Quem é apreciador de cozido à portuguesa, é bem possível que já tenha ouvido falar do restaurante Faz Figura. De portas abertas desde 1974 (ano da Revolução dos Cravos), este icónico espaço da cidade de Lisboa sofreu recentemente uma mudança de decoração, horário, nome e, acima de tudo, conceito.
A vista desafogada da estação de Santa Apolónia e do rio Tejo mantiveram-se mas houve muita coisa que mudou. Para começar, o agora apelidado Portugal Wine & Food by Faz Figura deixou de fechar entre a hora de almoço e de jantar e apostou nos petiscos nacionais, feitos com recurso a produtos sazonais e de alta qualidade e nos vinhos a copo, sendo esta a grande novidade do espaço.
Pode provar mais de 48 vinhos para que a escolha seja certeira
“Ainda existe muito preconceito em relação aos vinhos, tanto dos turistas estrangeiros como dos portugueses”, conta Pedro Dias, proprietário do espaço e mentor deste novo conceito, que explica que os dispensadores “By The Glass” são uma forma de os clientes terem acesso a várias referências vinícolas e conseguirem escolher o seu preferido.
Com rótulos menos conhecidos a par de outros mais conceituados, estes dispensadores oferecem 48 opções de vinho a copo, estando também disponíveis outras duas dezenas de opções de vinhos de topo, com recurso ao sistema Coravin — este é um processo onde a rolha do vinho não é retirada para servir a bebida e prolonga a longevidade do produto.
Com recurso ao sistema “By The Glass”, o cliente pode escolher entre três medidas: prova (sem qualquer custo para o cliente), meio-copo e copo.
Pedro Dias explica que as provas são um ótimo conceito, permitindo aos clientes aventurarem-se numa tarde de petiscos ou até sair da sua zona de conforto no que diz respeito aos vinhos, harmonizando as opções com a comida pedida (existem também sugestões de harmonização na ementa).
“Há uns tempos tive uns clientes que me pediram uma sugestão de vinho. Comecei por sugerir um vinho do Dão e interromperam-me logo, que isso era uma porcaria e para lhes trazer algo do Alentejo ou do Douro, os únicos que consideravam ser vinho de qualidade”, conta o proprietário.
“Acabei por lhes trazer uma prova de um vinho do Dão e, sem saberem de antemão, adoraram. Ficaram verdadeiramente surpreendidos quando lhes revelei o que tinham provado.”
Para aderir a este conceito, o cliente adquire um cartão pré-pago, que carrega com um valor à escolha, controlando o plafond que vai gastando através do ecrã digital no dispensador. O valor excedente pode ficar no cartão para uma próxima visita ou ser reavido no final da refeição.
O que é nacional é bom — e aqui só entram produtos portugueses
Depois de um encerramento temporário bastante discreto, o espaço reabriu com este novo conceito em fevereiro de 2018. Pedro Dias aproveitou o mês e meio de remodelações para viajar pelo país, em busca do melhor da gastronomia portuguesa, entre outros produtos bem nacionais.
Para dar primazia ao que de melhor Portugal tem, os produtos que chegam mudam ao ritmo das estações e da oferta local, sendo alterados mensal ou semanalmente.
Assim, na carta pode encontrar farinheira ensacada de Monchique, chouriço de Arcos de Valdevez, queijos do Vimieiro, atum dos Açores, polvo do Algarve, cuscos de Trás-os-Montes, carne marinhoa da bacia do Vouga, bochecha de vitela mirandesa, compotas de Boticas, ovos moles de Aveiro ou marmelada branca de Odivelas, ingredientes divididos entre a carta de petiscos e a ementa de almoço e jantar.
A supremacia dos produtos nacionais estende-se à carta de cocktails e gins, que apenas apresentam gins portugueses e cocktails feitos à base de ingredientes 100 por cento nacionais.
Muita coisa mudou, mas o buffet de cozido à portuguesa ao domingo mantém-se, rico nas carnes e enchidos que chegam dos muitos parceiros. Custa 23,50€ por pessoa (bebidas não incluídas) mas tem de se apressar — o calor está a chegar e a época do cozido mesmo a terminar.