A Direção Geral da Saúde (DGS) confirmou esta sexta-feira, 23 de agosto, “o primeiro caso laboratorialmente confirmado de febre hemorrágica da Crimeia-Congo (FHCC)” em Portugal, depois de um homem com 80 anos morrer infetado no Hospital de Bragança. Ao que tudo indica, a confirmação da infecção foi feita apenas depois da sua morte, de acordo com o jornal “Público”, e a DGS adianta que não foram detectados mais casos no País até ao momento.

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Os primeiros sintomas, segundo o “Correio da Manhã”, começaram a aparecer no dia 11 de julho, e enquanto estava no período de incubação, o homem realizou “várias atividades agrícolas”. Pouco tempo depois, foi internado no Hospital de Bragança “por sintomatologia inespecífica”, acabando por morrer. A divulgação da confirmação da infecção vem pouco mais de uma semana depois de os testes terem sido realizados, a 14 de agosto, pela DGS, mas não foi divulgado o dia certo da morte do homem. 

Na investigação feita pelas Autoridades de Saúde não foram encontrados registos de viagens ao estrangeiro, e sim apenas algumas atividades que foram feitas ao ar livre na área de residência do homem. Devido à situação, a DGS já se comprometeu a manter a vigilância desta doença, mas deixou claro que se trata apenas “de um caso raro e esporádico” e não existe risco de surto nem transmissão.

O que é a febre Hemorrágica?

A febre hemorrágica da Crimeia-Congo (FHCC) é uma doença viral infectocontagiosa que é causada por um vírus presente nas espécies Hyalomma lusitanicum e Hyalomma marginatum, algo parecido com carraças. Gustavo Tato Borges, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, explicou, citado pela CNN Portugal, que esta febre se trata de uma “zoonose que apanha pessoas com contacto próximo com animais e zonas vegetativas onde existam carraças e outros agentes do género”.

Esta doença é mais comum em África, nos Balcãs, no Médio Oriente e na Ásia, especialmente nos países abaixo dos 50 graus de latitude norte, de acordo com o “Jornal de Notícias”. No entanto, Gustavo Tato Borges avançou que esta doença tem começado aos poucos a deixar de estar “circunscrita a zona tropicais” muito graças às alterações climáticas, uma vez que estas permitem que as carraças se espalhem e se instalem noutros locais.

Por este motivos, as autoridades portuguesas revelaram que ainda estão em curso algumas "investigações entomológicas reforçadas para recolha de carraças no distrito de residência do caso [em Bragança], assim como o seu estudo sobre a eventual deteção de carraças infetadas com o vírus FHCC", citou o CM. Ainda assim, segundo o "JN", os hospedeiros do vírus também podem incluir animais selvagens e domésticos, como gado bovino, ovino e caprino, uma vez que estes também podem ser infectados pelas carraças.

Como se transmite?

Tanto nos animais como nos humanos, a principal forma de transmissão dá-se através da picada de carraças do género Hyalomma ou “por contacto com sangue ou tecidos de animais infetados durante ou imediatamente após o abate”, explica a Organização Mundial da Saúde (OMS), citada pelo "JN". Assim, trabalhadores agrícolas, trabalhadores de matadouros e veterinários são grupos de risco de infeção. 

Além disso, a transmissão também é possível entre humanos, podendo ocorrer em casos de "contacto próximo com sangue, secreções, órgãos ou outros fluidos corporais de pessoas infetadas". Atualmente, não há vacina humana ou animal que possa evitar a doença, e os primeiros sintomas podem começar a aparecer entre 3 a 12 dias.

Sintomas desta doença

De acordo com a OMS, os sintomas não são específicos de uma só doença, começando pela febre, dor, tonturas, dor e rigidez no pescoço, dores de cabeça ou irritação ocular. “Inicialmente, podem ocorrer náuseas, vómitos, diarreia, dores abdominais e dores de garganta, seguidas de alterações súbitas de humor e confusão", explicam. Existe ainda a possibilidade de ocorrência de taquicardia e o “surgimento de equimoses na boca e garganta ou na pele”.

Dois a quatro dias após a infeção, estes sintomas podem transformar-se em sonolência, depressão e fraqueza, podendo ocorrer dor abdominal, com aumento do tamanho do fígado. Pelos dados publicados, a taxa de mortalidade associada a esta doença é de 30%, com a morte da vítima a acontecer durante a segunda semana de infecção. No entanto, para quem consegue recuperar, o desaparecimento dos sintomas começa no décimo dia.

Como tratar e como prevenir

Segundo a CNN Portugal, o controlo da febre é o procedimento mais comum para se tratar esta doença, assim como a assistência médica, podendo ser preciso, em alguns casos, internar o paciente e adaptar o tratamento à sua gravidade. Ao que tudo indica, conforme já foi dito, cerca de 70% das pessoas que necessitam de internamento sobrevive, sendo que os pacientes ficam totalmente curados depois de 20 dias. 

Quanto a prevenções, Gustavo Tato Borges aconselha a todos os que caminham por zonas com mais vegetação para usarem “roupas claras e largas”, evitando a todo o custo “o contacto com a vegetação”. Além disso, o médico também pede para se “fazer uma inspeção do corpo para remover alguma carraça”, assim como para verificar se não existe nenhuma picada.