António Rolo Duarte lançou uma campanha de angariação de fundos de 25 mil euros para financiar o seu doutoramento na Universidade de Cambridge. Como argumento, referiu uma "partida" do governo português referente ao adiamento da atribuição de bolsas pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) devido à pandemia da COVID-19 no País. Mas, sabe-se agora, as informações dadas por António Rolo Duarte no texto que apresenta a sua campanha têm imprecisões.

"A questão é a seguinte. Eu sou estudante de doutoramento. E na semana passada, o governo português pregou-me uma partida. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior adiou a atribuição das bolsas de doutoramento. Estas bolsas são a minha única fonte de financiamento. Então fiquei sem dinheiro para continuar a estudar", explica António Rolo Duarte no seu texto.

Contactado pela MAGG, o porta-voz do MCTES diz que não é a entidade que faz a gestão das bolsas e remeteu esclarecimentos para a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).  Também à À MAGG, Luís Ferreira, coordenador do gabinete de comunicação da FCT, garante que "não há qualquer adiamento programado na atribuição de bolsas de doutoramento referente ao concurso de 2020".

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Quando o tema são os atrasos provocados pelo surto da COVID-19 no País, Luís Ferreira explica que "o único adiamento que ocorreu neste processo até à data foi a prorrogação do período de candidaturas em um mês, que terminou a 28 de abril em consequência dos desenvolvimentos relacionados com a pandemia".

E continua: "A FCT procurou, desta forma, responder às solicitações enviadas pelos candidatos, que nas suas exposições manifestaram constrangimentos para a concretização dos processos, nomeadamente ao nível de tempo e de acesso à documentação necessária para submeterem as candidaturas."

Apesar disso, e do contexto pandémico que Portugal atravessa, Luís Ferreira reforça que todo o processo "está a decorrer dentro da normalidade" e que a entidade está a trabalhar no sentido de, mesmo tendo perdido um mês para o prazo de candidaturas, "poder apresentar os resultados aos candidatos dentro dos prazos que têm pautado este concurso nos anos anteriores".

Não é, portanto, verdade que o processo de atribuição de bolsas tenha sido "adiado indeterminadamente", como António Rolo Duarte diz no vídeo de apresentação da campanha que tem como objetivo final o valor de 25 mil euros. Até porque, explica a FCT, o prazo legal para que sejam devidamente anunciados os resultados de atribuição das bolsas de doutoramento só termina a 3 de setembro.

Estas bolsas, explica Luís Ferreira, são válidas para três tipos de modalidades: para trabalhos feitos em Portugal, no estrangeiro ou em regime misto. Para os trabalhos realizados no País, as bolsas atribuídas pela FCT têm o valor mensal de 1.064,00€, enquanto que para trabalhos realizados no estrangeiro o valor atribuído é de 1.865,00€. Ambos os valores podem ser atribuídos num total de 48 mensalidades por bolsa.

"A FCT também comparticipa as propinas pagas pelo aluno que, no caso de um plano de estudos no estrangeiro, tem o teto máximo de oito mil euros por ano até um máximo de quatro anos.", explica.

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Face à campanha de angariação de dinheiro de António Rolo Duarte — na qual pede uma doação mínima de apenas um euro (o equivalente ao preço "de um café") — a MAGG sabe que, no Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, a ideia foi vista com maus olhos, especialmente depois de ter sido noticiada sem contraditório noutras publicações, mas também porque a iniciativa foi montada com base numa premissa errada.

António Rolo Duarte defende-se: "Não estou a exigir nada a ninguém"

Em declarações exclusivas à MAGG, António Rolo Duarte reage à posição da FCT e diz "ter todo o respeito pelas pessoas que trabalham na FCT e no meio académico" e que, por isso, não lhes quer "causar confusões". Mas defende-se dizendo não estar a "exigir nada a ninguém".

"O que eu quero mesmo é falar sobre o meu doutoramento e os meus cafés. Quero tornar muito claro que não estou a exigir nada a ninguém. Não fico chateado com ninguém que não me pague um café. Mas quem achar a ideia porreira, pode pagar-me um café, e eu ficarei muito agradecido", diz. "Isto é uma ajuda para o meu doutoramento. É uma ideia criativa, prática e divertida, para ajudar com um assunto sério e com valor, que é a minha investigação académica sobre a História de Portugal. Sou um bom estudante e um bom investigador, apaixonado por Portugal, com vontade de aprofundar o nosso conhecimento sobre o nosso País."

Sobre o que terá levado António Rolo Duarte a afirmar que o processo de atribuição de bolsas tinha sido adiado, quando a própria FCT nega categoricamente essa alegação, o estudante defende-se dizendo que foi essa a informação que recebeu da própria entidade. "Um representante da FCT disse-me ao telemóvel que este ano o prazo não iria ser cumprido devido à situação da COVID-19 e que, por isso, não tinham uma data definida para quando seriam apresentados os resultados."

À data da publicação deste artigo, a campanha de angariação de fundos conta já com 209 apoiantes que, entre si, contribuíram com um total de 4.134,00€. O objetivo é chegar aos 25 mil euros até ao final de agosto.