Foi o filme “Boogie Nights” que lançou o realizador Paul Thomas Anderson para a fama internacional. Considerado "o cineasta mais promissor de 1997", o norte-americano cumpriu a promessa quando, ainda nesse ano, fez chegar às salas de cinema a história de um lavador de pratos que se torna uma estrela de filmes pornográficos.

Nomeado para três Óscares, incluindo o de Melhor Argumento Original, “Boogie Nights” — em Portugal com a tradução "Jogos de Prazer" — tornou-se um clássico. Com Mark Wahlberg e Julianne Moore nos papéis principais, o drama mantém-se hoje com a simpática nota de 7,9 em 10 no IMDb.

O segundo filme do realizador Paul Thomas Anderson foi “Boogie Nights”
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Quentin Tarantino sabe que é um grande filme. Em entrevista ao podcast "The Ringer", publicado a 1 de agosto, o realizador elogiou a longa-metragem, e em particular a prestação de Burt Reynolds, que desempenha o papel de Jack Horner, um realizador de filmes pornográficos. Tarantino conhece bem o seu trabalho, ou não fizesse o ator também parte do filme de que está toda a gente a falar neste momento, "Era uma Vez... em Hollywood".

Sim, Quentin Tarantino gostou do filme, e adorou a prestação de Burt Reynolds. Mas há um pormenor no enredo que o deixa verdadeiramente incomodado. "Eu e o Paul já falámos sobre isto", adiantou Tarantino, salientando a boa amizade que mantém com o realizador Paul Thomas Anderson. Não há cá facadas nas costas entre cineastas, os dois já abordaram o assunto.

"Eu acho que há uma ligeira falha em 'Boogie Nights', e a falha é a perceção da personagem de Burt Reynolds. O Paul pode dizer que não se baseia no realizador Gerard Damiano, que fez 'Garganta Funda', mas é óbvio".

Pausa. É provável que saiba do que estamos a falar, mas para o caso de haver alguma confusão com o caso de Watergate, explicamos melhor. "Garganta Funda" foi um emblemático filme pornográfico lançado em 1972, que marcou uma mudança na indústria: foi uma das primeiras longas-metragens a ter uma trama, desenvolvimento de personagens e uma produção bem financiada.

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Só nos Estados Unidos, o filme arrecadou quase 18 milhões de euros. Toda a gente tinha visto o filme, ou pelo menos ouvido falar sobre ele. Quando nesse mesmo ano aconteceu um assalto à sede da Comissão Nacional Democrata, no Complexo Watergate, dois repórteres do "Washington Post" começaram a investigar o caso. Uma das suas fontes revelou que o presidente sabia das operações ilegais. O seu nome de código? Garganta Funda.

Adiante. Tarantino não tem qualquer dúvida de que Burt Reynolds interpreta o papel de Gerard Damiano. "Ele parece-se exatamente como ele, e o Damiano tem um olhar muito característico." E vai mais longe: "Aquele não é o olhar do Burt Reynolds, é o olhar de Gerard Damiano".

Está bem, Tarantino: Burt Reynolds é Gerard Damiano. Qual é o problema então? É que a mentalidade do realizador pornográfico interpretado por Burt não tem nada que ver com Gerard Damiano. A falha acontece quando Reynolds está a trabalhar num filme pornográfico e diz que aquele é o seu melhor trabalho.

"O filme parece uma porcaria. Parece horrível", garante Tarantino. "Acreditem em mim, eu já vi mais filmes pornográficos do que o Paul porque trabalhei num cinema porno. Vi muitos filmes que eram tão maus como este. Mas ele tem a personagem do Burt a dizer, e ele diz isto num grande close-up, 'Acho que este é o meu melhor trabalho de sempre'."

Tarantino acrescenta que "Damiano era um realizador melhor do que isso", portanto a personagem de Burt Reynolds também deveria ter sido melhor. "Damiano era suficientemente bom para saber a diferença entre 'oh, este é o melhor filme que alguma vez fiz' e 'oh, este tem um bocadinho de história'. É uma fala baratucha porque a personagem saberia reconhecer a diferença, de que aquele trabalho não era o seu melhor."

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Apesar das críticas, realçamos novamente que Tarantino e o realizador de "Boogie Nights", Paul Thomas Anderson, são grandes amigos. Após o lançamento do filme em 1972, várias publicações compararam Anderson à era "Pulp Fiction" de Tarantino. Isso fez com que Anderson pegasse no telefone e ligasse ao realizador.

"Do nada, recebo esta chamada do género: 'Hei, sou o Paul Thomas Anderson. Nós já nos conhecemos antes, não sei se te recordas. Mas, sabes, está toda a gente a falar-me de ti e da tua carreira... Acho que está na altura de nos encontrarmos e falarmos para não haver nada de estranho entre nós'. Portanto, encontramo-nos, bebemos uns copos e somos grandes amigos desde então."