Sofia e Paulo, pais de três filhos, são donos de uma de tantas histórias tristes fruto desta pandemia. Com a COVID-19, a vida deste casal e dos filhos ficou virada do avesso, e depois do despedimento de Paulo, as dívidas acumularam-se ao ponto de a família ter de deixar a sua casa e mudar-se para uma roulotte num parque de campismo.
Depois de a história ter chegado às redes sociais — com Nuno Markl a ser um dos primeiros a partilhar o caso —, e ser divulgada também pela revista "Sábado", Bruno Nogueira apelou à solidariedade dos seus seguidores durante mais um direto de "Como é que o Bicho Mexe". Na emissão desta terça-feira à noite, o humorista revelou que foram angariados 39 mil euros para ajudar a família.
No live em que deu a conhecer o caso, Bruno Nogueira explicou que já tinha entrado em contacto com Sofia para tentar perceber qual seria a melhor ajuda a oferecer. Para além das doações monetárias, o mais urgente era mesmo conseguir uma casa móvel para a família, dado que as novas leis dos parques de campismo só permitem viver nestes espaços com determinados veículos.
Atualmente, é proibido viver de forma permanente em parques numa roulotte, situação em que a família se encontrava, mas as casas móveis são permitidas. A história acabou por chegar à televisão, e Sofia esteve no "Dois às 10", o programa das manhãs da TVI, onde recebeu a feliz notícia de que uma empresa de Coimbra, especializada em casas móveis, lhes iria oferecer uma habitação de madeira para a sua família.
Como uma família perdeu tudo em poucos meses
A situação de Sofia e Paulo tornou-se especialmente precária depois de o casal ter investido todas as suas poupanças num negócio pouco tempo antes de a pandemia chegar a Portugal. "Se há um ano me dissessem que estaríamos a viver numa roulotte, com os nossos três filhos, diria que era um pesadelo. Morávamos num T3 alugado por 400 euros, em Loures, tínhamos comprado um carro novo em 2018, não havia dívidas e trabalhávamos os dois. Eu como esteticista à comissão e o Paulo estava há já 15 anos numa empresa de organização de eventos em hotéis de cinco estrelas", escreveu Sofia num texto na primeira pessoa partilhado nas redes sociais, ainda antes desta onda de solidariedade.
"A nossa vida era estável e o Paulo convenceu-me a ter o meu próprio negócio. Em janeiro de 2020 encontrámos uma loja, perto de casa, e investimos as poupanças todas ali, em obras, decoração e material – cerca de 10 mil euros. Era para abrir a 19 de março, só que entretanto surgiu o confinamento", continuou a mãe de três filhos.
Com a evolução da pandemia no País, a empresa de Paulo começou a sofrer uma avalanche de cancelamentos, e o marido de Sofia acabaria mesmo por ser despedido em abril de 2020, sem direito a qualquer indemnização."De repente, foi o ordenado dele que deixou de entrar, a loja que só nos dava despesas, o carro e a alimentação de três crianças [entre os 11 e os 15 anos]. Um mês, tudo bem, isto vai passar, ao fim de três meses já é o desespero. Aguentei a loja até maio e abri no dia 15, com mais despesas no material que a pandemia exige. Mas de maio a setembro só fiz 150 euros", relatou Sofia, que contava como ânimo do marido. "Chegava a casa desanimada e o Paulo tentava dar-me força. Dizia-me: ‘Vá lá, não fiques assim, o começo é sempre difícil'."
Mas a situação chegou a um ponto insustentável. O casal teve mesmo de deixar a sua casa arrendada, e conseguiu mudar-se para um parque de campismo depois de pedir um empréstimo a amigos para conseguirem uma roulotte para viver. Na primeira vez que falou da história nos seus diretos, Bruno Nogueira falou de algo "devastador" e pediu ajuda aos seus seguidores para encontrarem forma de apoiar a família.
"Isto tem andado às voltas na minha cabeça desde que li esta reportagem: usamos as redes sociais para odiarmos, para nos agredirmos uns aos outros, para teorias da conspiração e uma genética e avassaladora perda de tempo. Muitas vezes só conseguimos mostrar afeto sob a forma de likes – um rápido coraçãozinho que estampamos sem pensar muito, mas que, ok, na sua frieza é uma forma de gentileza. Olhando para os números dos likes de alguns dos posts no meu Instagram, dei por mim a pensar: e se fosse possível às pessoas darem um euro em vez de um like, a famílias como esta? Que somas simpáticas surgiriam para pessoas sem nada reconstruírem a sua vida – e a cada um bastaria um euro. Um like, no fundo – mas que servisse, objetivamente, para alguma coisa", partilhou o humorista.
A comunidade de Bruno Nogueira respondeu em peso, e de acordo com os valores revelados pelo humorista, foi angariada uma soma de cerca de 39 mil euros para ajudar Sofia e Paulo.
Se quiser contribuir com ajuda monetária, existe uma conta solidária em nome de Sofia, a mãe desta família. Pode fazê-lo para o IBAN PT50 0007 0000 0074 6384 155 23.