Carros que buzinam porque as pessoas esquecem-se de que a rua não é pedonal. A música das lojas que confundem as máquinas registadores com mesas de DJ. Pessoas a falar alto. Turistas, muitos turistas.

Estamos na Rua Garrett, expoente máximo de Lisboa e onde nem sequer se pensa parar para comer, não só pela falta de oferta nesse setor, mas principalmente porque não imaginamos ter aqui uma refeição que permita a calma suficiente para apreciar o que nos é servido.

Mas esse lugar existe. Bem escondido e mal assinalado, mas existe. Não se deixe enganar pela lousa escrita à mão com marcadores coloridos a chamar os clientes, nem tampouco pelas fotografias polaroid com alguns dos pratos, a fazer lembrar as marisqueiras que fazem sempre questão de mostrar em imagens os camarões e a sapateira que fazem parte do combinado.

Suba as escadas até ao primeiro andar e prepare-se para entrar num oásis de verde, graças às muitas plantas, e de silêncio — apenas interrompido pela música ambiente no tom certo e pela equipa que tudo vai fazer para que tenha ali uma das melhores experiências gastronómicas dos últimos tempos.

Sabemos que os donos são brasileiros, o atendimento é feito com sotaque e, sem surpresa, também na cozinha se usa gergelim em vez de sésamo e abobrinha em vez de curgete.

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Pedro Mattos é o chef de serviço do Eva, que ocupa o primeiro piso de um edifício em pleno Chiado e que por ter quatro mesas viradas para a janela, permite comer de frente para Lisboa.

Está em Portugal há apenas quatro meses, mas leva no curriculum mais de sete anos em restaurantes. Em 2018, com 25 anos, foi eleito Chef Revelação de Porto Alegre e agora decidiu tentar a sorte em Portugal, para onde traz a sua herança brasileira, ainda que a comida seja do mundo.

"A comida não é brasileira, nem portuguesa. Se repararmos, há apontamentos orientais, mas também espanhóis e italianos", explica à MAGG o chef, que faz questão de juntar num só prato os cinco sabores: o ácido, o doce, o salgado, o picante e amargo. É por isso que a manteiga caseira do couvert leva raspas de limão para cortar a gordura, e o arroz de quiabo feito com caldo oriental, naturalmente adociacado, leva pickles de pepino que, pelo seu travo mais amargo, ajuda a equilibrar o palato. A ideia é quase sempre arregalar os olhos de espanto perante a descrição dos ingredientes que compõem o prato, e fechá-los de prazer, assim que o garfo entra na boca.

A carta é curta porque o chef fez questão de dar toda a sua atenção a cada prato. Assim, para entrada, há aquilo a que chama de carne cruda, que mais não é do que o tártaro de carne a que estamos habituados, mas ao qual junta uma explosão de sabores: mostarda de figos, pickles de cebola, limão, queijo de cabra, folhas ácidas e crocante de arroz (12€).

Mas também há abóbora assada com mousse de Queijo da Serra (9€), polvo com salada de quinoa (15€) e ostras em três versões: ao natural, com pepino queimado e ponzu (molho oriental) e sorvete de laranja sanguínea (11€).

Pratos principais são só quatro, mas com opção de carne, peixe e vegetariano. Há pargo com puré e cenoura grelhada, alho francês, maçã verde e ponzu (14€); carne de novilho com salada russa (16€); arroz de quiabo e cogumelos (11€) e raviollone de camarão com queijo de cabra (15€).

Para sobremesa há sorvete de morango com sumo de morango verde (5€) e bolo de castanha do Brasil com sorvete de acaí (7€).

Para digerirmos tudo isto sem indisposições, o chef garante que, além de trabalhar com produtores locais e apenas com ingredientes da época — despache-se se quer provar alguns destes pratos, é que tal como a estação, estão prestes a mudar — usa o ingrediente como um todo. "Se fazemos pickles de pepino para arroz, a casca serve para aromatizar a água", explica o chef. E isso, meus amigos, é melhor do que Kompensan.

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