No início do mês de novembro, Amy Schumer (“Descarrilada”) cancelou vários espetáculos no estado do Texas, Estados Unidos da América, devido a uma complicação de saúde. A conhecida comediante e atriz, atualmente grávida, anunciou na sua página de Instagram que teve de ser internada devido à hiperémese gravídica, uma patologia pouco comum, que afeta 0,2% a 2% das mulheres grávidas.

Esta condição, que se traduz em náuseas intensas e vómitos muito frequentes, não possui uma causa identificada, mas tem uma relação direta com a produção hormonal. Quem o diz é Fernando Cirurgião, ginecologista e obstetra na Clínica de Santo António, que explica que esta é “tipicamente, uma patologia do primeiro trimestre de gravidez, sendo que pode eventualmente estender-se até às 14, 15 semanas”. Para além das náuseas e dos vómitos, existe uma “intolerância a sólidos e líquidos”.

O especialista explica que as mulheres grávidas que têm hiperémese gravídica “sentem-se fracas, sem energia e não conseguem manter a sua atividade habitual de dia a dia”, devido à desidratação extrema causada pelos vómitos frequentes, e acabam por ter uma “tensão arterial baixa e passam por uma perda de peso e falta de apetite”.

Em casos mais extremos, a hiperémese gravídica pode levar ao internamento

Tal como Amy Schumer, também Kate Middleton já foi afetada por esta patologia. De acordo com a revista “Forbes”, a duquesa de Cambridge chegou a passar uma temporada hospitalizada durante a sua primeira gravidez devido a esta condição.

“Levada ao extremo, esta doença pode causar tantos vómitos que existe uma necessidade de internamento para evitar complicações hepáticas ou renais”, salienta Fernando Cirurgião, que acrescenta que quem passa por esta doença acaba por perder muitos iões, sódio, potássio, “micro-elementos que têm de ser repostos, tal e qual quando passamos por uma severa gastroentrite”.

Fernando Cirurgião, ginecologista e obstetra na Clínica de Santo António
Fernando Cirurgião, ginecologista e obstetra na Clínica de Santo António

Não existe qualquer tipo de prevenção para esta doença. No entanto, enquanto a desidratação não for severa e não exigir um internamento, Fernando Cirurgião recomenda que se reponham os níveis de nutrientes com um chá açucarado, “para fornecer energia, e pode-se acrescentar umas pedrinhas de sal”. O especialista também sugere a ingestão da tradicional coca-cola para este efeito, e avisa que a água é “um mau hidratante oral” neste caso, pois não possui nutrientes e não deve ser uma alternativa nas situações de reposição de energia e hidratação.

Há uma luz ao fundo do túnel — esta é uma patologia passageira

Com a estabilização da hormona HCJ a partir das 12 semanas, Fernando Cirurgião explica que os vómitos frequentes devem passar a partir das 15 semanas. “Esta situação acaba por atenuar e desaparecer. É importante transmitir isso a quem está a vomitar dia e noite, que precisa de ir ao hospital fazer a reposição com soros e, pelo menos, dar-lhe esperança que não vai passar nisso a gravidez inteira”, refere o especialista.

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Como fatores de risco para o surgimento da hiperémese gravídica, Fernando Cirurgião refere que, “se uma mulher passou por isso numa gravidez anterior, é provável que a situação se repita”. Devido à relação direta desta patologia com a produção hormonal, o especialista salienta também que as “gravidezes gemelares são um fator de risco, bem como algum grau de obesidade”. A doença também pode surgir mais em mulheres jovens, “abaixo dos 20, 25 anos”.

Para além da reposição de líquidos, o obstetra reforça ainda que esta é uma situação que pode estabilizar com medicação. “Existem produtos no mercado seguros para a mãe e para o bebé”, conclui Fernando Cirurgião.