A oferta gastronómica em Lisboa nunca foi tão boa ou tão variada. Há restaurantes em todos os cantos, das tascas aos tradicionais, das marisqueiras à cozinha de autor, os bistros, as hamburguerias, os veganos e todo um rol de conceitos inovadores .
No entanto, e apesar de o consumidor estar cada vez mais aberto a novas experiências gastronómicas e a sair da sua zona de conforto, existe um determinado tipo de restaurante que continua a ser alvo de algum distanciamento dos lisboetas: falamos dos restaurantes de hotéis, que são imediatamente categorizados como espaços mais caros e não necessariamente com mais qualidade.
Embora seja verdade que alguns espaços cobrem demasiado por uma sandwiche club, hoje em dia o paradigma está a alterar-se. Cada vez mais os hotéis querem abrir-se aos não hóspedes, rentabilizando assim as valências, desde os restaurantes aos spas.
Existem restaurantes deste género que são segredos bem guardados, com boa comida, ótima relação qualidade-preço e, acima de tudo, poucas filas e um ambiente tranquilo. E arriscando-me a que uma das minhas últimas descobertas seja invadida por clientes depois deste artigo, tenho de partilhar: o Café Príncipe Real é tudo isto e muito mais.
Estacionarem-me o carro (sem pagar mais por isso) é meio caminho andado para ganharem o meu amor
Estacionar o carro ao final do dia de uma sexta-feira na zona do Príncipe Real é complicado. Difícil. Quiçá impossível, sem ganhar cinco cabelos brancos por minuto. As alternativas passam por dar voltas e voltas em busca de um milagre, colocar no parque da Praça Camões (que por vezes fica completo às 19 horas e nos leva um ordenado por três horas de estacionamento), o que obriga a uma mini-aula de cardio com a subida até ao Príncipe Real, ou arriscar acreditar nos arrumadores que nos mandam estacionar em frente a portões porque "não há problema nenhum".
Antes de escolher uma das três alternativas "incríveis", resolvi ligar para o Memmo Príncipe Real, o hotel de cinco estrelas que acolhe o Café Príncipe Real, o restaurante onde tinha uma reserva para jantar, para me certificar se existia um parque de estacionamento.
A fé não era muita, dado que o hotel fica num edifício completamente escondido na Rua Dom Pedro V (precisa de entrar pelo túnel que dá acesso ao Lost In para encontrar o hotel) e não conseguia perceber onde poderiam ter um parque. E outro alerta preconceito: a existir, pensei imediatamente que o preço à hora fosse bastante elevado.
"Sim, temos parque. E não há qualquer custo para os clientes com reserva para jantar. É só chegar à porta principal e o meu colega estaciona-lhe o carro", disse-me o simpático rececionista.
Doses generosas... em sabor e quantidade
O ambiente do Café Príncipe Real é sofisticado, mas despretensioso. O staff foi todo simpático e atencioso, da hostess aos empregados de mesa, numa equipa jovem e competente — e que mesmo num hotel recheado de turistas estrangeiros, consegue utilizar o "boa noite" em vez do "hello" (sim, a saudação numa língua estrangeira aos clientes portugueses é bastante comum nestes espaços).
A decoração está bem conseguida, tornado o espaço acolhedor, mesmo sendo amplo, com mesas com cadeiras e sofás confortáveis, numa mistura de estilos que funciona a 100%. E claro, a vista de Lisboa faz o restaurante ganhar ainda mais encanto e luz.
Ainda antes de decidir o que comer, chegou à mesa água e o couvert (3,50€), composto por manteiga, azeite e pão. E é logo aqui que o Café Príncipe Real começa a ganhar pontos: para além de pão branco e de sementes, é servido um pão brioche com chouriço, fofinho, saboroso e ainda quente, a fumegar assim que partimos um pedaço ao meio. Céu na terra, acreditem.
Para entradas, a escolha recai num tártaro de salmão (12€) e num taco de de tártaro de novilho (7€), ambos irrepreensíveis. Se a entrada de peixe estava temperada no ponto, fresca, com sabores cítricos a deixarem o paladar a ansiar por mais — e foi mesmo a estrela de toda a refeição para mim —, o taco de novilho também consegue a classificação de cinco estrelas com uma carne bem temperada e uma tortilha de milho crocante.
No que diz respeito a pratos principais, provei o caril de garoupa e camarão (22€) e o tagliatelle de caranguejo de casca mole (22€). Ambos os pratos eram servidos de forma (mesmo) generosa, recheados de sabor e picantes o suficiente, com o empregado de mesa a avisar para a presença do tempero no prato de massa. "No caril já se está à espera, mas no tagliatelle é melhor avisar", diz com um sorriso.
O caril estava recheado de peixe, o arroz feito no ponto e o sabor de leite de coco destacava-se imediatamente. No tagliatelle, para além do caranguejo, que estava saboroso e bem cozinhado, encontramos também vários camarões e uma massa fresca al dente. Tudo ótimo e a fugir à ideia de que não há comida de conforto neste género de restaurantes.
A refeição fica completa com as sobremesas: o chocolate de São Tomé (8€) é ideal para os amantes de chocolate, num prato que combina gelado, "sponge cake", amendoim, banana e mousse, enquanto o frutos vermelhos, iogurte e lichia (7€) serve o melhor gelado de lichias que comi na vida, resultando numa sobremesa mais fresca e menos pesada.
A carta de vinhos tem uma oferta variada, tal como o vinho Consensual Reserva, da zona do Douro, uma seleção da casa que pode ser servida ao copo (5€) ou ainda optar pela garrafa (19€).
Preconceitos deitados por terra, o Café Príncipe Real é o restaurante ideal para visitar em casal e aproveitar uma noite fora de casa sem os miúdos num ambiente sofisticado, tranquilo, com boa comida. Talvez não seja um espaço para visitar todas as semanas se tiver de esticar um orçamento mensal, mas não é proibitivo para uma noite diferente de tempos a tempos ou para celebrar uma ocasião especial.
Durante a semana, de segunda-feira a sexta-feira, o restaurante tem também um menu executivo à hora de almoço, com três opções de entradas, prato principal e sobremesa: por 22€ pode optar por prato principal e entrada ou sobremesa, por 27€ tem direito aos três momentos (valores sem bebidas).
Até cerca de meio de outubro, o terraço do restaurante, que serve cocktails e outros tipos de bebidas, aposta nos finais de tarde com DJ residente e uma das melhores vistas de Lisboa.
A MAGG jantou a convite do Café Príncipe Real.