Foi em janeiro de 2018 que o primeiro-ministro António Costa visitou o restaurante Mezze, em Arroios, reconhecido pelo importante trabalho na integração de refugiados em Portugal, onde trabalhava Yasser A. — um dos irmãos iraquianos detidos na passada quarta-feira, 1 de setembro, por suspeita de crimes contra a humanidade e de adesão à organização terrorista Daesh, avança o "Diário de Notícias".

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Com António Costa estava o ex-presidente da República, Jorge Sampaio, e, além destes, também Marcelo Rebelo de Sousa apareceu ao lado do iraquiano nesse mesmo ano, mas meses mais tarde. Em junho de 2018, o atual Presidente da República visitou o restaurante juntamente com os embaixadores da União Europeia, escreve o mesmo jornal.

"O  restaurante Mezze em Lisboa, da Associação Pão a Pão, com a sua equipa do Médio Oriente, é a prova da integração bem sucedida, fruto do empreendedorismo e do apoio da sociedade civil e de instituições públicas e privadas", escreveu, na altura, António Costa numa publicação partilhada no Twitter. Nessa mesma publicação, o chefe do governo partilhou ainda as imagens nas quais se encontra ao lado do detido.

Na altura da visita, Yasser A. e o irmão, Ammar A., já estavam a ser investigados pelas autoridades há meses. O inquérito arrancou em julho de 2017 com base em informação do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). De acordo com a informação presente na altura, os dois irmãos tinham sido identificados por outros refugiados da mesma região como tendo pertencido à "polícia da moralidade", a hisbah do Daesh em Mossul, de onde eram provenientes, lê-se na notícia avançada pelo "DN".

Marcelo não sabia da eventual presença de um suspeito de terrorismo no restaurante

Questionado pelos jornalista sobre a situação, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que, na altura, não teve informação da eventual presença de um suspeito de terrorismo no restaurante. "Não havia informação. E não sei mesmo — isso é um problema de matéria classificada — até que ponto é que não faz parte da estratégia da fiscalização dar espaço de liberdade a quem pode ser uma pista para encontrar outras estruturas para efeitos posteriores", disse o Presidente da República, citado pelo jornal "Observador". 

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"Antes desse almoço houve uma preparatória, não havia nenhuma contraindicação de segurança. Passo a vida na praia, no hipermercado a fazer compras. Como imaginam, é muito difícil ter a certeza de que as pessoas que estão ali ao lado não virão mais tarde a ser consideradas ou já são consideradas suspeitas de serem ou não terroristas", acrescentou.

Para já, não se sabe se os dois assessores para a segurança que faziam parte do gabinete de António Costa, um oficial da PSP e outro da GNR, foram ou não informados de tudo o que poderia colocar em risco a segurança do primeiro-ministro, escreve o "DN".

"As informações sobre as ameaças relacionadas com o terrorismo devem ser partilhadas na Unidade de Coordenação Antiterrorista (...) designadamente do tipo das que eram do conhecimento da PJ, SEF e SIS. Com base nestas informações, o SIS, que deve estar a par da agenda do primeiro-ministro, elaboraria a sua avaliação de risco e a segurança pessoal da PSP agiria em conformidade. É assim que deve funcionar. Tendo em conta que a visita se manteve, apesar da gravidade do que estava em causa, só pode ter havido uma falha em algum ponto desta partilha de informações que, no limite, pode nem ter chegado ao gabinete do primeiro-ministro", afirma em entrevista ao "DN" um antigo assessor de S ão Bento, que conhece os procedimentos de segurança.