Feitos os testes, os resultados: 99 infetados com o novo coronavírus e 15 mortes que se confirmam agora ter sido resultado do COVID-19. Este é o cenário do Lar da Santa Casa de Misericórdia de Aveiro, que, ainda que seja aquele que regista mais casos, é apenas um dos muitos do País onde a disseminação do vírus acontece de forma muito rápida.

Os números que espantaram o País não foram surpresa para o presidente da Câmara de Aveiro, Ribau Esteves, que já previa o acontecimento. "Em Portugal, a culpa tem tendência a morrer solteira, mas, neste caso, se quisermos encontrar um culpado é, sem dúvida, o Ministério da Saúde". Isto porque foram precisas duas semanas até que o pedido de testes para os utentes e funcionários dos lares tivesse uma resposta. E quando aconteceram, para alguns, foram já tarde demais. "Se os cem testes que pedimos tivessem vindo imediatamente, tinham-se evitados mortes, isso é certo", refere à MAGG o presidente da câmara.

Fazendo uma cronologia com a ajuda do autarca, percebemos que os primeiros casos surgiram há cerca de um mês. "Algumas pessoas apresentaram sintomas e nessa altura foram feitos 40 testes", conta. Quando percebeu que 50% dos resultados eram positivos, pediu que fossem feitos testes a todos os utentes e funcionários daquele que é o maior lar da cidade e conta com 120 idosos e 80 profissionais, dos quais fazem também parte também médicos e enfermeiros.

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Só que os cem testes que pediu para serem feitos de imediato, só aconteceram a semana passada. "Durante esses dias as pessoas foram morrendo e a disseminação do vírus não parou", refere. Quando os resultados foram finalmente divulgados, ditavam então as 15 mortes e os 99 infetados.

Ainda que considere que este lar tem características muito próprias, por albergar idosos de uma idade muito avançada, alguns deles já em cuidados continuados, Ribau Esteves fala de uma "péssima logística do Ministério da Saúde", que não conseguiu dar resposta a tempo e só reagiu quando os números foram tornados públicos.

Nos hospitais da região faltaram zaragatoas — o utensílio usado para a recolha da amostra para teste — até esta terça-feira, dia em que chegou finalmente uma encomenda de 2 mil. "Esta é parte da encomenda que devia ter chegado há quinze dias", lembra o autarca. Chegou também mais material de proteção individual, que será distribuído pelos hospitais e também pelos lares.

Ribau Esteves admite o cansaço dos últimos dias. "Segunda-feira foi o dia mais negro desta luta", refere, numa referência ao momento em que os números foram divulgados. Nas últimas semanas tem sido uma das pessoas que serve de ponte entre todos os setores envolvidos na luta contra o vírus no distrito. "Nós na câmara e o bispo de Aveiro, por exemplo, somos as pessoas que lidam diretamente com os familiares que ligam a pedir satisfações sobre as mortes ou que querem ver os utentes a serem testados", salienta. "É que se uma pessoa de 101 anos morrer num lar, é normal. Se morrer devido ao COVID-19, como aconteceu no lar da Santa Casa a uma utente dessa idade, já é notícia".

Número de mortes em lares não para de aumentar

Em Ílhavo, no Lar de S. José, o número de óbitos também aumentou esta semana, de dois para quatro, tal como no Lar de Santa Isabel, em Mafamude, Gaia, que contabiliza agora dois mortos.

No Alto Minho, a situação começa a preocupar a população, depois dos dois mortos e 30 infetados confirmados num lar de Darque. Viana do Castelo, Arcos de Valdevez e Melgaço também já confirmaram casos positivos em lares.

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Cinco utentes do lar Centro Social de Bairro, em Famalicão, morreram e outros três idosos acolhidos no Asilo de S. José, em Braga, onde 42 pessoas estão infetadas, também acabaram por não resistir.

O presidente da Comunidade Intermunicipal do Alto Minho disse esta terça-feira, 7 de abril, em declarações à Agência Lusa, que a região precisa de dois mil testes para efetuar o despiste de Covid-19 aos cerca de 1.700 idosos residentes em lares do distrito de Viana do Castelo. "É necessária urgência. Urgência é para já, não é para daqui a uma semana. É para já", refere. Para o responsável, esta será a única forma de sinalizar os infetados e evitar a propagação do vírus.

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