Ir ao JNcQUOI ASIA não é como ir a um restaurante qualquer. É concretizar um desejo que nem sequer sabíamos que tínhamos. A palavra 'luxo' pode estar gasta e servir para designar coisas tão díspares como uns sapatos ou uma cidade, mas o que se sente neste espaço do Grupo Amorim Luxury é exatamente isso. Luxo. Sumptuosidade. Desejo.
Para os nossos cinco sentidos, pouco experimentados nestas lides, entrar neste microcosmos de luz e sombras, dourados, almofadados, decoração luxuriante, como uma viagem entre o Índico e Extremo Oriente sem sair da Avenida da Liberdade, foi - temos de admitir - um choque inicial. Mas, honrando a tarefa que ali nos levou, concentrámo-nos no importante: a renovada carta de sushi, com novidades criadas pela equipa liderada por António Bóia, chef executivo do JNcQUOI ASIA.
O que se passou foi uma sinfonia em três atos, com um interlúdio, conduzido pelo sommelier Ricardo Morais, que nos apresentou ao JNcQUOI branco (39€), vinho de assinatura do espaço, em parceria com a Quinta do Crasto. Aromático, rico e refrescante, surpreendente, deixou-nos logo curiosos para descobrir como é que esta frescura translúcida iria casar com as peças que nos seriam apresentadas.
Para a mesa, antes das novidades da carta de sushi, um nota fora da partitura: um cestinho com naan (pão achatado, oriundo da Índia), feito no tandoor, que conseguimos ver a ser usado com mestria na cozinha aberta (onde se move uma equipa mais afinada do que um relógio suíço, pudemos depois comprovar pelo ritmo irrepreensível do serviço).
O primeiro ato
Há poucas formas melhores (e mais portuguesas) do que começar uma refeição com ostras. Em concreto ostras com ponzu (ostras do Algarve, molho ponzu e lima caviar, 12€). Maravilhosamente frescas, untuosas e carnudas, foram o início perfeito desta descoberta. Já o usuzukuri de lírio JNcQUOI (lírio, ponzu, óleo de trufa e ikura, 28€) desapontou-nos, mas apenas e só pela presença do óleo de trufa (que, na realidade, é uma omnipresença gastronómica e que, aqui entre nós que ninguém nos ouve, já cansada), que se sobrepôs ao sabor delicado do lírio.
Encerrámos o primeiro acto com aquele que foi consensualmente o melhor momento da refeição: o temaki de salmão (salmão e ikura, 28€), uma impressionante explosão de fragrâncias, assim mesmo, uma sinestesia, porque, ao trincarmos este delicado rolinho aromático, a explosão de sabores foi tal que nos inebriou os sentidos.
O segundo ato
Os nigiri, cinco para sermos mais precisos. Começámos com carapau, cebola e gengibre (10€), a maior fífia da noite. Não conseguimos entender a quantidade absurda de gengibre crú, ralado, em cima do carapau. O sabor intenso e adstringente desta raiz não só ocultou por completo a delicadeza da carne do carapau como nos deixou com a boca a arder.
Seguiu-se o pargo e umeboshi (18€), a lula com kisami wasabi (11€), com uma textura muito macia e delicada, que nunca diríamos que se tratava do cefalópode, vieira e caviar (24€), combinação clássica que grita, e vamos ser repetitivos, luxo e, por fim, a segunda estrela da noite, o wagyu braseado e molho de gema (29€). Esta já não era a nossa primeira experiência com nigiri com esta carne de novilho japonês. É difícil errar quando se usa uma matéria-prima tão nobre, embora se corra o risco de, e especialmente em peças tão pequenas, haver um excesso de gordura. Não foi o que aconteceu neste nigiri, grelhado na perfeição, onde a untuosidade da gema acrescentou uma camada delicada, aveludada, como se de um casaco de vison (falso, claro), se tratasse.
O terceiro ato
Avançamos, globalmente satisfeitos, para o ato final. Começamos com o uramaki wagyu JNcQUOI (carabineiro, abacate, molho de cabeças de carabineiro, wagyu braseado e caviar beluga, 45€), que podia ter sido excelente mas foi só bom, em grande parte devido ao abacate que quer, em sabor, quer em textura, nada acrescenta à peça. E aproveitamos este momento para pedir à comunidade gastronómica em geral para pararem com abacate em todo o lado. Adoramos o guacamole, percebemos as tostas. Mas já chega.
De volta à nossa sinfonia, as notas finais: tártaro de atum JNcQUOI (atum akami, óleo de trufa, caviar e wontons crocantes, 42€). A textura do atum, em tiras fininhas, causou estranheza. Parecia, no palato, carne, e, mais uma vez, o óleo de trufa, sabor que ofusca todos os outros, a diminuir a delicadeza carnuda do atum. Adorámos o wontons crocantes e eramos bem capazes de fazer uma refeição só com estas folhinhas crocantes e douradas.
* A MAGG visitou o espaço a convite do JNcQUOI ASIA