Maciel Vinagre tem 45 anos, é natural da freguesia de São Vicente da ilha da Madeira. Largou os estudos em Contabilidade para, aos 18 anos, em busca de uma vida melhor, partir para o Reino Unido, onde começou por trabalhar num restaurante, local onde aperfeiçoou o conhecimento na língua inglesa.
Começou a trabalhar no Ashford Hospital em 1997, como empregado da limpeza e, nesse mesmo ano, foi promovido a supervisor. Hoje é diretor adjunto dos serviços de limpeza e restauração dos hospitais Ashford e St. Peter's, em Londres, tendo sido reconhecido na lista de condecorações pelo aniversário da Rainha por serviços prestados durante a pandemia. Mas o madeirense não acreditou de imediato: achou que se tratava de um engano. "Estava no escritório e recebi um email do 'Cabinet Office' [ministério do Governo] a dizer que tinha sido distinguido na lista da Rainha. No princípio pensava que era mentira, só pode ser engano. Os meus colegas disseram-me para apagar porque podia ser fraude", disse, em declarações à Agência Lusa.
Mas era tudo verdade. Maciel Vinagre recebeu mesmo a Medalha do Império Britânico (British Empire Medal", depois de ter sido nomeado por colegas e superiores que destacaram o "conhecimento e criatividade" demonstrados na prevenção e contenção da infeção dentro dos hospitais — não só dos doentes, mas também dos funcionários.
Tanto assim é que David Fluck, diretor médico dos hospitais, elogiou o português, descrevendo uma "forte liderança durante toda a pandemia numa equipa que desempenhou um papel fundamental na redução do risco de transmissão da covid-19 nos nossos hospitais", disse, citado pela agência Lusa.
Maciel Vinagre implementou alterações práticas no quotidiano destes hospitais no sentido de proteger toda a gente. "Introduziu mudanças na maneira como mantemos a limpeza dos nossos hospitais daqui para frente, o que vai proteger muitos pacientes e funcionários de perigo, mesmo após o fim da pandemia", afirmou este responsável."
Uma das ações destacadas foi a contratação de uma empresa especializada em desinfeção, que opera através de um vapor desinfetante, que assegura que as superfícies se mantêm livres do vírus durante 30 dias.
"Era um produto novo no mercado e não sabíamos se era eficaz. Mas contratámo-los para descontaminarem desde corredores a casas de banho e escadas em turnos de 24 horas por dia. Valeu a pena, o hospital tem uma das taxas de mortalidade mais baixas da zona", explicou.
A sua solução para, em plena crise, esterilizar as máscaras de protecção individual — permitindo, assim, reciclá-las e fazer frente à incerteza relativa à vinda de novo equipamento — também foi valiosa.
"Mandei fazer uma linha tipo de secar roupa, pendurámos máscaras e esterilizámos 500 em três dias com luzes ultravioleta. Felizmente não foi preciso porque chegaram novas, mas se fosse preciso estava o processo pronto", contou Vinagre.
Português entre 411 heróis anónimos
São muitos os elogios. Outro refere-se à maneira como foi capaz de recrutar trabalhadores para compensar ausências, tendo tido um papel fundamental na motivação dos empregados de limpeza, muito alerta quanto aos perigos que corriam ao desempenhar o seu trabalho — quatro funcionários de hospital morreram de COVID-19, incluindo um membro da equipa de limpeza de Vinagre que tinha 71 anos.
O trabalho de Maciel Vinagre chamou a atenção para a importância do trabalho de limpeza durante pandemia, tendo o português integrado, assim, a lista dos 411 heróis anónimos — desde enfermeiro, a cientistas, ou a pessoas que produziram refeições gratuitas ou equipamento de proteção — que receberam condecorações da Tainha, em reconhecimento da intervenção "excecional".
Em anos normais, a condecoração é dada em julho, mês do aniversário da Rainha e inclui figuras de outras áreas, como desporto ou artes. Em 2020, a lista foi só divulgada em outubro, para se dar prioridade aos heróis da "linha da frente".