À medida que Portugal começar novamente a abrir, deverá ser ser "impossível" manter o Rt, o valor que identifica o rácio de transmissibilidade do vírus, abaixo de 1 de "forma permanente". Quem o diz é Óscar Felgueiras, matemático e um dos especialistas ouvido pelo governo durante a fase de delineação do plano de desconfinamento que entrou em vigor esta segunda-feira, 15 de março.

"Não devemos ter o Rt acima de 1. É óbvio que isso é impossível de ser atingido de forma permanente. A certa altura, vamos ter poucos casos e basta uma pequena variação para termos necessariamente o Rt acima de 1", começou por dizer o especialista durante uma conferência virtual promovida pela Sociedade Portuguesa da Matemática, escreve a Agência Lusa, citada pelo jornal "Observador".

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Apesar disso, Felgueiras reforça que o objetivo ao longo das próximas semanas deve ser bastante claro: procurar que a incidência do vírus seja baixa em todo o território nacional. "É muito importante que as pessoas tenham constantemente a perceção de risco. Normalmente, as coisas começam a correr mal quando se perde essa noção", continuou.

E ainda que, neste momento, a incidência do vírus seja "muito baixa", o matemático e especialista em epidemiologia demonstra alguma preocupação com a nova variante — principalmente porque, nas suas palavras, "não convivemos tempo suficiente" com ela para a "conhecermos assim tão bem".

Embora nesta primeira fase aquilo a que se assistirá será a um pequeno aligeirar das medidas restritivas que estavam em vigor desde janeiro, para Óscar Felgueiras faz todo o sentido que este processo começasse pela reabertura das creches.

"Sabemos que as crianças têm muito menor risco. Podem contrair o vírus e contagiar outros, mas em termos de consequências para elas próprias, não há grande perigo", e, por isso, considera que só podia fazer sentido começar o desconfinamento pelas crianças.

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A 11 de março, momento em que António Costa falou ao País para anunciar a reabertura, reforçou que o processo seria feito a "conta-gosta" e com "toda a cautela". "Devemos começar a abrir com segurança, mas tem de ser uma abertura prudente, gradual, cautelosa", explicou. O objetivo? Não "estragar o que conseguimos alcançar, para retomar com segurança a normalidade possível".

Para que isso aconteça, haverá regras, tal como o recolher obrigatório até à Páscoa. A proibição de circulação de concelhos manter-se-á nos próximos fins de semana, e durante o período da Páscoa — entre 26 de março e 5 de abril.

A partir desta segunda-feira, 15, abrem as creches, o ensino pré-escolar, o primeiro ciclo e cabeleireiros. Os cafés e restaurantes continuam de portas fechadas e as livrarias podem voltar a funcionar normalmente.