Ainda estamos a recuperar do NOS Alive, mas, como se costuma dizer, a vida são dois dias. É que, quando temos um festival como o Super Bock Super Rock a escassos minutos de casa, é impossível deixarmos que a festa seja feita sem nós. E este sábado, 15 de julho, seguimos até à Herdade do Cabeço da Flauta, junto à praia do Meco, com um objetivo em mente: ouvir umas músicas do Tiktok sem ter o telemóvel a um palmo do rosto.

É que, no Palco Pull&Bear, depois de vermos as novidades da marca e de uma viagem pelos carrinhos de choque, tivemos oportunidade de ver uma artista que, desde a pandemia, tem entrado nas nossas casas através dessa rede social. Estamos a falar de PinkPantheress, uma cantora britânica de 22 anos que é, por outras palavras, a personificação de um casamento entre a bubblegum pop e a hyperpop – vá, para quem não pesca nada do assunto, são subgéneros da música pop, conhecidos por ficarem facilmente no ouvido.

Os tempos áureos da adolescência já lá vão, mas é impossível não vibrar com as criações da artista. Especialmente quando nos remetem para uma era em que, por estarmos trancados em casa, graças à COVID-19, as cantorias e dancinhas ao som dos seus êxitos foram responsáveis pelo entretenimento de milhões de pessoas – e nós, mesmo que não queiramos admitir, contribuímos para essa estatística.

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A pandemia catapultou, sem dúvida, a carreira de PinkPantheress, que, desde então, tem trilhado o seu caminho na indústria de forma inteligente, aliando-se a artistas igualmente na berra, como Ice Spice e Willow Smith. Aliás, nos últimos tempos, a sua popularidade tem continuado a crescer tanto que, durante o concerto, só conseguíamos pensar numa coisa: "como é que esta miúda se sentirá, sabendo que, há dois anos, estava na faculdade e agora está a cantar em palcos internacionais?".

É que o amor pela edição de vídeos de celebridades fez com que estudasse cinema na University of the Arts London, no Reino Unido, mas foi pela música que se apaixonou. E mesmo que o seu repertório musical seja ainda muito reduzido, a cantora conquistou o nosso selo de aprovação, graças ao seu espetáculo, que se afastou daquilo a que outros artistas nos habituaram. Saiba porquê.

1. Artifícios e grandes produções, para que vos quero?

Sabemos que, noutras circunstâncias, reiterámos a ideia de que a estética é essencial para ajudar qualquer espetáculo a vingar. De facto, nos últimos tempos, os artistas têm investido em concertos que, além de música, se afiguram como uma verdadeira ode ao entretenimento – mas este não foi o caso e nem por isso ficámos mais desgostosos.

Não houve mudança de roupa, não houve um manancial de bailarinos a dançarem irrepreensivelmente bem ou um espetáculo de luzes muito elaborado a servir de pano de fundo. Ao palco subiu uma cantora que, em conjunto com a sua pequena banda, tinha uma grande vontade de entreter o público apenas com a sua arte.

Claro que não podemos dizer que tenha sido um espetáculo em que o seu aparelho vocal poderosíssimo foi o protagonista – até porque, durante a grande maioria do concerto, a sua voz misturava-se com as backtracks das faixas, fazendo com que, mesmo nos momentos em que estava calada, pudéssemos continuar a ouvi-la cantar.

Ainda assim, de "Take Me Home" a "Just For Me", passando por "Where You Are" e terminando com a música do momento, "Boy’s a Liar Pt. 2", PinkPantheress mostrou que, mesmo que haja artistas que nos tenham habituado a grandes produções, isso é secundário. Porque as luzes da ribalta acabam por ofuscar o artista de carne e osso que se encontra à nossa frente.

2. Numa era em que os artistas ficaram mudos, esta interage que se farta

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Não sabemos porquê, nem quando é que o paradigma mudou, mas sentimos que os artistas têm ficado cada vez mais calados em cima do palco. Sim, cantam, mas já não encantam. Isto porque é preciso mais do que uma voz bonita para nos fazerem querer estar ali especados – tem de haver uma conexão palpável com o público.

Felizmente, PinkPantheress não sucumbiu a esta estranha condição de mudez que tem afetado cantores pelo mundo fora. Aliás, se fechássemos os olhos, e se não fosse o frio desagradável que se fazia sentir pela Herdade do Cabeço da Flauta, do qual a cantora até reclamou, quase conseguíamos dizer que estávamos numa festa de pijama no quarto da mesma.

Falou com o público e leu os cartazes que os admiradores empunhavam, tendo até ficado com um que manifestava "orgulho" na artista. Elogiou os chapéus verdes, distribuídos pelos patrocinadores do festival, que o público apresentava (e até arrecadou um para si). E até pegou num telemóvel alheio para tirar umas quantas selfies – e foi amoroso.

Simpática e carismática, PinkPantheress levou a cabo todas as interações que, hoje em dia, já não são muito comuns, mas das quais continuámos à espera de um artista num concerto ao vivo. E não sabemos como é que, daqui para a frente, vamos conseguir sobreviver aos cantores que não se encontram neste nível de intimidade com os fãs.

3. Foi um concerto curto, mas bom

"Sinto-me honrada por ter tanta gente a ver-me na minha primeira vez em Portugal", afirmou a artista, alguns minutos depois do início do concerto. "Isto é muito bom", continuou, orgulhando-se da plateia recheada que ficava diante dos seus olhos e que se preparava para ouvir os êxitos mais conhecidos.

Contudo, o concerto não durou mais de 40 minutos. Mas calma, porque contrariamente aos Nickelback, que, em 2002, foram expulsos pelo público de um festival em Vieira do Minho, sem passarem do segundo tema, não foi pela vontade dos fãs que a artista não esteve mais tempo em palco – na verdade, a energia era tão boa que, se estivesse três horas a cantar, temos a certeza de que continuaria a ter pessoas a aplaudi-la.

"Vou tentar dar uma hora de concerto, mas não tenho assim tantas canções", justificou. E ainda que, infelizmente, não tenha conseguido cumprir esse objetivo, não podemos queixar-nos, porque foi um concerto recheado de boa música e, certamente, de boas memórias para quem se dirigiu ao Meco para o efeito.

Mas a duração reduzida deste espetáculo é prova de uma coisa: PinkPantheress não quer fingir ser algo que não é. A cantora não estava ali para encher chouriços, como diz o eco popular, ou para enaltecer uma carreira que não tem. Porque a sua vida de artista ainda agora está a começar.