Maria Inês Melo venceu no passado sábado, 15 de fevereiro, a oitava edição de “Masterchef Portugal”. Depois de muitos obstáculos e dias sofridos, a nortenha de 27 anos levou a melhor no duelo contra o concorrente Pedro Almeida, numa dura prova onde tinham de mostrar os seus dotes culinários. Rui Paula, Pedro Pena Bastos e Juliana Penteado, os chefs jurados desta edição, acabaram por escolher Maria Inês Melo como a grande vencedora, e a pasteleira não podia ter ficado mais feliz. 

“Soube a uma concretização de todo o esforço, de todo o trabalho. Soube a confiança e a orgulho em mim mesma, porque durante algum tempo senti que estava perdida sobre o que é que iria ser a minha vida”, começa por dizer à MAGG. “Eu sempre tive muita certeza de que a cozinha ia ser o meu futuro, mas houve ali uma fase na minha vida em que deixei este sonho um bocadinho de lado, por medo. Entrar no Masterchef, por si só, foi incrível. Foi a melhor experiência da minha vida, mesmo”, acrescenta. 

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Maria Inês Melo soube desde pequena que tinha mão para a cozinha, especialmente por ter avós que sempre se saíram muito bem naquilo que faziam. “Eu sempre gostei muito de cozinhar, andava ali com as minhas avós, sempre à beira delas na cozinha. Nos nossos aniversários, a minha irmã pedia uma Barbie e eu uma frigideira”, recorda, entre risos. No entanto, a nortenha acredita que o facto de a família sempre a ter apoiado foi o que a fez ser quem é hoje em dia. “A minha família sempre me incentivou. Eles sempre adoraram esta minha paixão e sempre me incentivaram muito."

A sua paixão, talvez por influência do avô materno, é a pastelaria, que acredita ser aquilo que lhe dá mais calma depois de dias atribulados, e a vencedora do programa da RTP já tem, inclusive, um negócio nessa área: a Éme Cake. “A Éme Cake na verdade surgiu de uma brincadeira. Eu fiz um bolo para os meus avós, das Bodas de Ouro, e a minha irmã disse-me que eu tinha de fazer uma página para mostrar os meus bolos. Foi primeiramente para a família e para os amigos, promovi um pouco o meu negócio, mas acho que nunca dei propriamente o valor que merecia, porque tinha o meu trabalho a tempo inteiro ao mesmo tempo”, disse Maria Inês.

Quanto à tranquilidade que a pastelaria lhe dá, Maria Inês até teve a oportunidade de falar sobre isso com Juliana Penteado, uma das suas maiores inspirações na área. “Comentei com a chef Juliana que a pastelaria é algo que nós precisamos de muita calma e de muito tempo, e isso era tudo o que nós não tínhamos no programa. Mas a parte da pastelaria traz muito isso, é quase como uma zona de conforto e um escape à realidade”, diz. Este sentimento ainda perdura até aos dias de hoje, e Maria Inês quer crescer ainda mais o seu negócio e talvez aventurar-se noutros projetos. 

No entanto, uma experiência menos bonita na sua vida fez com que se afastasse um pouco da cozinha, e talvez por isso tenha deixado os seus sonhos para trás. Tirou gestão hoteleira na faculdade, e esteve durante um ano a trabalhar numa cozinha que a fez pensar que, se calhar, aquilo não era bem para ela. “Às vezes as pessoas pensam que é tudo muito bonito, mas a televisão é diferente de uma cozinha de um restaurante, onde temos muita pressão, onde os horários são muito exigentes. Eu tinha 20 anos e tinha acabado de sair da faculdade, então aquilo foi um choque. Sempre tive o sonho de entrar no ‘Masterchef’ e aquilo fez-me pensar que se calhar não era capaz”, refere. 

Depois disso, aventurou-se no marketing de vinhos, deixando o seu negócio e a cozinha mais para trás, mas sempre teve o bichinho de ir à televisão. 2024 foi o ano em que aceitou as tentativas falhadas da irmã de a inscrever no programa, e o salto de sorte acabou por ser o melhor que já lhe aconteceu na vida. No “Masterchef”, Maria Inês aprendeu que tem uma habilidade natural para a cozinha, e que é mesmo isto que quer fazer da vida - mesmo depois de ter sido apenas no programa que aprendeu a fazer gelados e massa fresca. 

Veja as fotos de Maria Inês no programa.

“Sem dúvida que foi uma aprendizagem. Eu sou pasteleira, mas nunca tinha feito um gelado na minha vida. Nunca tinha feito massa fresca. Nós ali também temos formação ao longo do programa, mas, sobretudo, temos muita troca de experiências, muita partilha”, diz. “Há ali uma prova que era para nos representar, e eu, como pasteleira, decidi fazer um gelado. Nunca tinha feito gelado. E perguntaram-me ‘estás louca?’, mas eu queria arriscar, eu sabia que podia arriscar, e no final correu bem. Quando arriscamos e corre bem, sabe ainda melhor”, diz Maria Inês, visivelmente divertida. 

Além disso, acrescentou mesmo que os chefs faziam bem a distinção entre as provas em que se podia arriscar e aquelas em que era melhor jogar pelo seguro, e que normalmente fazia sempre aquilo que lhe fazia mais sentido no momento. “Os chefs também diziam muito isso. Há provas para arriscar e era nessas provas que eu tentava surpreender. E depois tínhamos as provas de eliminação e essas não, essas eram para jogar pelo seguro. Ao longo do tempo começámos a perceber um bocadinho também esta lógica do programa, e foi tudo uma questão de equilíbrio”, explica.

Programa que, para Maria Inês, não foi um abre olhos no que toca a ser mulher num mundo liderado por homens, uma vez que nunca se sentiu inferiorizada, nem no programa nem em nenhuma das experiências culinárias que já teve. “Eu tenho boas referências e boas inspirações de mulheres na cozinha, nunca foi um mundo só de homens para mim. A chef Juliana, por exemplo, espero um dia poder olhar para mim e ter o sucesso que ela tem”, diz. “Hoje em dia as coisas estão muito melhores nesse sentido, felizmente a cozinha também é das mulheres, e nunca senti tal coisa”, acrescenta. 

Quanto ao futuro, Maria Inês espera crescer ainda mais o seu negócio Éme Cake, que até então não deu tanto valor, e talvez ter um espaço próprio onde consiga receber pessoas e estabelecer relações. “Isto para mim é um fenómeno. Eu tenho pessoas a mandarem-me mensagem a dizer que querem que eu abra um espaço para que possam lá ir e experimentar receitas minhas”, conta. “Eu tenho mais do que provas suficientes de que isto pode resultar, então a minha ambição é continuar nesta área e deixar as pessoas orgulhosas e felizes." 

“A minha ideia é ter um espaço meu. Gostava muito de ter um projeto onde eu possa dar os meus workshops, onde possa receber pessoas que façam workshops comigo ou até dar alguns eventos mais intimistas. Vou continuar a partilhar as minhas receitas nas redes sociais, criar muito conteúdo e, quem sabe, escrever um livro ou participar noutros programas de culinária”, conclui.