Aconteceu na sexta-feira, 30 de abril. Através de um texto publicado na sua página pessoal de Facebook, a jornalista Joana Emídio Marques acusa o editor Manuel Alberto Valente de assédio sexual em 2012, altura em que o próprio era diretor editorial da Porto Editora, durante um jantar de trabalho.

O jantar, segundo explica, terá acontecido após começar "a correr a notícia de que a Porto Editora ia comprar a mais importante chancela de poesia a Assírio e Alvim". No âmbito dessa história que Marques estava a investigar, o jantar aconteceu com o intuito de perceber exatamente os detalhes do eventual negócio.

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Foi logo no início do jantar que, diz a jornalista, que Manuel Alberto Valente terá, alegadamente, tirado "do bolso uma caixinha de comprimidos que espalhou na palma da mão".

"Aproximou[-a] do meu rosto e lançou: 'Estás a ver? Não tenho aqui nenhum comprimido azul'. Eu, que acabara de conhecer o homem e não queria parecer burra, forcei o meu cérebro a tentar entender a 'piada', mas não consegui. 'Oh', soltou ele, 'não te faças de sonsa'. Assim, logo a tratar-me por tu e a insultar-me de forma velada", conta.

"Ele já tinha percebido que não me ia levar para a cama e eu já tinha percebido que, sem isso, não havia estória"

"Nesse momento, entendi: o homem estava a mostrar-me, a dizer-me que não tomava Viagra. E aquilo que era para mim um jantar de trabalho tornou-se, logo ali, numa humilhação. Não me lembro do que falámos, além de coisas como as dívidas e a falência iminente da Assírio, [mas] entre piadinhas aqui e ali ainda ouvi: 'Pensei que fosses uma mulher totalmente frívola, mas és esperta", recorda.

A partir desse momento, Joana Emídio Marques percebeu que não seria possível perceber, concretamente, os detalhes do negócio que envolviam a Porta Editora. "Por essa altura, já tinham sido medidas as forças. Ele já tinha percebido que não me ia levar para a cama e eu já tinha percebido que, sem isso, não havia estória."

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Tal como o texto da jornalista o descreve, foi no final do jantar que Manuel Alberto Valente terá, alegadamente, avançando indesejadamente sobre Marques. "Como fazia sempre, tinha deixado o meu carro estacionado na Rodrigues Sampaio, junto à porta do DN. Ele ofereceu-se para me dar boleia até lá. Aceitei. Erro meu. Quando parou o carro e ia dar-lhe os tradicionais dois beijos de despedida, o Manuel Alberto Valente ainda achou por bem começar a tentar beijar-me na boca, com uma descontração que mostrava que ele deve ter feito isto centenas de vezes. Afastei-me e saí do carro. Chamei-o de velho porco e, em silêncio, humilhada, chorei até Setúbal", lê-se na publicação original.

O editor reagiu este domingo, 2 de maio, na sua página de Facebook, negando todas as acusações e dizendo que tem intenções de agir judicialmente contra Joana Emídio Marques.

"Na passada sexta-feira, uma determinada senhora fez-me acusações extremamente graves e, acima de tudo, falsas. Comentá-las, em concreto, nas redes sociais, ou mesmo perante os órgãos de comunicação social que reproduziram tal publicação, seria incendiar ainda mais um justicialismo de praça pública. Neste sentido, informo que já contactei os meus advogados e lhes dei indicações expressas para agir judicialmente contra a autora de tal publicação, por ser a mesma atentatória da minha honra e consideração", lê-se.

Porto Editora diz nunca ter tido conhecimento do caso

Já a Porto Editora, contactada pela MAGG ainda no domingo, remeteu esclarecimentos apenas para esta segunda-feira, 3. Numa nota enviado por e-mail, fonte oficial do Grupo Porto Editora diz que a editora "desconhecia por completo o caso relatado pela jornalista", e que, "em nenhum momento, ao longo destes anos, chegou ao conhecimento dos seus responsáveis máximos qualquer queixa ou relato relacionado com o caso em apreço ou qualquer outro de natureza similar".

"No Grupo Porto Editora, há uma cultura de respeito e de salvaguarda dos direitos fundamentais de cada indivíduo, sendo inaceitável qualquer atitude ou comportamento que, no relacionamento profissional entre trabalhadores, e destes com os nossos públicos, contrarie esse quadro de valores", lê-se.

No que toca à saída de Manuel Alberto Valente da Porto Editora, a mesma fonte oficial diz que essa decisão "foi estritamente pessoal, que o Grupo Porto Editora respeitou e aceitou".

"Com um percurso de décadas em várias casas editoriais, como a D. Quixote, a ASA e a Leya, os últimos 12 anos desse caminho foram no Grupo Porto Editora, tendo Manuel Alberto Valente exercido as suas funções com elevado profissionalismo, empenho e sentido de compromisso", conclui a editora.