Portugal registou 27 mortes por afogamento no primeiro trimestre deste ano, uma subida de 12,5% em comparação com o mesmo período de 2022, de acordo com dados da Federação Portuguesa de Nadadores-Salvadores. João Pombo, capitão-tenente na Marinha Portuguesa, dá a conhecer algumas das recomendações que motivam a 14.ª edição do projeto Seawatch, uma colaboração que visa sensibilizar e ajudar a reforçar a vigilância nas zonas aquáticas do País.

Este projeto nasce de uma parceria entre a SIVA (Sociedade de Importação de Veículos Automóveis) e o Instituto de Socorros a Náufragos, e coloca 30 viaturas Volkswagen Amarok espalhadas por todo o País. O objetivo é, por um lado, a sensibilização, e por outro, garantir a segurança dos banhistas com um foco maior nas áreas não vigiadas.

O projeto também pretende contribuir para reforçar a assistência nas áreas vigiadas, atendendo aos equipamentos que têm nas viaturas, que podem ser para o uso dos próprios nadadores salvadores.

Projeto Seawatch
Estes são os veículos do projeto Seawatch créditos: Paulo Maria / ACP Motorsport

Em entrevista a João Pombo, foram reunidas as cinco principais recomendações para aproveitar a água nos próximos meses quentes.

1. Procurar sempre zonas vigiadas

Os dados mostram que a maior parte dos afogamentos mencionados ocorreram à tarde (48,1%), todos em locais não vigiados, e apenas três foram presenciados e tiveram tentativa de salvamento.

João Pombo explica que “a recomendação é frequentar as zonas que têm vigilância e nadadores salvadores”. Isto porque “os dados dos últimos anos evidenciam que quem frequenta uma praia vigiada tem uma probabilidade muito baixa de ter algum problema e não conseguir ser socorrido em tempo útil”, acrescenta.

Esclarece até que “estas situações representam um perigo muito maior na fase em que as pessoas já começam a ir à praia, mas ainda não há vigilância”, referindo-se aos meses de abril e maio, quando começa o bom tempo e as praias começam a ficar preenchidas. Ainda assim, o mês de janeiro foi o mais mortífero, com dez mortes, seguido de fevereiro, com nove, e março, com oito.

2. Prevenir é cuidar, com atenção aos perigos do mar

“A ondulação tem força para mandar um banhista ao chão. Também há que considerar a questão dos fundões, muitas vezes associados às correntes, que vão escavando o fundo de areia e que acabam por criar zonas em que a profundidade tem uma variação muito grande e a pessoa pode não estar à espera e de repente fica sem pé”, revela João Pombo.

Para além destes perigos, uma boa parte das situações em que existe risco de afogamentos está relacionada com agueiros, com correntes que se geram nos rios, ou até com acidentes cardíacos ou outras doenças, adiciona.

O capitão-tenente esclarece, sobre este último exemplo, que pode acontecer a pessoa estar a tomar banho sozinha, ter um episódio de crise de saúde e não ter ninguém à volta a quem sinalizar. Como se previnem estas situações?

Embora não possam ser prevenidas por completo, um dos conselhos que João Pombo dá é, para as primeiras situações, averiguar antes de entrar na água (se a zona é segura ou se há riscos como os mencionados). Caso tenha algum risco de saúde, para além de procurar uma zona vigiada, ajuda estar sempre acompanhado.

Na própria praia, também salienta que as pessoas não se devem colocar em zonas de sinalização perigosa, como as que têm risco de derrocadas, por exemplo.

3. Estar atento às crianças

“Ainda existe muito desconhecimento dos reais perigos de estar em espaços aquáticos e isso tem de ser trabalhado a nível nacional, e a forma mais eficaz de transmitir esta mensagem é através das crianças”, diz João Pombo. “Não será a forma mais rápida, mas será a forma que nos dá garantias de que daqui a cinco a dez anos teremos uma geração muito mais consciente dos perigos e da forma de reagir perante algum incidente nos espaços aquáticos”, garante.

Para além de serem o futuro, na visão do capitão-tenente também exigem muita atenção no presente, uma vez que “as crianças nunca devem estar na água sozinhas”, como afirma.

Mesmo que seja com água pelos joelhos ou pela cintura, deve estar sempre um adulto a um braço de distância, porque se vem uma onda mais forte que deita a criança ao chão, esta mesmo tendo pé, atrapalha-se, e não se consegue levantar, ficando numa situação de risco desnecessária”.

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4. Sinalizar em caso de perigo

Mesmo com toda a prevenção possível, pode acontecer alguma situação em que dá por si atrapalhado na água. Para além de manter a calma, deve sinalizar para terra que está com dificuldades em nadar em segurança, e se a causa estiver nos agueiros, deve “nadar lateralmente para sair fora da influência de agueiros por forma a não ser afastado ainda mais da terra do que já se encontra”, explica João Pombo.

Se estiver numa zona não vigiada e vir alguém a pedir ajuda, não entre logo na água (a não ser que tenha os conhecimentos e equipamentos para o efeito). Primeiro, certifique-se de que pede ajuda a uma terceira pessoa e às entidades competentes. Só depois, caso não tenha outra opção, é que entra na água para assistir a pessoa que necessita. Se houver uma praia vigiada por perto, o ideal seria tentar alertar o nadador salvador.

5. Outros cuidados a ter

Alguns conselhos gerais que João Pombo recapitula são evitar a exposição ao sol nas horas de maior calor, reforçar a hidratação – principalmente das crianças, que facilmente se esquecem de beber água – e reforçar o protetor solar ao longo do dia.

A estas adiciona-se outra muito importante. O caso da digestão, de que tanto se fala, não é um mito. “Se a pessoa está quente na praia, com o sol a bater, o corpo aquece. Depois vai para a água fria e o sangue que está a irrigar a zona do estômago para trabalhar a digestão vai ter de ser redirecionado pelo corpo para a zona cutânea e subcutânea para manter a temperatura ideal do corpo, ou seja, isso provoca a paragem de digestão."

Esta situação pode levar a sérias dificuldades enquanto nada, e os sintomas podem incluir o desmaio, fazendo desta uma recomendação muito importante a ter em mente, assegura João Pombo.