Há hotéis e depois há o W Algarve. Já tinhamos ouvido falar da marca pertencente ao grupo Marriott, em especial das festas do seu congénere em Barcelona e também do luxo moderno do W London. No entanto, nada nos tinha preparado para o que encontrámos num lugar onde, aparentemente, ninguém estava à espera que nascesse um hotel de cinco estrelas com uma filosofia completamente diferente das unidades hoteleiras desta categoria: em Albufeira, a poucos quilómetros da movida, digamos assim, mais popularucha, da rua da Oura e afins.
O primeiro impacto quando entramos no W Algarve, além da arquitetura futurista e evanescente, é a indumentária dos colaboradores. Não há calças de pinças, saias travadas, camisas apertadas até ao pescoço e muito menos gravatas. Há camisas coloridas, vestidos descontraídos e sapatilhas.
Os uniformes, desenhados pelo estilista português Gio Rodrigues, encaixam na perfeição com a informalidade da abordagem. Rodrigo, que nos guia até à receção do hotel, oferece-nos um copo de espumante enquanto aguardamos o momento de fazer check in. Será também ele que nos oferecerá uma breve explicação sobre os elementos decorativos da receção, que incluem uma parede decorada com 613 pratos Vista Alegre (fica a dica quando vos for feito o quiz) e tetos com espaços de cor inspirados nas grutas de Benagil.
O azul turquesa e o branco são os tons dominantes, e aqui tudo é pensado para o Instagram, não só para as fotos mas também para os stories. A música é omnipresente, bem como os perfumes, que mudam consoante o espaço por onde passamos.
Chegados ao quarto (e depois de nos deslumbrarmos com a portas, todas em cores diferentes), temos de nos lembrar para fechar a boca, tal é a surpresa com o detalhe, a decoração, os pormenores, desde o mini bar que está inserido numa reprodução de uma típica chaminé algarvia, ao peixe-almofada colorido que decora as camas e que pensámos (pensámos, só) trazer para casa, escondido na mala. Na zona da casa de banho e também na varanda, paredes iridescentes, cujo tom varia consoante a luz, são perfeitas para (sim, vamos ser repetitivos) tirar aquelas fotos espetaculares para o Instagram.
Mas nem só de aparência vive este hotel, uma vez que o conforto reina. Das camas aos sofás exteriores, que permitem uma vista privilegiada sobre a piscina e também sobre o mar, uma vez que o hotel fica a escassos metros da praia.
Quando visitámos o W Algarve, os acessos à praia do Evaristo estavam a ser ultimados. Por isso, mantivemo-nos pela piscina. É uma piscina qualquer? Não. É uma experiência. A começar pela música envolvente (as sunset parties no Wet Deck são uma constante, bem como a animação no W Lounge), passando pelas cores, pelas luzes e também pela dimensão da própria piscina. Somos apreciadores de piscinas com uma certa profundidade (quem é que gosta de nadar em água rasa? Nós não) e o formato desta, em meia lua, permite dar umas braçadas consistentes, para abrir o apetite para as iguarias dos restaurantes Paper Moon e Market Kitchen . Mas já lá vamos.
À noite, todos os espaços exteriores do W Algarve ganham cor, dos jardins à piscina, passando pela fonte, situada no meio do jardim, e cujos repuxos dançam ao som da música. À volta, para descansar depois do almoço ou entre mergulhos, há cabanas com camas e também cadeiras de baloiço em forma de casulo.
Isto não é um spa. É uma experiência religiosa
A maioria dos spas de hotéis têm ginásios, sauna, banho turco e jacuzzi guardados algures numa cave ou em sítios fechados. O W Algarve tem estes espaços de relaxamento numa varanda com vista para o hotel. Não sabemos bem como é que isto vai funcionar no Inverno mas, honestamente, não foi coisa que nos preocupasse quando estávamos dentro do jacuzzi, a relaxar, olhando o sol a pôr-se no mar.
Nesta varanda, que é o paraíso (e depois de trocarmos de roupa nos balneários, onde nos fornecem toalhas, chinelos e um roupão fofinho), há uma piscina quente (o vulgo jacuzzi) e também uma piscina 12ºC. Sim, 12ºC. Não será um banho de gelo, como agora está muito em voga, mas dá perfeitamente para experienciar o choque de temperatura. Custa, mas a sensação de energia é revitalizante.
Os clássicos sauna e banho turco também lá estão, além de um sensory shower que é, basicamente, um duche em cascata com diferentes tipos de intensidade. E para os que, como nós, odeiam música com passarinhos, sininhos, grilinhos e golfinhos a cantar, o Away Spa tem uma banda sonora completamente distinta, entre o épico e o lounge às 6 da tarde com cocktail na mão. Perfeito.
Tivemos ainda a oportunidade de experienciar um dos tratamentos da carta do Away Spa, a massagem De-Stress (95€), que, em 60 minutos, promete "reavivar os músculos cansados e reduzir o nevoeiro mental, com óleos que promovem a limpeza da mente, pressão moderada e técnicas de alívio de pressão". Cumpriu e íamos adormecendo na sala de relaxamento, cujas camas, com vista para a fonte / lago e piscina, quase convidam a pernoitar por ali.
Jantar no Paper Moon? Guarde espaço para a sobremesa
Já mergulhámos, já relaxámos, está na altura de apaziguar o estômago. Os espaços de restauração do W Algarve são quatro, todos da responsabilidade de Nuno Gonçalves, chef executivo do hotel: Market Kitchen (onde são também servidos os pequenos-almoços), Paper Moon (italiano cuja carta é da responsabilidade do chef italiano Federico Belluco), Sip@wet (bar da piscina) e W Lounge (na receção do hotel, com destaque para os cocktails inovadores). Cada um com um ambiente completamente distinto, o que torna difícil eleger qual o nosso favorito.
Se o pequeno almoço do W Algarve não é dos melhores que já provámos, anda lá perto. Seja pela apresentação inovadora, em coloridos tachos de ferro fundido, seja pelas propostas que, habitualmente, não se encontram em buffet: os ovos Shakshuka (uma especialidade do Médio Oriente, em que os ovos são escalfados num molho atomatado e picante), o molho romesco (especialidade catalã, feito com tomate, pimento vermelho e amêndoas), as panquecas e os dois tipos de bacon (as tradicionais fatias fininhas e bacon canadiano, menos gorduroso) ficaram no topo das nossas preferências.
Foi também no Market Kitchen que almoçámos, uma refrescante salada de camarão ao vapor (17€) e um clássico, salada Caesar (11€), que fazemos sempre questão de provar quando disponível porque, para nós, é a bitola de avaliação de um bom restaurante de hotel. Esta está mais do que aprovada, com o melhor soft boiled egg que já comemos.
Há uma piada recorrente nos bastidores do W Algarve. "Quem é que vai conseguir acabar o tiramisù?". Só a percebemos depois, quando o diretor de marketing, Jérémie Lannoy, nos contou, e após termos visitado o Paper Moon. O restaurante, situado no topo do W Algarve, é tudo o que podemos desejar.
É cool, é elegante sem ser espartilhado, tem uma ementa variada sem ser extensa. E, mais importante do que tudo, a comida é absolutamente maravilhosa, sem ser complexa ou demasiado inventiva. Depois de saborearmos um dos cocktails da carta, o Papermoon Spritz (14€), começámos com fritto misto con zuchine e salsa tartara fatta in casa (18€), ou seja, lulas fritas, camarões, courgette e molho tártaro caseiro.
Miguel Martins, o sommelier do W Algarve, é um dos anfitriões do Paper Moon, sempre disponível para nos ajudar a escolher o melhor pairing para os pratos. Na noite da nossa visita, provámos um refrescante Redoma Branco (Niepoort), que casou na perfeição com os pratos que vieram para a mesa, e ainda o Douro Vale de Escadas Altitude Reserva.
A estrela da refeição, o pappardelle Paper Moon, com bacon, molho de tomate e natas, encontrou alguma concorrência, ofereceu-nos uma massa fresca, confecionada na perfeição, com um molho cremoso e decadente, sem ser enjoativo. Ainda veio para a mesa a piza speck e zucchine (14€), cuja massa fofa e gulosa nos fez esquecer que já estávamos com pouco espaço no estômago.
Correndo o risco de nos repetirmos, voltamos a recordar o importante teste do tiramisù. É a prova que se faz quando queremos saber se um restaurante italiano é verdadeiramente bom ou se é uma farsa. O do Paper Moon (8€), o tal da piada de bastidores, não só é absurdamente cremoso e saboroso como vem em tamanho XXL. Confiem em nós quando vos dizemos que esta é mesmo uma sobremesa para partilhar. Provámos ainda a Coppa al Limone (8€), que ficou no nosso coração, não só por ser o nosso sabor favorito como também por reunir o gosto deste ácido citrino em três formas: bavaroise, geleia e sorvete. Jérémie contar-nos-ia depois que a Panna Cotta é a melhor sobremesa na carta, e teremos de tirar a prova dos nove na próxima visita.
"Luxury lifestyle é um exercício de equilíbrio difícil"
De portas abertas desde o início de junho, o W Algarve é o primeiro destino de "retreat" da marca no continente europeu. "Retreat", que se traduz simplesmente como "retiro", é um conceito de hotelaria que alia turismo, gastronomia, wellness e experiências únicas. À frente do departamento de marketing está Jérémie Lannoy, que trocou Bali, onde trabalhava no irmão mais velho do W Algarve, por Portugal. "O nosso dono apaixonou-se pela região. Comprou uma villa na praia da Balbina e, aqui, havia uma construção inacabada. Acredito que ele tenha pensado que era uma boa oportunidade para fazer aqui um hotel", começa por explicar à MAGG.
Atualmente com cerca de 60 unidades hoteleiras, espalhadas por quatro continentes (América, Europa, África e Ásia), a marca W nasceu em 1998 em Nova Iorque, nos EUA. “Inventámos o luxury lifestyle( luxo de lifestyle). A marca tem muitas características nova-iorquinas na sua essência. Design, música, moda, wellness. É uma marca muito vocal sobre questões como a igualdade, representação LGBTQI+. Se reparar, na entrada do hotel, temos a bandeira do orgulho LGBTQI+. A partir daí, adaptamo-nos aos locais, fundimos os princípios da marca com as tradições e arquitetura locais”, explica o responsável.
As referências à cultura, arquitetura, tradições e símbolos do Algarve estão por todo o lado no W. O projeto arquitetónico, que ficou a cargo da empresa AB Concept, sediada em Hong Kong, foi beber inspiração às grutas de Benagil, às chaminés brancas e trabalhadas da região, às marcas árabes que perduram até aos dias de hoje. Quem visita o W apercebe-se, entre outros pormenores que tornam a marca única, que, em cada área, há uma banda sonora diferente. Há também um aroma diferente. Tudo isto não é fruto do acaso, é pensado ao pormenor. “A música e os aromas são programados automaticamente para irem variando ao longo do dia”, explica Jérémie Lannoy, que salienta que este processo é adaptado consoante a reação dos hóspedes, os locais onde passam mais tempo e a forma como respondem a estes estímulos.
Para quem é o W Algarve? Não é para toda a gente, e a triagem inicial começa no preço. Mas não só. “O mercado britânico para hotéis de cinco estrelas é de cerca de 38%. O mercado português representa 25%. Depois, há o mercados alemão, espanhol e o Benelux. Sabemos que temos de chegar a estes mercados. Mas, como não somos uma marca muito conhecida na Europa, como é que fazemos isso?”, questiona. Sendo uma marca “muito americana”, o diretor de marketing do W Algarve explica que, devido a esse fator, atraem mais americanos do que o resto do Algarve.
Outro fator de diferenciação: cada um dos colaboradores é treinado para manter uma conversa entusiasmada com os hóspedes. "Os nossos talentos têm de criar uma conexão genuína [com o hóspede], que não tem guião. Quer dizer, tem, mas tentamos afastar-nos de frases e palavras específicas. Temos de desconstruir e encontrar um equilíbrio. Luxury lifestyle é um exercício de equilíbrio difícil porque temos de ser um hotel de luxo, providenciar o serviço de um hotel de luxo e, ao mesmo tempo, ter uma conexão genuína, uma acessibilidade, que não existe nos outros ambientes de luxo. Encontrar esse equilíbrio é o mais difícil", salienta Jérémie Lannoy
Os W Hotels são uma marca detida pelo grupo Marriott. O W Algarve resulta de uma parceria com a Nozul Algarve, que faz parte do grupo Jaidah Holdings, pertencente a uma das mais poderosas famílias do Qatar. O grupo, com investimentos em áreas como a hotelaria, o imobiliário e a saúde, detém um dos mais icónicos hotéis do mundo, o palácio Gritti, em Veneza, onde George Clooney e Amal Alamuddin se casaram, em 2014.
O que adorámos
- Tudo no restaurante Paper Moon, desde a atenção dos colaboradores aos pratos deliciosos;
- a área de spa ao ar livre;
- a piscina;
- toda a envolvência sensorial do hotel, das cores à música, passando pelos perfumes, diferentes em cada área;
- O pequeno-almoço do Kitchen Market.
O que podia ser melhor
- a água do jacuzzi da piscina exterior não estava aquecida;
- o mini bar começou a verter um líquido estranho e não refrigerava;
- assim que entrámos no quarto, encontrámos um pedaço de papel higiénico amarrotado no chão da casa de banho e um pedaço de plástico no quarto. Inadmissível num hotel de 5 estrelas;
- As lajes dos duches do spa não têm inclinação, o que faz com que tudo fique inundado ao fim de poucos minutos. Após várias tentativas de equilibrar a temperatura de água, ficámos com uma torneira na mão.
Veja as fotos do W Algarve
Os preços de uma estadia de uma noite, para dois adultos, em quarto tipologia Wonderful, começam nos 636€ (simulação feita no site do hotel para a noite de 12 para 13 de agosto).
*A estadia da MAGG aconteceu a convite do W Hotel