Setúbal tem uma imerecida má reputação. A cidade é conhecida pelo famoso (e delicioso) choco frito, pelas praias da serra da Arrábida mas não é propriamente o primeiro sítio que nos vem à cabeça para uma escapadinha de fim-de-semana. Está errado.
Foi com este pensamento algo preconceituoso que nos fizemos à estrada para visitar a 34Guest House. Mal estacionámos, entrámos, fomos muito simpaticamente recebidos pela Sofia Lobo e mudámos logo de opinião. Toma lá que já almoçaste. E, por falar em comida, somos logo presenteados com um sumo de laranja e dois mini pastéis de nata, enquanto descansamos da viagem no pátio interior.
O espaço, onde predominam os tons azuis, os brancos, os cinzentos, convida a ficar ali, a desfrutar do silêncio no meio da confusão desta cidade banhada por mar e com chapéu de serra. Mas há muito para ver. E, apesar de a 34Guest House só ter nove quartos, cada um é uma viagem. Literalmente. Têm nomes de cidades e regiões de Portugal, com decorações a condizer. E há também uma surpresa para os patudos. Mas já lá vamos.
Calhou-nos em sorte Lisboa. O quarto, de inspiração barroca, é um sonho. Há poesia nas paredes, há um candelabro enorme, suspenso por cima da cama. Há opulência, sofisticação, cuidado, atenção ao detalhe. Pousamos a mala, tiramos os sapatos, apreciamos cada detalhe. Estamos em Lisboa ou estamos em Paris? Será que fomos transportados no tempo para o boudoir de uma elegante senhora da alta burguesia? A culpa é da decoração rica, do papel de parede azul-profundo, dos dourados. Uma Lisboa de outrora está em todos os detalhes e uma pessoa não consegue deixar de se sentir quase protagonista de um filme de época (não, não estamos a exagerar).
Ah! As asas do anjo. Há lá coisa mais instagramável do que isto?
O espaço do quarto Lisboa (bem como dos restantes, dos quais mais à frente falaremos) foi aproveitado ao máximo. A casa de banho, construída no espaço que restava atrás da cabeceira da cama, tem um pormenor que tem tanto de prático como de romântico. A sanita e o lavatório estão de um lado (com porta, daquelas que fecha mesmo… se é que me entendem) e o chuveiro (daqueles com pressão mesmo à séria, que fazem criam ali uma mini sauna gostosa) está do outro.
Ah, e há secador de cabelo dos verdadeiros, não daqueles que emitem um sopro morno e raquítico. Detalhes que fazem toda a diferença quando se vai fazer aquele primeiro fim-de-semana a dois, assim como os roupões extraordinariamente fofos e o pormenor mais catita e prático que já vimos neste tipo de alojamento: um mini frigorífico Smeg, ali alojado debaixo da televisão. Sim porque, sejamos honestos, os micro refrigeradores da maioria dos hotéis nem uma garrafa de água conseguem arrefecer.
Da nossa janela Lisboa, vemos uma nesga de serra e o forte de São Filipe. Uma impossibilidade espacial, só exequível na 34Guest House. Dormimos o sono dos justos, em colchão impossivelmente fofo, aconchegados por inúmeras almofadas e de consciência tranquila. Pazes feitas com Setúbal.
Irmãs Tavares unidas num projeto para “valorizar a arte e a cultura”
No dia seguinte, e já na companhia das proprietárias, as irmãs Carla e Sara Tavares, tomamos o pequeno-almoço continental (com pão acabadinho de sair do forno) na sala Setúbal (as áreas comuns, bem como a decoração das mesmas, são uma homenagem à terra). A ideia de uma guest house surgiu há 3 anos, quando Carla desafiou a irmã mais nova a iniciarem um projeto “diferente”. O apoio da autarquia ao projeto foi fundamental, uma vez que o edifício, situado na zona histórica, precisou da supervisão de um arqueólogo para seguir em frente.
“A minha irmã queria criar a ideia de percorrer uma galeria, daí as obras de arte. Em comum, queríamos que as pessoas entrassem e sentissem que estavam em casa”, explica Sara. “Valorizar a arte e a cultura” foi a premissa que esteve na ideias das irmãs, do arquiteto Ricardo Romero e de João Maria, da JM Beyond Interiores, a empresa responsável pela decoração de interiores.
E, por falar em decoração, as mãos, que estão em todo o lado, em forma de bancos e peças expostas nas zonas comuns. “Eu detestei (risos)!”, confessa Carla. “Eu gostei. Sou uma pessoa muito crítica mas ele explicou-me o conceito. Como as zonas sociais são todas de Setúbal, ele quis colocar as mãos como se fosse um abraço, um acolhimento às pessoas quando chegam. Depois sentei-me, eram confortáveis, tudo bem”, conta Sara.
A 34 Guest House abriu em agosto passado e, desde então, clientes é coisa que não tem faltado. O conforto foi a prioridade máxima das irmãs e, como Sara recorda, experimentou “todas as camas” possíveis até eleger os colchões ideais para os 9 quartos. Vamos voltar às asas do quarto Lisboa. “O João queria algo que tivesse uns anjos, a puxar o barroco, e o Ricardo decidiu fazer as asas do anjo, com uma interpretação contemporânea”.
Uma viagem de Norte a Sul e uma suite pet friendly
Amigos dos animais, donos de bichos. Conhecem o cão que está na parede da Suite Matilha? É Remix The Dog, um influencer de quatro patas que inspirou a criação deste quarto pet friendly.
Comecemos a nossa viagem em Coimbra, o quarto mais sereno e discreto, para os puristas. Subimos até Viana do Castelo, onde as prateleiras são decoradas com os lenços típicos daquela cidade. Passamos por Guimarães, o berço da Nação, onde está o coração do País. Literalmente, um enorme coração, mesmo por cima da cama.
Descemos ao Porto que é (e isto é só um gosto pessoal) o que tem a decoração mais espectacular, com um extraordinário conjunto de luzes composto por lâmpadas e garrafas de vinho do Porto e ainda uma cama com uma estrutura de madeira escura.
Continuamos a viagem para sul, passando por Aveiro. Há uma pintura com um palheiro da Costa Nova, que é o nome das típicas casas listadas a branco e cores garridas, e um papel de parede colorido que nos deixou boquiabertos (revelou-nos a Carla que é 100% lavável).
Seguimos para Évora, onde a herança romana está presente nos pormenores decorativos. E, por fim, os Açores. E o que é que há nos Açores? Baleias. O que é que também há na 34Guest House? Uma baleia a decorar a passagem da sala para o quarto desta suite júnior que, tal como a Guimarães, tem espaço para quatro pessoas.
Chegámos ao fim. Ah! Achavam que as irmãs Tavares se tinham esquecido da Madeira? Não. São as águas furtadas, onde fica uma salinha de convívio aconchegante, ideal para um momento de família, para ler um livro ou apenas para descansar.
Se não ficou com uma ideia clara desta verdadeira volta a Portugal, percorra a galeria e veja.