A configuração da casa de Maria Beatriz Figueira mudou muito desde maio: o sofá deixou de ter lugares, o closet passou a ser de acesso difícil, o seu quarto virou estúdio. Porquê? Flores, havia flores por todo o lado. Foi nesta altura que a comercial de 26 anos, formada em Relações Públicas e Comunicação Empresarial, deu uma reviravolta à sua vida: trocou o trabalho remoto com uma empresa canadiana de IT placement, onde julgou que iria ficar durante "longos anos", por um negócio próprio, daqueles que surgem porque a vida se encarrega de nos empurrar para lá.

Chama-se Oh, Maria, a loja de flores que começou por nascer online no Instagram, e que — em menos de cinco meses, depois de um verão de grande sucesso — acaba de ganhar um espaço físico na Avenida João Crisóstomo, em Lisboa. "Estava a ser difícil viver em casa", conta Maria Beatriz à MAGG.

oh maria
oh maria

Tudo começou durante o confinamento: Maria Beatriz celebrava, a 17 de maio, o primeiro aniversário sem o pai, que morrera em julho do ano anterior vítima de cancro — motivo que a fez regressar a Portugal, depois de dois anos a viver na Alemanha e a trabalhar para a Trivago. Foi ao Mercado da Ribeira comprar flores para, sozinha e pela primeira vez, compor os arranjos.

Não só conseguiu o presente, como, com o empurrão dos amigos, obteve resposta para aquela que é a million dollar question de muitos que querem trabalhar por conta própria e não sabem por onde começar: "Para que é que eu tenho jeito?".

Criou uma conta de Instagram, começou a publicar os seus trabalhos e a receber encomendas. Já faz ramos para noivas, já enfeita bolos de casamento, já celebra nascimentos, aniversários ou decora casas com as suas flores. Foi com a ajuda da mãe e dos amigos, que a foram incentivando e auxiliando nas mais diversas áreas, que chegou até aqui. Eles foram a sua inspiração. Literalmente. "Um ramo de flores é uma coisa muito pessoal. Os meus amigos e família eram as imagens que me inspiravam." É assim que nascem as suas primeiras composições, disponíveis tanto em loja, como no Instagram. De Natália, a Raquel, Inês ou Carolina, têm todas nome próprio, homenageando assim as musas que orientaram Maria Beatriz na sua construção. "Os secos têm nomes masculinos."

flores
flores

É pelo cuidado e brio que coloca em todos os pormenores — das etiquetas, à forma como se embala — que esta nova loja se distingue. Criada à semelhança da própria Maria Beatriz, é leve, fresca, terna e divertida, exatamente como os arranjos que dali saem. É pensada para quem sempre gostou de flores, mas tem uma missão mais ampla. "As pessoas mais novas não têm muito o hábito de comprar flores. Há muitas pessoas que são boas na arte floral, mas depois dá-se pouca atenção ao resto dos pormenores", diz. "Eu queria mostrar que as flores também podem ser uma cena cool e que tem espaço para toda a gente." 

Enquanto vamos falando, Maria Beatriz prepara um arranjo. A cliente aparece mesmo a tempo de estar concluído. Entra e fica maravilhada. Em inglês diz, "ela vai adorar", fazendo referência à amiga que celebra o aniversário naquele dia. Vai-se embora, com a promessa de voltar.

Não tarda a entrar na loja um dos grandes pilares deste negócio: Natália Figueira. Além de mãe, é também a diretora de logística da Oh, Maria. Trocando por miúdos, é quem entrega as flores aos clientes que encomendam. "Queria que me chamassem menina das entregas, mas diziam sempre senhora, portanto criei este cargo", conta, a rir.

OH MARIA
OH MARIA

Num primeiro momento, esta mãe ficou reticente quando Maria Beatriz lhe disse que estava a pensar desistir do seu trabalho para se dedicar exclusivamente às flores. Os tempos estavam particularmente difíceis, não andasse por aí um vírus que, além de infetar, haveria de começar a mexer com a economia. Mas, com o tempo a passar, com o volume de encomendas a aumentar, ficou convencida. É que, desde o início, a mãe, avó e antiga bancária não ficou a ver de fora. Ela participou ativamente: "Havia dias em que começava a fazer entregas às 9 horas e só terminava às 22 horas", lembra. "Houve outro dia em que acabei às 21 horas, mas entreguei 22 ramos."

Foi com uma promoção especial para celebrar o primeiro mês da marca, — na compra de um ramo de flores, oferecia um cone de lavanda e eucalipto — , que Maria Beatriz teve de tomar a decisão:. "Estava a chegar ao meu limite. E aí despedi-me."

oh maria
oh maria

O próximo passo, conta, é criar um site. Até lá, as flores Oh, Maria estão disponíveis online ou na novíssima loja localizada no número 89 da Avenida João Crisóstomo, em Lisboa. Não se preocupe, não vai ser difícil encontrar: a entrada e montra em vidro dão as boas-vindas com uma linda fila de rosas. Mas, antes disso, é capaz de notar o cheiro fresco das flores deste jardim, que floresceu porque o destino decidiu.