A ideia é do presidente do Conselho Económico e Social (CES), Francisco Assis: estudar o impacto social do vício da da lotaria instantânea, conhecida por raspadinha. Depois de informar o Governo, Francisco Assis vai contactar investigadores da Universidade do Minho para desenvolverem a investigação.
A intenção do presidente do CES é alertar o Governo para as consequências destes jogos e fazer com que pondere o lançamento de uma nova raspadinha para financiar intervenções no património cultural do país. "O Governo deveria reponderar o lançamento de uma nova lotaria instantânea, que está prevista no Orçamento do Estado", disse, de acordo com a TVI24, que cita a agência Lusa.
Francisco Assis considera ainda que o estudo deve ser analisado pelo Governo de modo a perceber se se deve ou não avançar com a nova lotaria. "Se eu tivesse responsabilidades governativas esperaria, no mínimo, pelo estudo que o CES vai promover", acrescentou.
O alerta sobre a dependência de jogos de lotaria instantânea já tinha sido dado pelo psicólogo clínico Raúl Melo, especialista que integra o Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), numa entrevista ao jornal "Expresso". O psicólogo revelou que "neste momento, há algum risco para a população sénior", mais suscetível de cair nesta dependência.
O especialista aponta ainda o principal perigo da raspadinha: "O que torna a raspadinha uma coisa complicada é proporcionar pequenos ganhos, através de um número de cartões bastante alargado". Contudo, Raúl Melo reconhece que há um esforço por parte da Santa Casa da Misericórdia, para quem revertem as receitas dos jogos usadas para benefício social, em formar os trabalhadores dos postos de venda no sentido de conter comportamentos viciantes. "O problema é que quem está a jogar nem sempre tem a sensibilidade para aceitar as recomendações que os operadores colocam", acrescenta.
Por considerar que se trata de "um problema social gravíssimo", Francisco Assis não vai esperar pela aprovação do estudo, previsto no Plano de Atividades do CES para este ano, a 8 de março em plenário, e pretende encomendar já a investigação a fim de conseguir travar o lançamento da nova Lotaria Instantânea do Património Cultural.
Apesar de estar ciente de que é uma boa iniciativa, considera que não é compatível com o impacto que pode gerar. "Temo que lançar mais uma raspadinha, embora a intenção seja boa, (...) vá contribuir para agravar este problema de adição que autodestrói pessoas dos setores sociais mais desfavorecidos", justifica o presidente do CES.
Outro dos argumentos usados por Francisco Assis está relacionado com dados de um estudo de março 2020 que indica que 50% do total das receitas de lotarias dizem respeito às raspadinhas e que o consumo das mesmas tem estado em ascendência desde 2010. Só em 2018, o valor médio gasto por pessoa em raspadinhas foi de 160€ por ano — bastante superior ao valor registado no mesmo ano em Espanha, de 14€ por pessoa. Em 2019, de acordo com os dados divulgados pela Santa Casa, os portugueses gastaram, em média, 4,7 milhões por dia em raspadinhas.