A Ericeira ganhou um novo spot dedicado à cerveja artesanal 5 e Meio, mas não há metades neste novo projeto. É um espaço que permite beber uma experiência por completo, isto é, beber uma cerveja de uma das oito torneiras disponíveis, incluindo uma especial, acompanhá-las de uns bons petiscos portugueses e a companhia certa. Falta alguma coisa? Sim, desfazer os mitos que persistem à volta da cerveja artesanal.
"É preciso as pessoas perceberem que não faz mal", começa por nos dizer Teófilo Oliveira, 38 anos, diretor geral da marca 5 e Meio, criada em 2013. Ficámos confusos: há mesmo quem ache faz mal? "Sim. E, na verdade, se não for controlada, faz. Infelizmente há algumas no mercado que não têm qualidade. Podem ter algumas contaminações", explica. Os mitos não ficam por aqui e o seguinte diz respeito ao sabor. "Os sabores que se colocam na cerveja não fazem com que a cerveja pareça um sumo. Foi muito uma onda industrial de radlers e coisas do género e [a cerveja artesanal] é um pouco diferente. Nós colocamos sabores e ingredientes diferentes nas cervejas e o que trazem não é um sabor sumarento, mas complexidade à cerveja", diz Teófilo Oliveira.
Vai ficar a perceber tudo isto depois de fazer uma prova no novo TapRoom de cerveja artesanal 5 e Meio, na Ericeira, local que nasceu, entre outros motivos, para deitar por terra (ou para dentro do copo) todos os mitos. A prova nunca vai ser igual, porque as cervejas também não serão sempre as mesmas. "Temos 32 estilos que queremos explorar", avança o co-fundador da marca de cervejas artesanais. Entre elas estão a blond ale, uma cerveja loura, a tripel ale e a strong ale, duas estirpes belgas, com mais malte e caramelos que fazem delas mais escuras, e outras cervejas mais amargas e frutadas.
À oferta mais convencional, junta-se uma cerveja especial: a cerveja envelhecida. "Nós fazemos cervejas envelhecidas em garrafa. Há muita gente que as envelhece em barril, em barrica de carvalho, nós envelhecemos em garrafa. É uma gama muito exclusiva, muito única, porque tem riscos muito elevados", explica Teófilo. Isto porque as cervejas ficam a envelhecer durante três a quatro anos e, ao fim desse tempo, se tiverem as condições certas, vão para o mercado. Caso contrário, pode ter de ser descartada. Este é um produto excecional, uma vez que exige espaço, tempo e um maior financiamento. "Estupidamente ou não, colocamo-la em garrafa", brinca.
Contudo, é por esta cerveja e por toda a gama das cervejas artesanais 5 e Meio feitas em pequenos lotes que a marca se distingue. Os lotes reduzidos também são uma vantagem, no sentido em que dá à marca uma maior "capacidade de criatividade em brincar com cervejas diferentes", afirma Teófilo. A oportunidade está agora ainda mais apurada com o TapRoom da Ericeira.
"O TapRoom veio da nossa génese. Quando iniciámos, fizemo-lo com uma postura muito experimentalista. Queríamos logo experimentar determinados ingredientes, como piri piri, tomate, tinta de choco, então andámos durante algum tempo, no princípio, a ir a festivais de cerveja sempre como experimentalistas", conta. Contudo, quando o projeto se tornou mais profissional, com a pressão financeira que acarreta, o espírito experimentalista desapareceu para dar lugar ao foco da rentabilidade da marca. Com o novo espaço na Ericeira, essa oportunidade está de volta.
"Veio para nos permitir ter uma cara perante o mercado, ter o nosso ponto de venda direto e vem permitir voltar a ter este carácter experimentalista", explica, uma vez que no TapRoom, além da linha envelhecida e mainstream, têm a possibilidade de criar, por exemplo, uma cerveja de manga e lima e apresentá-la à pressão.
Cerveja na mão, sandocha na outra
Uma cerveja cai bem sozinha e ainda melhor com um petisco à mão. TapRoom diz respeito a um espaço com torneiras (de cerveja no caso), mas há também guardanapos para limpar as mãos depois de atacar os petiscos criados para o efeito: comer sem talheres.
A ementa foi pensada pela equipa da marca 5 e Meio, validada por amigos cozinheiros, "alguns até conhecidos", que dão aulas na escola superior de Hotelaria e Turismo do Estoril e é cozinhada por restaurantes da região. Da parceira (e provas para ter a certeza de que o que encontra no TapRoom vai bem com uma blond ale ou uma cerveja envelhecida), resultaram alguns petiscos simples, com a consistência necessária para "criar gosto, gordura e picante para a pessoa fazer uma boa harmonização com a comida", diz-nos Teófilo.
Pode optar entre gomos de batata frita temperados (2,5€), croquetes de carne fumada desfiada e queijo (5,5€), sandocha de cachaço de porco (6€) e cesto de queijos de São Jorge, Serra da Estrela, acompanhados de frutos secos, marmelada, compota e pão (8€).
Antes de ir embora, pode também levar cerveja artesanal para casa através do growler, no fundo, um sistema de cerveja artesanal a granel. "É um frasco de um litro, de laboratório. Fazemos uma purga, ou seja, o frasco fica sem ar, abrimos a torneira e enchemos um litro. Depois, a garrafa é selada e a pessoa leva para casa", explica Teófilo Oliveira. Neste caso, terá de pagar a cerveja ao litro e ainda uma caução pela garrafa, cujo objetivo é devolver ou reutilizar para uma nova aquisição de cerveja artesanal — embora isso não esteja a acontecer.
"Ao contrário do que pensávamos, as pessoas levam e não nos trazem outra vez. Só recebemos dois de volta. Acham giro. As pessoas ainda não têm a mentalidade de sustentabilidade. Usam o frasco para pôr uma florzinha. Tudo bem, mas não era essa ideia. A ideia era a pessoa trazer e sermos sustentáveis, não produzir mais vidro", refere Teófilo à MAGG.
A seu tempo, e que seja num tempo sem a pandemia restringir o convívio, a ideia é levar para o TapRoom alguns eventos, como concertos. Quem sabe, algumas das atuações são feitas por membros da equipa da 5 e Meio que, ouvimos dizer, têm uma banda.