Quem faz granola em casa sabe o quão agradável é sentir um cheiro a canela por toda a parte, um quente que aconchega a alma, no fundo, saúde que serve de fragrância à casa e se serve à mesa. Esta foi também a essência que influenciou Tomás, 47 anos, e Catarina Borges de Castro, 43 anos, a criar mais do que uma granola caseira: uma atitude.
"Acreditamos que se todos tomarmos uma 'eattitude' o mundo será um lugar melhor para todos: humanos, animais e planeta", disse à MAGG Catarina, co-fundadora da marca Eattitude. No que diz respeito ao planeta, estas granolas marcam a diferença pelos ingredientes usados, "biológicos certificados e criteriosamente selecionados", descreve, o modo de produção, e até pelas embalagens.
Já quanto aos humanos, sabemos que é de pequenino que se torce o pepino, por isso qualquer (e)attitude implementada desde cedo pode fazer a diferença e foi a pensar nisso que surgiram estas granolas. "Quando a nossa filha tinha um ano, procurávamos papas saudáveis — sobretudo com baixos índices de açúcar — mas não conseguimos encontrar nada que nos satisfizesse, enquanto pais", conta Catarina, designer gráfica desde 2001, e responsável pelas áreas de criatividade, pesquisa e desenvolvimento, design e comunicação da Eattitude.
Como pais (de três — a Carlota, o Vasco e o Joaquim), e exigentes que são, Catarina e Tomás optaram por começar a cozinhar a própria granola em casa para a filha em 2011, que trituravam e transformavam em papas, com a garantia de que não tinha açúcares, óleo de palma, químicos, nem listas de ingredientes infindáveis como muitas daquelas com que se deparavam nos supermercados.
"Na nossa cozinha havia sempre potes de várias granolas que íamos inventando. Num certo Natal oferecemos granola aos nossos amigos e familiares e percebemos que, afinal, não éramos só nós a ficar deliciados com as nossas granolas. Tinham mesmo muitos adeptos", acrescenta Catarina.
Das prendas de Natal à distribuição de larga escala foi um saltinho (ou bago de aveia). Uma viagem aos Açores serviu de inspiração para mudarem de vida, "questionámos tudo e decidimos avançar com o projecto das granolas", lembra Catarina, tornando assim as misturas irreverentes que já criavam em casa em algo mais sério, mas com igual sabor, que tentam garantir ao longo destes 4 anos no mercado.
Como manter a essência de uma granola caseira numa produção em fábrica?
Sabemos que fazer uma granola em casa, no forno que não leva mais do que dois tabuleiros e implica confirmar a cada 5 minutos se as amêndoas não queimaram, não é o mesmo que produzir numa fábrica em que o processo é dotado de algum automatismo.
Contudo, tendo em conta o mote da marca, "um trocadilho que significa uma atitude perante a nossa alimentação", a produção em fábrica não poderia influenciar a qualidade do que Catarina e Tomás — co-fundador, advogado de formação, marinheiro de coração e escritor de vocação — faziam em casa.
Como não comprometer a qualidade? Eis a resposta. "A grande diferença acaba por ser a quantidade que é produzida diariamente. Claro que foi necessário uniformizar as quantidades para mistura, os tempos de confeção e torra, utilizar sempre os mesmos ingredientes e dos mesmos fornecedores, mas o processo acaba por ser o mesmo", explica a co-fundadora, destacando que mesmo que a produção tenha passado para a fábrica em Alcabideche, Sintra, toda a confeção é manual. "Tentamos não perder esse lado caseiro".
Os ingredientes, biológicos, têm a mesma qualidade de outros tempos em que Carlota tinha apenas um ano, e a qualidade, ainda mais importante em contexto de pandemia, é assegurada pelos fundadores do projeto que acompanham toda a produção, mas não como meros observadores: a atitude que levam na barriga todas as manhãs da granola caseira, é a mesma que levam para a fábrica onde metem mãos à obra.
"Todo o processo é feito por nós, da confeção à expedição", diz Catarina, acrescentando: "Independentemente das pressões que pudéssemos sofrer por parte do mercado e concorrência, mantivemos-nos sempre fieis à nossa essência, ao nosso sabor e à nossa qualidade".
Quando a concorrência é entre as próprias granolas da Eattitude
No total, há seis variações de granola, embora a original (8,99€), com especiarias, mel e frutos secos, seja um dos best seller. Em pé de igualdade (ou colher de sobremesa) está a volúpia (8,99€), com cacau crú 100%, manteiga de cacau, mel e especiarias, bem como com a exuberante (8,99€), feita com óleo de coco virgem e coco desidratado, ralado e em lascas.
Há ainda a egoísta (8,99€), doce e ácida, feita com ananás desidratado e hortelã, a reguila (8,59€), doce pelo mel em abundância ao qual se junta arroz tufado, e falta falar da elegante (7,85€), a granola vegan, que mistura sementes, quinoa tufada e aveia, adoçadas com tâmaras e bagas goji para uma doce acidez.
Pelas características de cada uma, percebemos que não há limites à inspiração dos criadores, nem limitações à criatividade do que se pode fazer com cada uma das granolas. Sim, é que estas não servem apenas para pôr nos iogurtes ou polvilhar por cima de uma smoothie bowl de banana, cacau e abacate.
"Se for doce, uma combinação improvável, mas deliciosa, é adicionar granola original a uma salada fresca de verdes, com tomate, morangos ou goiaba, e um leve tempero de óleo de sésamo, limão e uma pitada de sal. Se for não doce, diria que como complemento numa sopa. Ou com arroz, fica ótimo. Arroz branco polvilhado com granola", garante Catarina.
Arroz com granola? Ainda vai ser tendência de alimentação 2020, depois das bebidas vegetais que também já revolucionaram o ano.
As granolas, que passaram da casa de família para as prateleiras acessíveis também a todas as famílias, em janeiro de 2017, estão à venda em vários pontos em Lisboa — desde os dispensadores da Maria Granel e da #Granel, até às lojas Celeiro, Go Natural, Biofrade — e ainda na loja Origens a Granel, em Leiria, 4Bio, no Montijo, Mercearia Granola, na Marinha Grande e em aproximadamente 100 lojas bio espalhadas pelo país.
Tudo isto para além da loja online e de alguns estabelecimentos que servem as granolas em cima das bowls da moda e da gula, como é o caso do restaurante/hostel Frutaria, em Lisboa.
Sustento para o corpo, sustentabilidade para o planeta
Pelos nomes das lojas onde a Eattitude está à venda, não é difícil perceber que a sustentabilidade está associada ao conceito da marca através da venda a granel: "Uma ótima tendência, um estilo de vida que defendemos e consideramos fundamental", refere Catarina.
Chovesse granola em vez de plástico no mar e o mundo seria melhor. É que a marca aposta, além dos ingredientes biológicos, naqueles que são de origem nacional, em embalagens sustentáveis — sendo que a primeira é de plástico reciclável (4g), por ser um requisito de certificação, e a segunda (que reveste as granolas) é em cartão de florestas sustentáveis (FSC) — impressão gráfica numa produtora com certificação ISO141001 e FSC, tintas ecológicas no processo de impressão, otimização do consumo de energia, água e papel no processo de produção, manutenção e logística, bem como dos transportes em 90% das vendas.
No fundo, uma série de medidas que, tal como as granolas, já vêm de casa: "Os princípios de sustentabilidade são transversais a tudo o que fazemos, na fábrica e em casa, inclusive na educação que damos aos nossos filhos", destaca Catarina.
Sendo que não faltou arrojo para criar estas granolas de sabores e combinações improváveis em embalagens de 400 gramas (e mais fosse, porque acabam rápido), a motivação para continuar a expandir o projeto também não. É que a Eattitude quer agora alargar a gama de produtos e reforçar a presença nos mercados internacionais.
Quanto a novos sabores, a MAGG tentou saber o que está para vir, quem sabe, desta vez para juntar com umas massas de pesto em vez de o fazer com o arroz, mas, como sempre, o segredo é a alma, ou atitude, do negócio. "Mais do que pensar, estamos a concretizar. Muito em breve teremos novidades", revela a co-fundadora.