No programa "Conta-me" deste sábado, 19 de dezembro, Cristina Ferreira passou por casa de Maria Botelho Moniz e sentou-se no sofá para 45 minutos de conversa intensa. As duas falaram sobre vários aspetos da vida da apresentadora da edição "Extra" do reality show "Big Brother" , e que em breve vai assumir as manhãs da TVI com Cláudio Ramos, no programa "Dois às Dez". A sua infância numa família de seis irmãos, à sua passagem pelos Estados Unidos, como estudante, ou ao convite da diretora de ficção e entretenimento da TVI para integrar as manhãs do canal, nenhum assunto foi esquecido.
Maria Botelho Moniz emocionou-se várias vezes. Primeiro, a falar sobre o pai, que morreu repentinamente em 2018. Depois, ao lembrar Salvador Quintela, o noivo com quem manteve uma longa relação e que, em 2014, perdeu a vida num trágico acidente de mota.
"Tenho muita pena", diz, quando questionada sobre se lamentava o facto de não ter tido a oportunidade de ligar ao pai, dando-lhe a novidade de que iria integrar as manhãs da TVI. "Eu sei que ele ia vibrar. Ele ia querer saber cada detalhe: 'Entraste? E sentaram-te como? E disseram-te como? Mas como é que ela disse? Com que tom? Estava séria?", disse Maria Botelho Moniz.
Continuou a lembrar a maneira de ser do pai: "Ele ia querer saber tudo. O meu pai era muito orgulhoso de cada pedacinho das nossas conquistas porque também ele sabia o trabalho que dava chegar a um certo ponto na carreira, a um certo ponto na vida."
Mesmo ausente, assume que lhe comunica todas as coisas da sua vida. "Digo-lhe sempre. Aliás, saí do teu gabinete e olhei para cima. Olho sempre. Sempre que me é dada uma boa notícia, uma má notícia ou até durante o dia", diz, acrescentando que lhe dedica muitas coisas. "O primeiro programa da manhã que fizer ao lado do Cláudio vai ser para ele."
Como é que se preenche essa ausência, pergunta Cristina Ferreira. "Não se preenche. Não há ninguém que substitua um pai, uma mãe, um irmão. É impossível", diz.
O teu presente já não é o mesmo, o teu futuro já não vai ser o mesmo.
Antes do pai, Maria Botelho Moniz sofreu pela perda do namorado e noivo, Salvador Quintela e assume que esses acontecimentos mudam qualquer pessoa. "Não muda a fundação da casa", ressalva Maria Botelho Moniz. "Mas a importância que tu dás às coisas, o valor que dás a cada momento... a importância de uma despedida. Eu nunca mais me despedi de ninguém da mesma forma, porque eu sei que há uma possibilidade, mesmo que seja pequena, de tu hoje, quando saíres desta porta, de eu nunca mais te ver. Ou tu nunca mais me veres."
Sobre o facto de a "qualquer instante" podermos perder pessoas, Maria Botelho Moniz refere que é um "choque de realidade com que todos nós vamos ser confrontados um dia." E reflete sobre estas ausências: "O teu presente já não é o mesmo, o teu futuro já não vai ser o mesmo."
A apresentadora lembra como foram os primeiros tempos, depois do choque da notícia. "Sei que estive um ano e meio a viver no meio de uma neblina, de um nevoeiro. Eu sei que quase não sentia os pés no chão. Parecia que andava a flutuar. Depois sentes os pés no chão, mas não te consegues manter bem de pé, porque deixaste de ser quem eras."
Durante dez anos, diz, teve um ombro em que se encostar. "De repente, tiram-te o teu apoio. Tiram-te a pessoa com quem tu sempre planeaste estar o resto da tua vida."
Tinha a vida planeada e, de repente, deixou de ter. "Um dia que eu seja mãe, os meus filhos não vão ser quem eu imaginei. Vão ser outros. Porque ele já não vai ser o pai deles", diz, assumindo que foi uma das coisas que mais lhe custou aceitar.
O trabalho ajudou-a a enfrentar o período de luto. "Estás noutro planeta. A única coisa que eu queria era levantar-me, levar à cadela à rua de manhã e ir trabalhar."
"Para mim deixar entrar alguém novo nem sequer era uma hipótese"
Apesar de, desde abril, estar numa relação com o piloto Pedro Bianchi Prata, assume que todos os dias pensa em Salvador Quintela. "É inevitável. Foi muito tempo, foi muito amor", diz. "Eu acho que tu tens que te lembrar das pessoas. Tens de pensar nelas. Eu acredito que elas estejam por aqui."
Durante muito tempo, Maria Botelho Moniz não deixou que mais ninguém entrasse na sua vida. "Para mim deixar entrar alguém novo nem sequer era uma hipótese", confessa. "Sentia que esse capítulo [o do grande amor] já tinha sido feito."
Uma das condições fundamentais seria, no entanto, estar com alguém que aceitasse a sua história: "Há uma gavetinha no meu coração que será sempre de outra pessoa", diz, assumindo que nem toda a gente lida bem com isso.
Mas Pedro Bianchi Prata aceita. "É difícil aceitar que alguém goste de ti, mesmo com estas rachas e pedacinhos colados com cuspo", conta.
Além disso, havia o receio de que a história se voltasse a repetir. "E se ele vai embora? Se lhe acontece alguma coisa?", costumava questionar-se."E se um dia o telefone toca e te voltam a dizer o mesmo? Eu não sei se tenho força para isso."
Mas, como disse Cristina Ferreira, o amor é mais forte do que o medo. "Tem sido", admite. "Ao início eu vivia muito ansiosa. Qualquer viagem de carro era um problema, qualquer ausência, qualquer telefonema atrasado causava-me muita ansiedade. Agora não. E às vezes cai a ficha: 'Estás muito despreocupada'".
Guarda uma fotografia de Salvador no escritório. Pedro Bianchi Prata lidou bem com isso. Está a par de toda a sua história. "Para mim, era importante que ele soubesse de todos os detalhes", revela. "Contei a medo, mas não escondi nada."