Queria ser pianista e, quando chegou a altura de ir para a universidade, foi por aí que decidiu seguir. Depois de um ano a estudar música, percebeu que, afinal, gostava de manter o gosto pelo piano como um hobby e partiu para o Instituto Superior Técnico, onde nutriu um enorme e inesperado gosto pela Química Orgânica.
Sempre foi bom aluno e na universidade não foi exceção. Destacou-se dos colegas e quando sentiu que em Portugal já havia muito pouco para aprender decidiu partir para o estrangeiro. Atualmente, Nuno Maulide é professor catedrático de Síntese Orgânica na Universidade de Viena. Em 2019, aos 39 anos, foi eleito Cientista do Ano, na Áustria, sendo o mais novo membro permanente e o único estrangeiro fora dos países germanófonos a integrar a Academia de Ciências austríaca.
Apesar de ter optado pela Química, Nuno Maulide encontra ligações infinitas entre a ciência e a música e consegue, por vezes, juntá-las. Mais do que contribuir ao nível de investigação científica, o profissional quer ainda tornar a Química menos complexa aos olhos do cidadão comum e desmistificá-la. Para isso lançou o livro "Como se Transforma Ar em Pão? Estas e outras questões a que só a Química sabe responder", editado pela Planeta, que tem sido um sucesso de vendas. Porquê? Fomos tentar perceber.
A música sempre fez parte da sua vida? Ainda antes da Química?
Sim. Na escola primária comecei a ter aulas de música, um pouco por acidente porque penso que era um programa piloto e que só algumas escolas eram selecionadas para fazer este tipo de projeto. De uma vez por semana passei a ter aulas três vezes por semana (e gostava muito). A professora ensinava-nos a cantar, a ler e a escrever música com base num método muito popular dos anos 80, que era o Método Ward, que trocava as pautas e claves de sol por números: o 1 é o Dó, o 2 é o Ré, o 3 é o Mi...., o 7 é o Si, e depois regressa ao 1. A verdade é que com esse método se podiam escrever coisas muito complicadas de forma mais simples
De que a forma a música o influenciou?
A música teve uma influencia imensa na minha vida. Eu aí percebi que gostava muito de música e os meus pais, por recomendação da senhora professora, puseram-me no Instituto Gregoriano de Lisboa, onde fiz o curso de piano.
E quando é que Química surgiu na sua vida?
Isso foi mais tarde. Lembro-me que no oitavo ano tive 100% em todos os testes de Química. Ficou a impressão de que, se calhar, era uma disciplina pela qual tinha afinidade, mas demorou quase até ao 12º ano a perceber que era uma disciplina interessante, de que eu gostava. Mas continuava a não ser o que eu queria fazer de carreira.
O que é que queria seguir como carreira?
Queria ser pianista profissional. Fiz as provas de acesso à Escola Superior de Música e entrei. Fiz o primeiro ano do curso de piano e o problema foi que quando comecei esses estudos percebi, há medida que os meses foram passando, que é um tipo de curso muito solitário e que há muita pressão. Tinha apenas 15 a 16 horas de aulas por semana e depois eram cerca de oito horas sozinho com o instrumento a estudar, estudar e estudar.
Foi isso que o fez mudar para Química no Instituto Superior Técnico?
Antes [de entrar em música] ainda concorri à universidade pois havia na altura uma lei que dizia que se não concorresse logo após os exames do 12ºano, depois já não conseguia. Então eu concorri, mas cancelei a matrícula para ir para música.
Havia também a ideia de que se tens boas notas tens de ir para Medicina porque é um desperdício. Eu pus Medicina no [Hospital de] Santa Maria, depois pus na Nova [Universidade Nova de Lisboa], e, como eu achava que entrava numa dessas duas, fui preenchendo o resto com coisas que me chamavam a atenção.
Entretanto, nesse ano [em que decidiu deixar música], as médias subiram e percebi que não entrei [em Medicina]. Depois quando fui confirmar a lista percebi que tinha entrado em Química no Técnico.
Já no Instituto Superior Técnico, destacou-se dos colegas?
Na parte dos disparates, com certeza (risos). Mas a verdade é que também tinha boas notas. Quando cheguei ao segundo semestre do primeiro ano, isso nunca me esqueço, na primeira aula de Química Orgânica, o professor entrou e começou a desenhar as estruturas e eu fiquei fascinado. Depois fui desenvolvendo imenso gosto pela Química Orgânica, ao ponto de repetir os exames até ter 20 em todos.
"Quando já não havia mais Química Orgânica para estudar, comecei a fazer as cadeiras dos anos seguintes em antecipação"
Quando já não havia mais Química Orgânica para estudar, comecei a fazer as cadeiras dos anos seguintes em antecipação — algo que também terminei e que me fez começar a ir para a biblioteca ajudar os meus colegas a estudar Química Orgânica.
Havia um interesse genuíno.
Claramente. Pela disciplina e por ensinar. Também porque tinha a noção de que as pessoas fazem daquilo um bicho de sete cabeças, mas aquilo tem uma forma de se explicar que faz com que fique mais simples. Ajudei muitas pessoas a passar à cadeira.
É isso que ainda tenta fazer nos dias de hoje? Explicar às pessoas a Química de uma forma descomplicada?
Sim. Eu gosto muito do ensino. Acho que os professores do ensino secundário têm uma missão muito importante, e por vezes ingrata. Mas, se não forem esses professores, quem é que cativa nos alunos o interesse por uma determinada disciplina?
Há muitas pessoas que escolhem uma determinada direção e se lembram sempre de um ou dois professores do ensino secundários que foram marcantes e que ajudaram a estimular esse gostinho. Eu tive sempre a noção de que gosto muito de explicar as coisas às pessoas e de as inspirar, mas também há uma dimensão que acho ainda mais difícil nisso — a de explicar coisas às pessoas que não estão motivadas para aquela área. O objetivo é não só inspirá-las, como acordar um certo espírito crítico e fazê-las deixar de dizer frases feitas como 'eu não quero químicos na minha comida'.
"Como se Transforma Ar em Pão? Estas e outras questões a que só a Química sabe responder" foi lançado com esse objetivo?
Sem dúvida. Quanto mais penso na mensagem deste livro, mais percebo que é mesmo essa: 'Tudo é Química'. Nós próprios somos química. Tirem da cabeça essa ideia de que a Química é uma coisa má. Não estou a fazer a apologia de que se deve abraçar tudo o que vem da industria Química, não. Mas quanto mais percebermos, mais somos capazes de ter espírito crítico.
O que é que acha que as pessoas pensam que sabem sobre a Química mas, na verdade, não fazem absolutamente ideia nenhuma?
Por exemplo, achar que a água é um composto químico inócuo. Que é essencial à vida, que onde há água há vida e que nunca a água pode ser um composto tóxico.
A essas pessoas digo que se, por acaso, alguém beber quatro litros de água numa hora, morre. Isto porque demasiada água também leva à falência de certos órgãos. Tudo o que é demais (...) Essa é também um bocadinho a mensagem do livro: tudo é química, não há químicos bons nem químicos maus, tudo depende da dose.
No seu livro fala também sobre alguns aspetos da alimentação. Acha que esse é um tema cada vez mais em voga?
Tentei que o livro fosse o mais geral possível. O livro não é de nutrição, nem eu sou especialista nisso, mas quanto mais leio mais percebo que, mesmo na nutrição, não deve haver aquela ideia radical de que, por exemplo, durante o próximo ano não podes comer nada com açúcar. Acho que não se pode levar nada ao extremo.
Os melhores especialistas mundiais da nutrição dizem isso mesmo: não é preciso ir ao extremo, até porque isso é a porta de entrada para as chamadas dietas ioiô.
Para o público geral, qual é que a acha que foi a descoberta mais importante que já fez?
É possível que tenha sido a descoberta de que nas águas de lavagem dos tremoços — que é uma coisa que nos diz muito a todos nós, portugueses — há um composto químico que se pode tirar e que, ao misturar-lhes umas coisinhas, se pode transformar num composto que se vende a 100€ por grama. A lógica é a de que no nosso lixo há muita coisa valiosa à espera de ser reciclada e aproveitada.
"Percebi que, se fosse ficando por Portugal, não ia aprender muito mais"
E é esse o seu trabalho diário?
É uma das coisas que fazemos. O nosso grupo de investigação tem um leque de interesses vasto para a área da Química, até porque eu sou o tipo de pessoa que fica muito chateada e aborrecida quando começamos a fazer a mesma coisa sistematicamente. Eu gosto de ter o máximo de diversidade porque não me consigo também imaginar a focar só numa.
Antes de chegar ao trabalho que faz hoje, e à equipa que tem, por onde andou?
Quando não havia mais pessoas para ajudar na biblioteca [do Instituto Superior Técnico], decidi começar a ler artigos científicos e decidi ler artigos da altura em que nasci. Lembro-me de abrir um dos livros e não perceber nada. Foi um choque porque percebi que não sabia nada, apesar de achar que já sabia tudo. Percebi que se fosse ficando por Portugal não ia aprender muito mais, mas que havia muito para aprender — tal como as páginas demonstravam.
Falei com a professora Matilde Marques, uma das melhores professoras de Química Orgânica no Técnico, e perguntei-lhe para onde podia ir no estrangeiro para continuar a estudar Química Orgânica.
Fiz seis meses de Erasmus na Bélgica, que foi uma das melhores coisas que me podia ter acontecido. Falavam de coisas das quais eu nunca tinha ouvido falar, nomes de reações que eu nunca tinha ouvido, raciocínios que eu nem conseguia perceber (...) mas era bom. O que eu queria era mesmo ir para um sítio onde não percebesse tudo.
Foi rápido apanhar o ritmo?
Não, mas com muito trabalho a pessoa chega lá. Foi um crescimento exponencial.
Aí também se distinguiu dos colegas ou eram todos tão bons que não houve oportunidade para isso?
Sim, mas não dei conta disso. Só quando o professor, a meio do Erasmus, me perguntou se eu não queria fazer o doutoramento lá. Aí vim para Portugal, perguntei à minha família e lembro-me de o meu pai me dizer 'então não disseste logo que sim?'.
Da parte dos seus pais teve sempre apoio em tudo?
Quando quis ir para música houve grandes discussões à mesa de jantar, mas foi um bocadinho mais para testar se era mesmo aquilo que eu queria. Quando eu disse que queria mesmo fazer aquilo, parou e apoiaram-me — e até ficaram muito espantados quando eu disse que queria voltar para o Técnico.
E o doutoramento como foi?
Eu sabia que para tirar o doutoramento lá a minha única hipótese era conseguir uma bolsa da Bélgica. Mas essa era uma bolsa que, geralmente, era dada aos belgas e não aos estrangeiros. Eu não era capaz de estar quatro anos na Bélgica a viver às custas dos meus pais e sabia que se não tivesse bolsa tinha desistido.
Fiz o exame de seleção que tinha 15 candidatos e só dois deles é que conseguiam a bolsa. Fiz a entrevista e correu bem, também porque me prepararam muito bem. Nessa mesma noite, tive a confirmação de que tinha recebido a bolsa.
Foi nessa altura que começou a trabalhar?
Já tinha começado a trabalhar no Erasmus, mas foi mesmo nessa altura que comecei a crescer cientificamente, a melhorar e a querer saber cada vez mais. Quando a pessoa percebe o que é que tem de fazer para aprender, é outra coisa. Perceber onde está a informação e com quem é que se deve falar para saber mais. Quando cheguei lá, foi um crescimento exponencial.
"Não há razão para haver um reconhecimento até a pessoa também contribuir para isso"
Quando começou a ganhar reconhecimento a nível internacional, cá, em Portugal, as pessoas tinham a noção desses feitos?
Não, mas também não havia razão para terem. Mesmo agora, sabe-me dizer quem são os alunos mais brilhantes que estão no estrangeiro e são portugueses?
Não há razão para haver um reconhecimento até a pessoa também contribuir para isso. Há pessoas que têm a ideia de que é muito injusto tendo em conta tudo o que já alcancei, mas o que eu digo é: 'Não é injusto. O que é que eu dei de volta para o País saber que eu existo?'. A pessoa não pode ficar sentada lá [no estrangeiro] à espera que o mundo lhe venha beijar os pés.
É isso que tenta fazer agora? Contribuir para o seu País, nomeadamente com este livro?
Sim. O livro e o facto de ter chegado muito cedo a professor catedrático também me permitiu ter contactos aqui em Portugal para ser professor catedrático convidado do Instituto Superior Técnico e do Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier, em Oeiras.
Na sua opinião, este reconhecimento deve ser procurado pela pessoa?
Não estou a fazer as coisas para ter reconhecimento, mas acho que faz sentido que o reconhecimento apareça depois de eu fazer as coisas. Na vida da ciência ninguém está a fazer o que está a fazer para ter qualquer reconhecimento, acho eu. Há muitas outras carreiras que se podem ter em que pode haver muito mais reconhecimento com menos esforço, na minha opinião.
Acho que as pessoas que estão na ciência é porque adoram aquilo que fazem e porque sentem que estão a contribuir para o reconhecimento científico e, eventualmente, para a melhoria das condições de vida. Eu não faço o que faço para receber prémios.
"Não estava à espera que os esforços que fazia pela comunicação da Química tivessem tanto alcance"
Como foi naquele ano receber o prémio de Cientista de Ano?
Inesperado, porque o prémio de cientista do ano não é um prémio de excelência científica, é um prémio de comunicação de ciência e foi isso que eu achei mais espantoso. Não estava de todo à espera que os esforços que fazia pela comunicação da Química tivessem tanto alcance e tanto impacto que levasse um grupo de jornalistas a decidir que eu seria o Cientista do Ano.
Desde que comecei no Max Planck como investigador independente que sempre disse que não é só a investigação que importa, eu quero ter também uma maneira qualquer de retribuir para o público em geral. Quer se queira quer não, quem me pagou a bolsa de doutoramento foi um governo através do dinheiro dos impostos de alguém.
O Nuno quer mostrar às pessoas aquilo que está a fazer também por elas?
Exatamente — e com o dinheiro delas. O mínimo é poderem receber um retorno do seu investimento de uma forma ou de outra. Chegando à Áustria eu tive de aprender alemão para dar as aulas. Acabei por aprender, de uma maneira ou de outra, e reparei que se era capaz de dar uma aula em alemão, também era capaz de dar uma entrevista em alemão e também era capaz de ir a uma escola e mostrar umas coisas sobre Química às crianças.
Sente-se diferente dos seus colegas por conseguir transmitir aquilo que é a Química de uma forma pouco vulgar?
"É raro ver pessoas que têm algum reconhecimento internacional pelo trabalho de investigação também terem uma componente muito forte de divulgação"
Sim, talvez. Mas isto é tudo resultado de muita introspeção. Esse livro ["Como se Transforma Ar em Pão? Estas e outras questões a que só a Química sabe responder" ] é o resultado de muitas coisas que eu pensei durante décadas sobre Química.
É possível e eu acho que toda a gente é capaz de fazer esse tipo de processo, o problema é que a divulgação científica nem sempre é bem vista. É raro ver pessoas que têm algum reconhecimento internacional pelo trabalho de investigação também terem uma componente muito forte de divulgação.
Acredito que com este currículo, sejam várias as propostas que já teve. O que é que o fez aceitar o trabalho que tem hoje e escolher a equipa com quem trabalha?
Quando cheguei ao Instituto Max Planck tinha um contrato de cinco anos e não era renovável. O modelo académico na Alemanha, para o bem e para o mal, tem esta virtude: que é a pessoa receber recursos, apoios e suporte para provar ao mundo aquilo de que é capaz em cinco anos. Depois disso muda de poiso e concorre ao que aparecer.
Eu sabia que tinha de me ir embora e quando chegou ao fim dos cinco anos, tinha ofertas para ir para seis instituições diferentes na Europa. Confesso que escolhi de forma puramente matemática, ou seja, pensei onde é que me dão o maior número de recursos, onde é que me dão as melhores condições (não estou a falar de salário, mas de investimento no nosso grupo de investigação) — e foi a Universidade de Viena.
Quanto à equipa, sou eu que a vou escolhendo aos poucos, à medida que vou tendo financiamento. Quando se recebe o dinheiro, tem de se escolher as pessoas e aí vamos à procura.
A equipa é escolhida com base em que critérios?
Provavelmente somos dos grupos mais difíceis em termos de escolha. Fazemos sempre uma entrevista só comigo, técnica, para eu perceber o que é que há no cérebro. Mas depois há um dia inteiro, in loco, com o grupo de investigação. [Depois desse dia] há uma reunião com o grupo de investigação todo em que ficamos entre meia hora a 45 minutos a debater o que é que cada uma daquelas pessoas acha sobre o candidato ou candidata. Se não houver unanimidade, não recrutamos.
Para si, é muito importante que a equipa se dê bem?
Isso devia ser uma verdade de La Palisse porque eles é que trabalham uns com os outros. Eu estou sempre sozinho no meu gabinete e eles é que passam o dia todo, de manhã à noite (e às vezes fins de semana também), juntos. Por isso eles é que têm de se dar bem. Não escolho sempre o candidato de que eles gostam mais, mas nunca escolho um candidato que eles digam com o qual não conseguiam trabalhar.
Durante este caminho, alguma vez sentiu que o seu percurso podia ser condicionado por vir de um País pequeno como Portugal?
Nunca. E também nunca senti que o meu percurso pudesse ser condicionado pela cor da pele. Muito rapidamente deixei de me sentir só português e passei-me a sentir cidadão do mundo.
Já teve vontade de voltar a Portugal?
Não no sentido de sentir que tenho de voltar, mas se me perguntar se eu gostava de morar em Portugal nas condições certas, claro que gostava.
E quais são as condições certas?
É um ambiente que me permita fazer investigação a um nível comparável com aquilo que eu faço neste momento em Viena.
Acha que isso alguma vez será possível em Portugal?
Se calhar não agora, mas, acho que havendo vontade, sim.
Qual tem sido o feedback dos portugueses em relação ao livro que acaba de lançar?
Muito bom. Mesmo a maneira como as pessoas falam do livro é muito boa. O senhor taxista que nos acompanha nesta logística das entrevistas é o melhor exemplo disso. Ele não sabia que o livro existia, mas quando percebeu que eu estava cá para promover o livro eu dei-lhe uma cópia e hoje, quando voltámos, disse-me que tinha lido o livro numa semana e que a mulher já tinha lido também.
Acha que é porque o livro fala de coisas do dia a dia sobre as quais as pessoas nunca tinham pensado?
A realização de que isso tem que ver com Química, de repente, torna-se incompatível com a ideia de que a Química é uma coisa muito complicada e um bicho de sete cabeças.
Sente que os portugueses têm realmente interesse por este tipo de questões?
Simplesmente não havia um livro nesta área, mas a adesão só pode ser significado de que há um interesse.
Alguma vez pensou que com 42 anos seria capaz de chegar onde já chegou?
Nunca, mas sempre tive a noção de que, por alguma razão, quando eu me empenho nas coisas e quando me dedico resulta. As pessoas podem olhar agora e dizer 'ele é tão novo e chegou tão cedo às coisas'. Sim, cheguei, mas durante o doutoramento eu passava sábados, domingos e feriados em que trabalhava das sete da manhã às sete da noite — e à noite chegava a casa, jantava e ainda ia ler os tais livros para aprender Química.
"Acho que as pessoas nunca se devem penalizar por sonhar"
Fiz tudo com gosto — e quem corre por gosto não cansa — mas houve ali vários momentos em que em vez de estar a fazer outras coisas estava fechado num laboratório sozinho. Acho que as pessoas nunca se devem penalizar por sonhar. Claro que depois não basta sonhar, mas quando a pessoa começa a visualizar-se naquele estado há algo que começa a juntar as peças do dominó para que o caminho fique aparente até lá chegarmos.
Ganhar um Prémio Nobel, por exemplo, alguma vez foi um objetivo de carreira?
Eu não posso fazer uma carreira a pensar num prémio, para mim não faz sentido. Quando há esses prémios o que é que acontece? Reformam-se?
Sendo tão novo, o que é que sente que ainda lhe falta conquistar?
Prefiro não pensar muito nisso e continuar simplesmente a tentar fazer mais, melhor e desenvolver-me a mim próprio. Basta olhar para mim e perceber o quanto ainda não sei (e o quanto me falta descobrir e aprender) para perceber que essas perguntas eu acho que vão aparecer mais tarde.