Jurista de profissão, Marta Rebelo era, em 2005, uma espécie de símbolo da renovação parlamentar. Com apenas 27 anos, tornou-se deputada do Partido Socialista, durante o primeiro governo liderado por José Sócrates. Nos bastidores da política, porém, a então deputada lutava contra a depressão e a ansiedade.
Aos 44 anos, Marta Rebelo conta, no podcast Labirinto, do diário "Observador", que os problemas de saúde mental começaram na adolescência e se agudizaram "na faculdade". "[As crises de ansiedade] são uma sensação física muito parecida com um ataque cardíaco. É assim um pico de stress agudo por alguma razão ou, às vezes, por razão nenhuma", explica, na entrevista conduzida por Carla Jorge de Carvalho.
Numa crónica publicada a 7 de novembro na revista "Visão", intitulada "Suicídio: A minha história, os nossos números e muitos factos assustadores", a antiga deputada socialista revela que começou a ter pensamentos suicidas aos 15 anos. "Nunca recebi diagnóstico ou tratamento médico-mental senão aos 24 quando, adulta, os procurei; a depressão já era crónica, profunda e recorrente, o estrago neuroquímico estava feito, década e tal de sofrimento estigmatizado e silencioso; a desesperança venceu-me e escolhi, em 2009, não viver. Sobrevivi. Quando lá voltei, à voragem desesperançada, tive de revirar o mundo e os fígados para me manter agarrada à minha escolha: viver", escreve a jurista.
Ao podcast Labirinto, cuja versão na íntegra é divulgada este domingo, 2o de novembro, Marta Rebelo explica que o tabu em torno do tema era grande. "Comecei a sentir um incómodo muito grande com o secretismo, não só da minha experiência com a tentativa de suicídio como com toda a forma como se vive e como se tenta ignorar os problemas de saúde mental", diz, acrescentando: "Eu ainda era deputada... meu Deus, o que é que acontece se a senhora deputada da Nação assumir que se tentou suicidar! Maluquinha de pedra!", relembra.
"Eu passei mesmo muito mal durante mais de uma década. Foi uma coisa horrível. E eu sei que há milhões de pessoas a passar por isto. E a vergonha, o estigma e o preconceito são um grande combustível das doenças mentais", salienta a antiga deputada socialista, fazendo questão de enfatizar: "Eu não curei a depressão. Eu sou ex-deprimida. A minha depressão tornou-se crónica a dado momento. E eu tenho-lhe muito respeito, e parte do respeito vem do receio de lá voltar".