Unida apenas no nome, mas tomada pelas margens e cada vez mais polarizada, a América não tinha outra solução que não passasse pela procura de uma união perfeita e sólida. As palavras são de Barack Obama, num discurso de 2008 focado na tensão racial, mas talvez façam (ainda) mais sentido no rescaldo de uma presidência de Donald Trump, marcada pelo envolvimento da Rússia na eleição, pelo uso de discurso inflamado e de apelo à violência, por uma pandemia fora de controlo e por um ataque sem precedentes à democracia americana com a invasão ao capitólio. Afinal, na terra dos livres nem todos o eram.
Terminados os oito anos de presidência de Obama e os quatro de Trump, chega esta quarta-feira, 4 de agosto, à HBO o documentário "Obama: In Pursuit of a More Perfect Union". Em português, a tradução possível seria qualquer coisa como "Em Busca de Uma União Mais Perfeita", numa referência àquele que foi o seu discurso de 2008, quando a tensão racial continuava a fervilhar (alguma vez deixou de estar?), mas a ideia de Trump parecia impossível.
Realizado por Peter Kunhardt, o documentário aborda os oito anos na Casa Branca de um homem que, antes de ser presidente, viu nascer em alguns circuitos eleitorais fundamentais, a dúvida sobre se seria negro o suficiente para lhes merecer o apoio.
Mas para que essa análise seja o mais próxima possível da verdade e daquela que foi a realidade de alguém que, apesar do cargo que ocupou, na adolescência era pouco dado a discussões filosóficas ou políticas, a produção conta com o contributo de colegas, amigos próximos e até opositores políticos.
Um deles, por exemplo, é Bobby Rush, um homem negro, representante do partido Democrata em Illinois no Congresso, a quem Obama fez frente em 2000, sofrendo uma dura derrota que quase pôs fim à sua carreira política.
Em retrospetiva, sabe-se que foi um erro: afinal, Rush tinha uma base cimentada de eleitorado negro com uma taxa de aprovação na casa dos 70%, numa altura em que Obama era (quase) um completo desconhecido.
A corrida e subsequente derrota é um dos maiores arrependimentos de Obama, tal como o próprio descreve na sua autiobiografia, "Uma Terra Prometida", através da qual assume que, naquele momento, percebeu que se tinha tornado naquilo que nunca queria ser: "Um político, e um não muito bom".
Apesar do arrependimento, a decisão de fazer frente a Rush é um dos exemplos (pouco abordados quando a ideia é falar dos momentos que marcaram a ascensão de Obama) que atestam à sua ambição e que são representados neste documentário.
Passando pela infância, adolescência e os oitos anos na Casa Branca, "Obama: In Pursuit of a More Perfect Union" mostra os esforços de um presidente que tentou carregar o idealismo de uma América que fosse unida para lá do nome. Mesmo que, mais tarde, o seu sucessor fosse alguém "diametralmente oposto a tudo aquilo" em que acreditava, tal como escreve no seu livro
A produção documental é composta por apenas três episódios.