O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, optou por se isolar, na sequência de ter surgido a possibilidade de ter sido contaminado com o Coronavírus Covid-19. A medida do chefe de Estado teve o propósito de servir de exemplo ao resto dos portugueses. Depois de ter realizado o teste, que deu negativo, explicou à RTP3, o significado desta acção. "Não tanto por mim, mas pelas pessoas todas com as quais tinha contactado, e terei de contactar no futuro, era importante em termos de saúde pública saber-se que o Presidente da República não tinha, no teste feito hoje ao início da tarde, um resultado positivo.”

O risco de Marcelo Rebelo de Sousa ter sido infetado com o vírus surgiu pelo contacto com alunos de uma escola de Felgueiras. Juntamente com Lousada, estes dois municípios do Porto são os locais onde se encontram 19 dois 39 afetados portugueses. Por isso, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) já decretou o fecho de todas as escolas, ginásios, bibliotecas e piscinas. Aqui estão 100 mil pessoas em estado de isolamento social. Já o governo de Itália, decretou na segunda-feira, 9 de março, medidas mais extremas: todo o país está de quarentena, ou seja, 16 milhões de pessoas vão entrar em estado de isolamento.

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O propósito desta medida é diminuir a propagação do vírus, de modo a que se consiga controlar e conter a doença. O período de incubação do covid-19, diz um estudo recente realizado pela Escola de Saúde Pública John Hopkins Bloomberg, nos Estados Unidos, citado pelo "Público",  é de 5,1 dias. Na investigação, que analisou 181 pessoas que foram infetadas, conclui-se que em 97,5% das pessoas os sintomas se manifestaram nos 11,5 dias seguintes — número que vêm confirmar as recomendações das autoridades de saúde no início do ano: 14 dias é o tempo definido para uma quarentena segura.

Durante meio mês, não há idas ao escritório, não há vida social, não há contacto com os outros. Que consequências psicológicas é que este estado de afastamento da vida normal poderá surtir?

Havendo consequências, stresse e sintomas de ansiedade serão os mais comum. “A ansiedade, de uma forma muito simples, é ter necessidade de ter tudo sobre o nosso controlo. Só que o foço que existe entre o nosso conhecimento e aquilo que conseguimos mesmo controlar é muito grande”, diz a psicóloga Margarida Mendes à MAGG. “Por isso, estarmos nesse isolamento pode provocar isso. Mas entendendo a doença e as razões para o isolamento, conseguem contornar-se estes potenciais obstáculos.”

O dossier “Covid-19 — Como Lidar com uma Situação de Isolamento”, elaborado pela Ordem dos Psicólogos, fala do mesmo: refere que a ansiedade e o medo, “relativamente à nossa saúde, à saúde de outras pessoas próximas ou com quem possamos ter contactado, e à experiência de termos de monitorizar sintomas de doença”, a incerteza, preocupação e angustia “por não podermos cuidar dos nossos filhos, de outras pessoas a nosso cargo ou de dependermos de outros e ficarmos a seu cargo” são alguns dos sentimentos que poderão surgir. A estes podem juntar-se a solidão, frustração e aborrecimento, zanga, tristeza e falta de esperança. Tem que ver com o controlo.

Faz sentido: “Nós somos um ser biopsicolossial e precisamos da partilha para lidar com os obstáculos que a vida nos põe”, explica a psicóloga. “É muito mais simples ver através do outro. Quando estamos sozinhos focamo-nos na nossa dor e é muito mais difícil porque é nossa.”

Mas é preciso puxar pelo lado racional: este tempo não será infinito e é uma medida fundamental para conter a propagação da doença. Além disso, é cumprir com as oito dicas deixadas pela Ordem dos Psicólogos para lidar com uma situação de isolamento:

“Mantenha-se informado e compreenda o risco”

Primeira exercício: a consciencialização de que este tempo de isolamento tem um propósito e que é por um bem maior, que salvaguarda o seu bem-estar e o dos outros.

Segundo exercício: não se ponha a ler tudo e mais alguma coisa sobre o tema. É que a “cobertura mediática pode criar a impressão de que existe um perigo e um risco maior do que aquele que realmente existe” para a sua saúde. Isto não significa ignorar o problema, não estar informado. Quer, antes, dizer que deverá estar atualizado face à situação, mas restringindo “a exposição a notícias que possam aumentar a sua ansiedade e preocupação”, diz a Ordem dos Psicólogos, que sugere a escola de “fontes de informação de instituições oficiais”, como os sites da DGS e Organização Mundial de Saúde, assim como o SNS24.

“Consulte-as uma a duas vezes por dia. Não tenha medo de saber e fazer perguntas sobre a doença, o diagnóstico e o tratamento a profissionais de Saúde, diz a Ordem. Margarida Mendes concorda em absoluto. “É importante fazer uma triagem e não estar permanentemente em cima do assunto, porque isso vai criar stresse pelo bombardeamento de informação que não conseguimos gerir. É estar a par daquilo que dizem as autoridades de saúde responsáveis.”

“Mantenha o contacto com os amigos e familiares”

“Temos as redes sociais, telefones, videochamadas. A tecnologia tem esse dom. Em isolamento físico traz-nos contacto social, que não é o mesmo que o físico, mas que ajuda”, comenta Margarida Mendes. Falar com pessoas de quem se gosta e em queres confia, diz a Ordem dos Psicólogos, “é uma das melhores formas de reduzir a ansiedade, a solidão ou o aborrecimento durante o período de isolamento.”

“Peça ajuda”

“Assegure-se que pede ajuda e fala sobre o que precisa para se sentir seguro e confortável – medicamentos, compras, produtos de higiene pessoal ou meios de comunicação”, sugere a Ordem.

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“Realize atividades de que gosta e relaxe”

Veja o copo meio cheio: estar em isolamento significa que poderá fazer aquilo que lhe dá mais prazer. Ligue a Netflix e faça todo o binge watching que quiser, atualize as leituras e agarre-se aos livros que tem por ler, aventure-se pelas artes plásticas, faça tudo aquilo que geralmente não tem tempo para fazer.

“Mantenha as suas rotinas e atividades habituais, dentro do possível”

Não se deixe vencer pelo estado de inércia total. Levante-se à hora do costume, tome banho, vista-se, faças as refeições nos tempos normais. Se for possível, trabalhe remotamente a partir de casa.

“Quando temos compromissos externos, nós cuidamos mais de nós. Quando estamos só connosco, é extremamente difícil mantermos —fechados em casa muitas vezes não nos apetece. Mas quanto mais isolados nós estamos, menos estímulos temos. Estes hábitos, obrigarmo-nos a isto, é uma forma de mantermos rotinas minimamente equilibradas.”

"Faça exercício físico e tenha uma alimentação equilibrada”

Há vários movimentos e técnicas de treino que não fazem recurso a máquinas ou a qualquer tipo de material e que não requerem muito espaço. Desde o ioga, à tabata, treino funcional, mantenha o seu corpo ativo, que o cérebro agradece — quando nos exercitamos, libertamos hormonas que nos deixam mais bem dispostos. E, não se esqueça, coma bem: é verdade que estar sempre em casa dá vontade de estar constantemente com um petisco por perto, mas não ceda à gula. Vegetais, fruta, proteínas, gorduras boas, cereais integrais, vitaminas e minerais são muito importantes para que se mantenha forte e com um sistema imunitário capaz.

“Mantenha-se esperançoso e confiante de que tudo vai correr bem”

Esta é a última recomendação da Ordem dos Psicólogos. “Fale sobre a sua experiência e os seus sentimentos com amigos, familiares ou profissionais de saúde. Confie nas suas capacidades para lidar com situações adversas, nos profissionais de saúde e recorra às estratégias que costumam resultar consigo noutras situações difíceis.”

Novamente: “Ver o que dizem as fontes fidedignas, perceber o vírus, fazer as medidas de precaução. Ter noção de que não controlamos tudo, mas cumprir as recomendações porque são uma forma de contornar os obstáculos: lavar as mãos, desinfectar as superfícies, não andar aos beijinhos e abraços, evitar eventos sociais.”