Quando em março começou a pandemia de COVID-19 em Portugal, começou também uma pandemia no setor dos casamentos. Cerca de 17 mil foram cancelados em 2020, passando para 2021 na esperança de que o sonho, ao ser adiado, pudesse este ano ser concretizado em pleno, mal o vírus fosse embora. Contudo, ele por cá continua mas estima-se que este ano mais de 50 mil casais subam ao altar, como é o caso do ator Tiago Castro, de 37 anos, e da noiva Marine Antunes, de 30, responsável pelo projeto "Cancro com Humor".

"A pandemia é que nos motivou a casar em 2021", diz Marine à MAGG. "Como perdemos tanta coisa em 2020, pensámos: 'Tem de existir algum sonho, não pode ser só um ano de dores'. Então vai ser o ano em que vamos projetar o nosso casamento. O mundo está a dar-nos porrada, mas nós ripostamos", acrescenta a noiva.

Apesar de tudo, 2020 até acabou por ser o melhor ano financeiramente para Tiago e Marine: ele voltou a trabalhar como ator, fez várias publicidades e uma série para o canal Panda, ela passou as palestras do projeto "Cancro com Humor" para o online e lançou uma coleção de máscaras associadas à iniciativa, e em conjunto criaram uma websérie para consciencializar os jovens para os perigos do álcool e começaram a escrever o livro da série.

O pedido de casamento aconteceu a 13 de fevereiro de 2020 (no mesmo dia em que Marine completou 30 anos) e foi o primeiro desafio antes daquele que a pandemia estava prestes a trazer. É que Marine sempre adorou surpresas, dificultando para Tiago a tarefa de inovar a cada aniversário ou data comemorativa, quanto mais num pedido de casamento. Mesmo assim, conseguiu surpreender e até enganar Marine.

Começou a programar, num chat de amigos de ambos, um jantar de aniversário para Marine num restaurante que nem sequer existia, tudo para "em caminho" passarem pela praia de Paço de Arcos, onde vivem, local no qual estariam amigos à espera do casal.

"Os nossos amigos já estavam à espera todos juntos e quando ela viu um grupo de pessoas com umas tochas, a primeira coisa que disse foi: 'Olha, estão a fazer um ritual satânico'", conta Tiago, ator que deu vida a Crómio na série "Morangos com Açúcar", da TVI, entre risos. Entretanto, aproximaram-se do grupo e Marine apercebeu-se de que eram os amigos e pensou que seria uma festa surpresa, achando que seguiriam para o restaurante.

Mesmo com a canção"Quando bate aquela saudade", do cantor Rubel, tema especial para Marine e Tiago, a agora noiva não desconfiou de nada. "Só percebi quando um dos meus melhores amigos me deu um abraço e uns parabéns assim 'estou tão feliz por ti' e comecei a ouvir a música que dizia 'quero ver-te de branco'", lembra.

Tiago começou a chorar desalmadamente e lá se colocou de joelhos, ainda em pranto, para fazer o pedido. No fim, todos acabaram em casa a comer pizza.

No mês seguinte explodiu a pandemia de COVID-19 em Portugal, mas motivados pela onda de sucesso e por querer mostrar ao vírus que não pode só dar "porrada", o casal começou a construir o casamento nesse ano conturbado, mas não sem uma ajuda preciosa: a Made in Dreams, uma empresa de organização de eventos liderada por Raquel Margato e Isa Oliveira.

E o que é que a Made in Dreams não é? "Nós não temos produções próprias, nós não somos decoradoras, não somos designers, somos planners", dizem as responsáveis, que querem estar totalmente focadas na organização de eventos, razão pela qual não prestam outro tipo de serviços.

Made in Dreams
Equipa Made in Dreams. Raquel Margato (à esquerda) e Isa Oliveira (à direita) créditos: divulgação

"O nosso conceito é precisamente ouvirmos os nossos clientes e tentarmos ao máximo com que os eventos que nós organizamos sejam um completo reflexo da sua personalidade", explica Raquel.

As wedding planners conheceram-se há 15 anos, foram colegas no ensino secundário e já na altura organizavam festas solidárias no Carnaval e no Natal para crianças que foram retiradas aos pais e faziam parte de uma associação. Ambas seguiram percursos diferentes, mas Raquel despertou para a área dos casamentos quando a própria se casou e percebeu quão complexo é programar um evento com esta dimensão e significado.

Como Isa já há muito tempo queria ter um projeto seu, quando Raquel fez a proposta de casamentos, Isa deu imediatamente o 'sim' e juntaram forças para lançar o projeto em dezembro de 2019. Entretanto, surgiu a pandemia que veio atrapalhar os planos da Made in Dreams e de centenas de casais.

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"Tivemos noivos tristes, naquele vai não vai", lembra Isa, acrescentando que a demora das regras, a confusão das informações divulgadas e a inflexibilidade de alguns fornecedores devido à incerteza do desenvolvimento da pandemia complicaram o planeamento dos casamentos.

Ainda assim, mesmo nas situações em que foi necessário cancelar a data do casamento, a diversão não ficou de lado. Raquel e Isa revelam que uns noivos enviaram mensagens para a avisar os convidados do adiamento dizendo "estamos ligeiramente atrasados, vamos chegar no dia x de 2021" e outro casal até fez um vídeo em estilo de trailer.

O projeto acabou por se virar para o digital para tentar fazer frente às condicionantes provocadas pelo vírus, não só no contacto com os noivos, como também nas visitas aos espaços de casamento, que passaram a ser feitas por vídeo chamada. Apesar dos esforços, a Made in Dream não escapou ao impacto da pandemia: decresceram os novos contactos e têm uma grande dificuldade na marcação de datas, sendo que as únicas disponíveis são sobretudo domingos e dias de semana.

Mesmo assim, ideias não faltam e estão a aplicá-las nos casamentos que têm em vista para este ano.

Porque não escolher uma igreja pelo Google Maps?

30 de julho de 2021. Foi esta a data escolhida para o casamento de Tiago e Marine. Desde início que o casal pensou que a organização de um casamento "não pode ser um problema, tem de ser uma coisa divertida", diz Marine, por isso, decidiram fazer uma publicação à procura de ajuda. As responsáveis pela Made in Dreams responderam e disseram "vocês precisam de nós e nós de vocês", conta a noiva.

A partir daqui, o planeamento foi fácil e rápido, porque o casal além de prático, não queria andar de porta em porta a conhecer igrejas e quintas até encontrar a opção certa. Habitualmente Raquel e Isa mostram pelo menos quatro alternativas aos noivos, mas no caso e Tiago e Marine não foi necessário.

O local do copo d’água, a Quinta da Caloura, em Sintra, foi escolhido à primeira, e para a igreja a decisão foi feita de forma irreverente. "Escolhemos com elas a igreja pelo Google Maps. Nós somos assim, queremos é resolver", diz Marine.

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O facto de transferirem os habituais stresses envolvidos na organização de uma casamento para as responsáveis da Made in Dreams torna assim a organização do dia muito mais fácil. "Há uma troca de ideias constante. A banda, por exemplo, explicámos que estilo gostaríamos, então elas sugeriram-nos uma banda e foi essa que ficou", revela a noiva à MAGG.

No caso do casamento de Tiago Castro e Marine Antunes o tema é bastante simples — natureza, conjugada com um estilo hippie chic e o toque de arraial nas luzes, já que o casal é particularmente fã deste tipo festas —, mas quase todos os casamentos que Raquel e Isa têm agora em mãos são rústicos-chique.

"É um estilo que está muito na moda. E hoje em dia, além dos casamentos temáticos de carros, praia, etc, começa a haver um foco mais em cores, em decoração", esclarece Raquel. O único caso que foge à regra, é o de um casal americano que se vai casar em Portugal este ano (também teve de adiar devido à pandemia) cujo tema do casamento é cinema, uma vez que ambos estão ligados profissionalmente a essa área.

Menos convidados, ambiente mais intimista

Em junho, a Diretora-Geral da Saúde, Graça Freitas, lembrava que a regra número um para celebrar casamentos é que "se as pessoas pertencem a agregados familiares diferentes, não se devem juntar" e mais tarde, na altura em que o País entrou em situação de calamidade, a Direção-Geral de Saúde (DGS) lançou uma nova diretiva que limitava os casamentos e batizados marcados a partir de outubro a 50 pessoas nos concelhos de risco. Neste novo confinamento, que começou esta sexta-feira, 15 de janeiro, estas cerimónias estão proibidas.

Tiago e Marine são um dos noivos que conhecem bem esta diretiva. "A única coisa que eu achava que queria muito e que de facto é muito difícil, é não termos todas as pessoas que nós amamos", diz a noiva, acrescentando que a decisão foi pelo bem de todos e que a família compreendeu. Quando diz "achava", refere-se ao facto mesmo assim, a alteração do número de convidados não ter condicionado o casamento com que sonharam. Será no meio da natureza de Sintra, com direito a banda, churrasco e um ambiente de arraial.

"Se não fosse a pandemia, tenho a certeza que íamos fugir um bocadinho àquilo que sempre quisemos para agradar as pessoas, porque seriam talvez 200 convidados. Como não há isso, vai ser simples e divertido. Por isso é que está a ser tão fácil de organizar", diz Marine.

Contudo, a família vai poder ver a cerimónia, que será transmitida em direto com a ajuda da Made in Dreams, e serão ainda entregues bolinhos em casa.

Já para os que estão presentes, a cerimónia vai contar com vários momentos especiais, mas o aspeto principal é que as restrições vão acabar por permitir um ambiente mais intimista no casamento. "A nossa mesa vai ser em U, estamos com os convidados todos ao mesmo tempo. Não queremos aquela coisa de os noivos estarem isolados, nunca gostei de ver os noivos à parte. Só há vantagens em serem menos pessoas", diz Marine, embora confesse que foi difícil ter de reduzir o número de convidados.

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Enquanto Marine e Tiago optaram por escolher quem levar ao casamento, há outros noivos que em situação de pandemia optaram por outro método: não levar ninguém. Assim, o casamento conta apenas com a presença dos noivos — denominado de Elopement Wedding — e parece que poderá tornar-se tendência em 2021.

"Como para alguns noivos é uma pressão ter de restringir convidados no casamento, optaram por fazer um casamento apenas a dois. Provavelmente teremos este ano muitos casais que só querem casar a dois, abdicam dos convidados", explica Isa. Ainda que possam fazer um vídeo para mostrar a cerimónia posteriormente aos convidados que estariam presentes numa situação normal, Isa acrescenta que "a ideia é essencialmente ser para eles viverem o momento de forma mais intensa a dois".

Com muitos ou poucos convidados, Raquel e Isa aconselham os noivos a pedirem a quem vai ao copo d'água para levar boa disposição, mas também tupperwares. Estranho? Não, é apenas a preocupação pessoal de Raquel e Isa com a sustentabilidade, que não conseguiram deixar de parte no projeto. Apesar de tentarem não impor o seu modo de vida aos noivos, quem as procura já tem também em parte essa consciência ambiental.

"Há sempre muitos restos de comida em casamentos, é inevitável. E há sempre convidados que levam caixinhas de casa e assim até se evita o alumínio. Perguntámos também aos nossos fornecedores se tinham algum contacto com associações de sem abrigo para dar vasão a esta comida extra. Aí fazemos dois em um: ajudar quem precisa e reduzir o desperdício alimentar", refere Raquel.

Já Isa dá outros exemplos de coisas simples que tornam um casamento mais amigo do ambiente e que habitualmente sugerem aos noivos: evitar balões, ver alternativas de flores e de decoração, e até têm um parceiro que permite alugar vestidos de noiva e assim promover a reutilização.

Do vestido às lembranças: os sonhos que fazem esquecer a pandemia

Se há coisa que marca um casamento é o vestido da noiva. É uma das despesas do casamento que aparece em primeiro lugar, a que mais preocupa a noiva à mesa até chegar ao dia da cerimónia (com receio de o vestido precisar de uns ajustes de última hora) e dita a regra de etiqueta que as convidadas não devem levar branco: esse é exclusivo para a noiva.

A significância do vestido é ainda maior, quando se tem a oportunidade de ter um vestido feito à medida, que nenhuma outra mulher levou ao altar. Marine é uma das sortudas, que vai ter um vestido feito pela O'BrideLook, um ateliê de vestidos e acessórios de noiva, com foco particular para estilos naturais — o que veio a calhar com o tema e espaço do casamento: a natureza de Sintra. "O meu vestido foi feito à mão e desenhado por nós, por mim e pelas duas modistas", refere Marine.

Apesar de o adiamento da cerimónia ter sido um desgosto para muitos noivos, de certo modo até trouxe uma vantagem: mais tempo e mais orçamento. Coisas simples como umas luzinhas no teto para as quais não havia dinheiro, vão passar a poder existir porque os noivos tiveram oportunidade para juntar dinheiro, exemplificam as wedding planners.

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"Também acabaram por surgir novos acessórios. Temos pessoas a personalizar máscaras e garrafinhas álcool-gel", conta Isa sobre as novas e úteis lembranças de casamento — não vá algum convidado esquecer-se da máscara em casa.

Na onda dos esquecimentos, Raquel e Isa, que estão sempre presentes no dia do casamento, vão prevenidas com uma mala que tem um "backup" (cópia de segurança) de tudo. "É como uma mala de primeiros socorros. Por exemplo, levamos um computador e uma impressora não vá ser preciso imprimir alguma coisa de última hora, temos efetivamente um mini kit de primeiros socorros, desodorizante em spray, maquilhagem, etc", enumera Raquel.

Lua de mel: planear ou não planear em tempo de pandemia?

No caso de Marine e Tiago a opção foi não planear a Lua de Mel. A incerteza sobre as viagens é ainda grande neste momento e uma vez que o casal tem um espírito aventureiro e gosta de viagens de mochila às costas, sabem que do dia para a noite planeiam a viagem dos seus sonhos.

"Nós somos muito apaixonados pela Ásia. Há dois anos fizemos uma viagem de 42 dias pela Tailândia e por Bali de mochila às costas. Ficámos completamente apaixonados por essa forma de viajar e gostávamos que a nossa Lua de Mel também fosse assim", diz Tiago Castro.

Para o casal não faz sentido ir para um resort e voltar sem conhecer nada, por isso, preferem esperar por "uma coisa sem planos", acrescenta o ator. Além disso, o casal nem gostaria de fazer a viagem logo de seguida ao casamento, por isso estão em perfeita sintonia com as condições atuais.

Perspetivas dos casórios para 2021

"Se 2019 foi o ano em que construímos a Made in Dreams, 2020 foi um ano de desconstrução e reconstrução. Para 2021 as nossas perspetivas é conseguir chegar a mais pessoas e esperamos que a vacina também nos traga a luz ao fundo do túnel e que mesmo que as coisas em 2021 não entrem numa normalidade completa, que comecem a entrar nos eixos", diz Raquel.

A parceira de projeto, Isa, acrescenta que o dia do casamento é tão importante para os noivos que "vão vivê-lo na mesma com a máxima intensidade, mesmo com algumas restrições. É isso que sentimos".

Além da organização de casamentos, a Made in Dreams dedica-se a serviços de assessoria e consultoria, planeamento e organização de eventos, cujos valores começam nos 30€ por hora (mais IVA). No caso da organização total do casamento, o serviço best seller, o valor é de 1850€ (mais IVA).

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