Não muito longe do Castelo de São Jorge, em Lisboa, foi inaugurado esta quinta-feira, 12 de maio, um wine bar, denominado Seis Garrafeira & Petiscos. O nome diz tudo o que aqui se encontra: petiscos, de sabores bem portugueses, assim como são as referências de vinhos numa garrafeira que salta à vista logo que se entra.
O Seis está situado no primeiro piso do Solar dos Mouros Lisboa Boutique Hotel, mas funciona de forma independente, estando aberto a todos os que passam, em especial aos portugueses.
E não é difícil chegar ao novo espaço (a não ser pelas escadas e colinas próprias de Lisboa que é preciso subir para ganhar fome). Isto porque o nome está associado ao número da porta onde está situado o Seis.
"Na altura, quando idealizei 'vamos fazer aqui um wine bar, um conceito giro' comecei a pensar em nomes, nomes, nomes. Mas depois 'bem, o número da porta é seis, fica seis'", conta à MAGG o responsável pelo restaurante, Bruno Sousa Teixeira, do Porto, formado em Turismo.
Antes de ser transformado em wine bar, este espaço era um restaurante de sushi, que acabou por não correr bem, ou melhor, que acabou por correr a favor dos sonhos de Bruno, que gere o Solar dos Mouros Lisboa Boutique Hotel desde 2016, e de forma independente, com outro sócio, desde maio de 2020.
"Foi em tempos um restaurante de sushi e estava fechado. Durante a pandemia, estive muito tempo a pensar e vim para cá todos os dias, mesmo sem clientes, a olhar e a imaginar. Abria o hotel, limpava-o, tudo como se fosse normal para me manter são. E passei aqui muitas horas fechado, sozinho, a olhar para tudo e a pensar que tinha de fazer alguma coisa disto", diz.
E assim foi. Criou um espaço dedicado ao que os portugueses mais gostam: estar à mesa, petiscar e acompanhar as doses partilhadas com bons vinhos.
Se não fosse a explicação de Bruno sobre a razão do nome, associaríamos seis à hora ideal para chegar ao novo wine bar lisboeta: 18h, momento do dia que já nem é lanche, nem é jantar, mas é a altura perfeita para chegar a este novo espaço, sentar, começar com um mata-bicho (5,60€), que é como quem diz uns croquetes e iguarias para picar, e seguir ementa fora.
1. Num local turístico, mas não para turistas
O que é que acontece nas zonas históricas das cidades? Bruno explica. "Os portugueses queixam-se que na própria cidade não conseguem fazer turismo. Ou os preços são para turistas, ou são muitos turistas. E eu quero contrariar um bocadinho isso na zona histórica de Lisboa", refere, apesar de reconhecer que, ainda por cima estando o Seis junto ao castelo, terá sempre turistas a visitá-lo.
Serão bem-vindos, mas o wine bar foi concebido para nós, portugueses. "O meu público alvo é mesmo o português", reforça. E nada atrai mais um português do que petiscos.
"O conceito é aquele nosso de estarmos todos à mesa a partilhar histórias, a partilhar tudo e mais alguma coisa e a picar. Não é aquela refeição propriamente dita, mas é: eu peço dois pratos, ele pede um prato, está tudo na mesa, abrimos uma garrafa de vinho e estamos aqui a conversar", descreve o responsável. Até porque, sem conversa, não há muito mais que fazer. Não há televisões — Bruno fez questão de não as ter — e no máximo pode distrair-se com o que se segue.
2. A vista para o Tejo
Pense no copo de vinho que lhe soube melhor beber até hoje. Vai certamente associar, primeiro, à companhia, segundo, ao ambiente em redor. Um dos melhores que já bebemos foi numa esplanada num pontão à beira rio, em que uma garrafa a partilhar chegou ao fim como se de um só copo de vinho se tratasse, e o Seis convida a isso mesmo: a partilhar momentos inesquecíveis num espaço de igual patamar.
A paisagem para o rio Tejo, visível a partir das janelas no lado oposto da cozinha aberta, contribui para isso, dado que é fácil perdermo-nos só a ver os barcos a passar e a sentir a brisa do final de uma tarde de verão.
3. Admirar a garrafeira
Assim que passamos a porta do Seis, damos de caras com uma garrafeira vasta e deslumbrante, que parece reproduzir-se no teto espelhado, colocada sobre um fundo preto elegante.
Nesta parede estão apenas vinhos portugueses, selecionados com a ajuda da Best Wine Team, e com um objetivo. "O que quisemos fazer foi ter uma grande diversidade de vinhos, de uma ponta a outra do País, mas sem serem vinhos muito conhecidos. Ou seja, temos vinhos premiados, conceituados, mas não é aquele vinho que vamos a qualquer restaurante e encontramos", refere o portuense.
Uma das razões para esta escolha deve-se à intenção de oferecer uma experiência nova, e a outra é dar a conhecer produtores menos vistos. Se não perceber nada de vinhos, terá sempre as indicações da equipa do Seis de acordo com as suas preferências, mas se já é entendido, basta pedir pelas castas e regiões que prefere.
Caso fique completamente rendido, pode até comprar uma garrafa igual e levar para casa e, no futuro, até encomendar através da garrafeira online que está a ser desenvolvida.
4. Há pão. E molho
Curta, simples e focada na partilha. A carta do Seis é mesmo feita para ir pedindo à medida da fome, da conversa, do avançar da garrafa, como a do branco e tinto alentejano Monte Fuscaz que abriu apetite ao que vamos falar adiante.
Para formular a carta, Bruno Sousa Teixeira teve a ajuda de Samuel Sousa, chef executivo, mas deixa uma coisa clara: "Não inventámos nada". "Os pratos já todos existem, desde sempre. As gambas à guilho, o pica pau, as moelas. O que é que nós fizemos? Foi manter a tradição, mas demos só um toque mais moderno e de empratamento", frisa.
Talvez a única invenção é o chamado caldinho da horta (5,60€), uma sopa como nunca tínhamos provado, com legumes baby mergulhados num caldo apurado. De tudo o resto, apesar de não ter havido grande inovação sobre as receitas tradicionais, houve admiração ao provar.
É o caso das gambas à guilho (12,60€), com um molho que é de louvar e de saborear até à última pitada de pão, em particular o de passas, que vem ainda quente para a mesa. No fundo, logo aqui temos o combo perfeito dos portugueses, molho e pão, mas há mais.
A carta conta também com uma bem apresentada tábua de morcela com maçã caramelizada (5,60€), pica pau de novilho, com mais molho dar conta com pão (12,60€) e, para acompanhar tudo isto, batata brava ao forno (6,60€).
5. A cada visita, novas surpresas
Apesar de o Seis ter uma ementa fixa, se se tornar cliente habitual, vai ter sempre novas surpresas. Uma delas é a sugestão diária do chef (8,60€) e a outra é a sobremesa, mais precisamente o doce do Seis (6,60€).
E atenção, porque estas podem acabar com mais uma: a aguardente caseira, feita em Arcos de Valdevez. "Tenho ali uma garrafa com seis litros, escondida", brinca Bruno, mas deixa uma ressalva. "É para todos. O que está aqui é para todos. Não sou apologista de comprar um vinho e guardar este vinho para quando um filho... Não. Se temos um vinho é para beber. Não guardo nada", afirma.
Se não for apreciador de aguardente, há sempre um clássico vinho do Porto, destacado numa parte do restaurante, que está decorado com alusões à cultura vinícola, desde a vindima ao engarrafamento — resultado de um trabalho conjunto entre Bruno e a mulher, Carla Carvalho Azevedo.
6. O fado é único, mas não exclusivo no Seis
No dia da inauguração do Seis, foram também inauguradas as noites de fado, que vão fazer parte do novo espaço.
"A ideia do Seis é termos um espaço típico português, com fado, mas o Seis não quer só fado. O fado é português, é típico, sim, mas temos muito artista português, muito artista também de rua, que não cantam fado e são excelentes artistas. Estamos a falar de pessoal que faz bossa nova, bandas de cover, algo que se adapta perfeitamente aqui. Então é pegar nesses artistas que não têm grande apoio e trazê-los aqui para divulgarem o trabalho", refere Bruno.
Todavia, para já será o fado a continuar a ocupar as noites e a próxima é já este domingo, 15 de maio. O Seis desenvolveu um menu com tudo incluído, do couvert ao café e fado, claro, e o jantar começa às 20h. Prolonga-se pela noite dentro, como é próprio dos convívios em redor de petiscos.