O verão passado, a ilha indonésia de Lombok tremeu. Foram três sismos que deixaram mais de 500 mortos (o número exato nunca foi conhecido), milhares de feridos e muita destruição.

Rita Xavier não estava em Lombok, mas estava perto. Aliás, com 23 anos, era já a terceira vez que viajava para aquele lado do mundo. "E cada vez que vou fico ainda com mais vontade de voltar", conta à MAGG. É o clima que puxa à praia, a comida que reconforta o estômago, as paisagens que nos fazem abrir a boca de espanto a toda a hora, mas para Rita são, principalmente, as crianças. "Sabem viver com pouco, dão valor a tudo o que lhes é dado. Apaixonei-me por elas".

Dedicar a vida a fazer a diferença. Histórias de mulheres que vivem para ajudar
Dedicar a vida a fazer a diferença. Histórias de mulheres que vivem para ajudar
Ver artigo

Se na primeira viagem que fez, em 2015, não ia prevenida e acabou por comprar brinquedos num supermercado para distribuir pelas crianças que encontrava, das últimas vezes levava de Portugal malas cheias com tudo o que era doado por familiares e amigos mais próximos.

Com o terramoto, percebeu que a sua mala, ainda que cada vez mais cheia, já não chegava para dar resposta aos milhares de crianças que, de repente, ficaram sem o pouco que tinham.

"Agendei o meu regresso à Indonésia para dezembro, mas desta vez já não ia sozinha", conta. Levava consigo seis amigos, todos dispostos a ir em regime de voluntariado e, além disso, falou com os miúdos de sete escolas para reunir o maior número de brinquedos possível. Esse "maior número" superou todas as expetativas e chegou aos 6 mil brinquedos. "Foi incrível ver as crianças dizerem coisas como 'eu vou dar a minha espada', 'eu vou dar a minha boneca'", lembra.

Desembarcaram os sete em Lombok, mas os brinquedos não. "Informaram-nos na alfândega que fomos sorteados e que, por isso, calhou-nos a nós pagarmos 35 mil dólares para fazer chegar a mercadoria". Rita fez as contas e esse dinheiro, naquela zona, daria para construir 75 casas. "Não quis pactuar com esse negócio nem, por outro lado, perder a oportunidade de ter um grupo de pessoas dispostas a ajudar. "Decidimos que mesmo sem brinquedos íamos brincar", explica. E durante quase um mês estiveram à disposição das crianças, fosse para ensinar inglês, para jogar à macaca ou, simplesmente, para dar colo.

Agora, as imagens que o voluntário e fotógrafo Manuel Geadas tirou dessa experiência vão estar expostas e à venda em Lisboa durante entre os dias 15 e 21 de março.

Voluntariado pode ser só brincar ou tirar fotografias

Carolina Figueiredo, Mafalda Matos, Manel Geada, Patrícia Paralta, Manuel Rocheta, Gonçalo Cunha e Sá são os seis amigos que se juntaram a Rita nesta aventura a que deram o nome de Mainam, que em indonésio quer dizer brinquedo.

Voluntariado no estrangeiro. 5 organizações mundiais para onde pode ir ajudar
Voluntariado no estrangeiro. 5 organizações mundiais para onde pode ir ajudar
Ver artigo

Pagaram a viagem ainda sem saber que os brinquedos nunca chegariam mas assim que aterraram perceberam que só a sua presença já seria uma ajuda. "Foram três semanas a dar tudo de nós", recorda Rita que, tal como Manuel, o fotógrafo de serviço, ficaram mais uma semana só a tentar que o governo deixasse desembarcar os brinquedos. "Pediam-me cada vez mais documentos, cada vez mais dinheiro, até que disseram que tudo seria destruído".

Resignados, acabaram por voltar a Portugal, mas da Indonésia traziam demasiadas experiências para contar para que ficassem só como tema de conversa entre amigos. Reuniram 285 fotografias tiradas por Manel, que fez ainda um documentário em vídeo, e conseguiram um sítio em Lisboa onde, durante três dias, vão poder mostrar como foi esse mês a brincar, ainda que sem brinquedos. E mais, todas as fotografias vão estar à venda (preços a partir de 30€) e o dinheiro angariado vai servir para ajudar nos custos da viagem mas, principalmente, na preparação da próxima, cujo intuito é dar as bases para a construção de escolas em Lombok. "Era tudo o que as crianças mais pediam, uma escola", refere Rita.

A Pulau, que quer dizer ilha em indonésio e que serve de nome a esta exposição, vai estar aberta ao público com entrada livre na loja de roupa 100% portuguesa Sublime Warehouse que, além de ceder o espaço, disponibiliza 10% do valor de cada peça vendida ao projeto Mainan.

A exposição acontece entre 15 a 21 de março, das 15h às 21h (dia 21 de março até às 22h).