias".
Quanto aos restantes grupos de ensino, os pediatras sugerem que a retoma seja faseada "por ciclos de ensino, deixando os mais diferenciados, em que os métodos de ensino não presencial colocam menos dificuldades, para mais tarde", dizem e deixam um alerta final em linha com os dados divulgados sobre os casos de ansiedade que chegam aos hospitais. "Não esqueçamos a necessidade de socialização dos adolescentes, cuja saúde mental está em risco".