
Depois de ter visto o seu programa suspenso durante vários dias, Jimmy Kimmel está de volta à televisão. "Jimmy Kimmel Live", que tinha sido retirado do ar "por tempo indeterminado" depois de o apresentador de 57 anos ter feito vários comentários sobre o assassinato de Charlie Kirk, voltando a posicionar-se contra o governo de Donald Trump, teve o seu último episódio no ar a 17 de setembro, e existia até a possibilidade de o programa ser cancelado. No entanto, Jimmy Kimmel voltou à antena esta terça-feira, 23.
E, claro, não faltou o monólogo inicial a que já habituou todos os seus telespectadores, falando comicamente sobre o assunto que não queria calar o povo norte-americano (e o mundo). "Como eu estava a dizer antes de ter sido interrompido", começou por dizer, fazendo com que a audiência soltasse umas boas gargalhadas. "Estou muito feliz por estar aqui hoje com vocês, e não sei quem é que teve as últimas 48 horas mais estranhas, eu ou o CEO da Tylenol", acrescentou, fazendo alusão à nova polémica do presidente dos EUA, que garante que a toma desta paracetamol ajuda no desenvolvimento do autismo.
"Têm-me dito muito sobre o que eu preciso de dizer ou fazer esta noite, mas a verdade é que eu não acho que o que eu tenho a dizer vai fazer muita diferença. Não tenho ilusões de mudar a mente das pessoas. Mas quero deixar algo claro, porque é importante para mim como ser humano, e quero que entendam que nunca foi minha intenção iluminar o assassinato de um jovem homem", disse Jimmy Kimmel, surpreendo o público ao emocionar-se enquanto falava. "Também não era minha intenção culpar nenhum grupo pelas ações de um indivíduo muito distorcido", acrescentou, falando sobre o jovem Tyler Robinson, o principal suspeito deste homicídio.
"Eu entendo que para alguns isso foi mal interpretado, e para aqueles que acham que eu apontei realmente o dedo, eu percebo o porquê de estarem chateados. Se a situação fosse ao contrário, existe uma boa hipótese de eu sentir o mesmo. Tenho muitos amigos e familiares no 'outro lado' que amo, mesmo que não concordemos em termos políticos. Eu não acho que o homem que matou o Charlie Kirk represente alguém, isto foi uma pessoa doente que acreditou que a violência era a solução. Eu sou uma pessoa que recebo muitas ameaças. Recebo muitas ameaças assustadoras contra a minha vida, a minha mulher, os meus filhos, os meus colegas, tudo isto por causa do que escolho dizer. E sei que essas ameaças não vêm das pessoas republicanas que eu conheço e amo", acrescentou.
"Mas o que quero dizer é que este programa não é importante. O que é importante é saber que nós conseguimos viver num país que nos permite ter um programa assim, e eu fiquei envergonhado quando o país tirou do ar o programa do Steven [Colbert]. Fiquei envergonhado quando tentaram tirar o nosso programa do ar, porque isso não é legal, isso não é americano", continuou, fazendo clara alusão à liberdade de expressão e explicando que ainda tentaram fazer com que Jimmy Kimmel mudasse de comportamento. Brendan Carr, Presidente da Comissão Federal de Comunicações dos EUA, foi um dos nomes específicos que o apresentador mencionou.
"Eu sou sortudo o suficiente em trabalhar numa empresa que me permite fazer o programa da forma que queremos fazê-lo há quase 23 anos. Eu fiz quase quatro mil programas na ABC, e, com o tempo, as pessoas permitiram-me evoluir e alargar as fronteiras do que é tradicional num programa como este, mesmo quando se sentem desconfortáveis. Todas as noites defendem o meu direito de me divertir e falar sobre os nossos líderes, e eu não fiquei contente quando me tiraram do ar. Dei o meu ponto de vista, falámos muito, e mesmo não precisando disto porque são uma grande empresa, eles trouxeram-me de volta."
"Eu agradeço por isso, porque eu sei que, infelizmente e injustamente, isto coloca-os em risco. O presidente dos EUA deixou claro que quer que eu seja despedido e que as centenas de pessoas que trabalham aqui sejam despedidas. O nosso líder celebra o despedimento de centenas de norte-americanos porque não sabe aguentar uma piada, e agora pede abertamente à NBC que despeça o Jimmy Fallon e o Seth Meyers. Se isso acontecer, espero que as vossas vozes gritem ainda mais alto do que agora. Uma ameaça de governo para silenciar a comédia só vem de um presidente que é anti-americano", disse.
Não se sabe ao certo se Jimmy Kimmel teve de fazer algo mais para conseguir o seu programa de volta, uma vez que foi noticiado que o apresentador teria de pedir desculpa diretamente à família da vítima e fazer uma "doação pessoal significativa" à mesma, bem como à ONG de Kirk, a Turning Point USA.
Jimmy Kimmel tinha comentado, antes de o programa ter sido suspenso, que Charlie Kirk tinha sido assassinado por um jovem que fazia parte do grupo MAGA (Make America Great Again), que apoia Donald Trump, e a polémica começou aí.